segunda-feira, 30 de junho de 2008

domingo, 29 de junho de 2008

Direto do cano

O orgasmo na masturbação pode nascer de estímulos concretos ou mentais. Também de uma mistura dos dois.

O orgasmo mais rápido que conheço vem de chuveiros com aquecimento a gás ou solar: soltando a peça que dilui a água em jatos leves, deixando um único fio grosso de água caindo direto do cano. Atingindo o clitoris, não é preciso mais que dois minutos. Totalmente físico: não é preciso pensar em nada. A água precisa ser morna, um morno-quente, digamos assim.

Orgasmos baseados em imagens mentais são mais demorados. É possível, a maconha ajuda, gozar apenas com o esforço da imaginação sem tocar nenhuma parte do corpo. Exercício difícil mas deixa a gente orgulhoso depois.

Uma vez fiz essa proposta a uma revista: pequenos textos técnicos sobre práticas sexuais que não encontro na imprensa em geral. Era uma revista feminina, não se encantaram com a idéia.

Pensei em fazer isso no blog, mas minha mãe às vezes lê, o que pode causar algum problema.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Com as costas

Hoje sonhei com meu professor de literatura. Estávamos na sala de aula, outros alunos saíam para o intervalo e nós ficamos sentados em carteiras perto da janela. Conversávamos de maneira pacífica e ele acariciava meu rosto. De leve, com as costas dos dedos. Eu também, talvez... não lembro se os gestos eram simétricos ou apenas a sensação.

Depois entramos num restaurante e ele encontrou outros professores numa mesa ao fundo. Foi até eles e fiquei esperando, insegura, com medo que não voltasse.

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Não havia nada sexual no sonho mas, quando acordada, às vezes há. Uma estranha excitação que se manifesta na virilha, inesperadamente, por sua origem intelectual. Não existe nada em seu corpo que eu admire especialmente. Mas diante dele sinto o instinto mental de competição que ao me afastar desce abaixo do zíper.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Meu nome

Me converti ao judaísmo quando casei e escolhi o nome de Haia, o nome da Clarice Lispector quando chegou ao Brasil, conforme os cadernos da literatura brasileira do IMS.

Tentei estudar hebraico por um tempo, mas é quase impossível para mim pronunciar todas as variações de "r" aspirado que se usa hoje em Israel.

Encontrei uma israelense numa palestra da Livraria da Vila. Falei do meu nome a ela e da homenagem à Clarice, que era sua escritora brasileira preferida.

Mas ela não entendeu. Tive que repetir várias vezes, e a cada pronúncia aproximada ela entendia uma palavra diferente, com sentidos quase opostos.

Finalmente ela entendeu. Era o mais simples, que não sei transcrever. A forma feminina da palavra que todos bordam nos kipot distribuídos nos casamentos.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Um pedido real

Estou procurando uma nova psicóloga, terapeuta, psicanalista ou algo aproximado. Quero encontrar alguém inteligente que não cobre muito caro; posso pagar no máximo R$ 100 por sessão. A princípio prefiro uma mulher, para não criar constrangimento em assuntos íntimos. Mas essa condição não é tão fixa.

A linha de tratamento não é importante.

Principalmente, procuro alguém que não solte lugares-comuns: "você precisa melhorar sua auto-estima", "um livro é como um filho", "procure ter imagens mais positivas de você mesma".

Uma pessoa que tenho a memória mínima para não repetir as mesas frases em várias sessões seguidas.

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Isso não é um texto literário, é um pedido real.

Quem tiver alguma indicação, por favor me escreva.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Dostoiévski para os Pobres

Uma amiga escreveu um texto ótimo com o título acima. Inclusive o "pobres" em caixa alta, o que me parece justo.

http://extraeordinario.blogspot.com/

Um afeto que termina

Estou quase terminando o livro. O final ficou tão triste que eu também estou meio triste. Sei que as cenas isoladas não fazem muito sentido, mas segue um trecho:

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"A lembrança de Juliana me voltava de vez em quando, descendo o elevador no prédio de Paula, no fim da tarde. Eu atravessa o jardim em direção à nossa portaria e pensava em bater à sua porta. Mas sua presença agora estava indissoluvelmente ligada à imagem de minha mãe chorando e por isso, acredito, nunca voltei a procurá-la. Subia direto pelas escadas com medo de encontrá-la por acaso. Tinha saudades de tomar lanche em sua casa. A cozinha de seu apartamento, as mãos de sua mãe cortando o pão ao meio e passando margarina. Tudo se trasformou numa memória de paz e carinho internamente insuportável.


Não me lembro exatamente, mas acho que sim. Foi nesse período que Diego começou a montar carrinhos de Hering Rasti. Sentava no chão ao pé do sofá, ficava horas separando peças, ordenando cores, encaixando, desmontando e reencaixando blocos de plástico. Eu entrava na sala e encontrava a mãe diante da televisão, Diego no chão, os dois em silêncio. Cena comum em teoria, mas eu me sentia repentinamente sozinha.

Parada entre a mesa e o sofá, em pé olhando pra eles, eu percebia como terrível novidade a distância física entre nós: a distância física que realmente existia. Os poucos metros que nos separavam pareciam finalmente metros reais, visíveis, como se o espaço fosse maciço e eu pudesse senti-lo materialmente."

sábado, 21 de junho de 2008

Deslocamentos

Ah, não é tão complicado. Se for, estou entendendo errado. Porque vejo de modo simples.

Por exemplo, no conto "Suje-se gordo!", do livro "Relíquias de casa velha". O título já tem um desvio gramatical. Não se trata de uma ordem a um gordo... (suje-se - vírgula - gordo). É um conselho para se sujar bastante, o equivalente a "suje-se de verdade!" (o conto se passa num tribunal; o jurado acusa o réu de roubar mixaria; se é para sujar-se, ele diz, suje-se gordo!)

A narrativa também tem uns desvios... antes de apresentar detalhadamente o réu e o jurado que solta a pérola acima, o narrador gasta algumas linhas para mencionar a família do advogado de defesa, que vai assistir ao julgamento porque é o primeiro trabalho do jovem. Logo depois, emocionados que estamos com "parentes, colegas e amigos" do rapaz, a sequência tem uma ruptura brusca:

"O discurso foi admirável, e teria salvo o réu, se ele pudesse ser salvo, mas o crime metia-se pelos olhos dentro. O advogado morreu dous anos depois, em 1865. Quem sabe o que se perdeu nele!"

O texto cria uma expectativa sobre o advogado para em seguida matá-lo, sendo que isso não altera em nada o núcleo do conto, que é o jurado. A narração faz um desvio para falar do advogado.

Por último, um exemplo de deslocamento na frase:

"Também ele ouvia, mas com o rosto alto, mirando o escrivão, o presidente, o teto e as pessoas que o iam julgar; entre elas eu."

Bem... estritamente, para que a narrativa funcione, é suficiente dizer que o réu olhava as pessoas que o julgavam. Ele não precisaria olhar "o teto". Esse detalhe banal quebra a frase, que fica menos cerimonial, e melhor, na minha opinião.

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Ah, acho que é isso.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

A pedidos

Sobre "obras prontas".

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Bem, a princípio, todas as obras publicadas estão prontas. O que me incomoda é um estilo lapidado demais, em que não sobra espaço para o erro e o "caco", como dizem os atores.

Se toda a trama se fecha, se toda característica e ação dos personagens são funcionais quanto ao tema e o enredo, se não há nenhuma frase solta que indique uma idéia alheia ao que está sendo narrado em primeiro plano... bem, isso às vezes me coloca a certa distância.

Quando permanecem algumas imprecisões, minha atenção desperta. O olhar vai diretamente para o desvio.

O professor disse o seguinte: a linguagem do M.A. tem muitos deslocamentos, na narrativa e no detalhe das frases. Esses deslocamentos causam vazios, ou seja, o texto cria lapsos que ficam sem explicação no próprio texto. São os vazios que pedem interpretação. Ou o contrário: nós não podemos tolerar o vazio. Somos impelidos a interpretar.

Gosto disso.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Encontro com Machado

Ontem foi minha última aula sobre M.A., obra e crítica.

Aprendi muitas coisas mas, se tivesse que escolher, o essencial seria: uma espécie de amor que comecei a sentir. Por seu trabalho, que antes considerava distante.

Veio principalmente da leitura das crônicas e contos que eu praticamente desconhecia. Porque em vários escritores admiro acima de tudo os textos menos prontos. Como Mário de Andrade... não gostei de seus contos quando li. Macunaíma é maravilhoso mas está excluído da minha lista de influências, na gaveta com Guimarães Rosa e qualquer folclore ou regionalismo. (sinto muito mas nasci num condomínio, chão de terra é muito estranho para mim)

Tenho uma lista de escritores de que prefiro as cartas ou cronicas à obra pronta. Caio Fernando, Olavo Bilac...

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Ah, principalmente porque: não gosto de "obras prontas".

terça-feira, 17 de junho de 2008

Bolachas com maionese

Eu queria comentar a revisão com mais detalhes, como fazia no começo do blog. Mas o livro está quase pronto e estou com pressa de acabar.

Um trecho sobre a amiga loira:

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"De início eu não soube reagir aos novos comentários de Paula, ela dizia coisas que nunca imaginei em sua boca. Eu havia sonhado, na segunda-série, que torturava nossa professora numa espécie de inferno. Era uma professora que adorávamos, o sonho me deixou surpresa mas de certo modo orgulhosa. Eu gostava de ser má. Esperaria de mim mesma algum interesse malicioso por sexo mas não tinha noção, até aquele momento, do quanto era cerebral e rasa nessas questões. Paula falava de azeitonas, depois pedia para sua mãe fazer o lanche. Ela passava requeijão na bolacha doce mas às vezes tinha vontade de comer maionese.

- É gostoso, experimenta - ela dizia.

Paula espalhava uma camada fina de maionese na bolacha de coco. Na frente, havia o desenho de uma cabana e uma palmeira. Eram bolachas retangulares. Bolachas doces não combinam com maionese de jeito nenhum e aquilo tudo me parecia obsceno."

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Monory

Quadro de Jacques Monory, mencionado no post abaixo.

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Me interesso por qualquer proposta que defenda o figurativo.



Des malassis

Trecho da coluna de Jorge Coli (caderno Mais, FSP, 14/06)

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A falta que a figura faz


(...)

Foi aí por volta de 1965. A aventura continuou por uns 15 anos. Hegemônica no pós-guerra, a abstração entrara em crise. Surgia então em Paris a "figuração narrativa". Reunia artistas que faziam quadros com personagens, coisas reconhecíveis, e reivindicavam para a arte uma visão política insubmissa. Eram escolhas arriscadas.

Primeiro, reafirmar a pintura quando a pop art trazia de volta a era dos ready-made. Depois, impor imagens bem trabalhadas, quando as abstrações diversas pareciam ter dado um xeque-mate nelas.

Enfim, ecoavam ainda as tristes polêmicas impostas pela figuração ideologicamente submissa do realismo socialista aos artistas próximos do Partido Comunista. Sem contar as lembranças do uso assustador que os outros regimes totalitários haviam feito das artes. Era consenso, então, que uma pintura política deveria, por força, cheirar mal.

(...)

Fromanger toma a rua como lugar da história e fez filmes com Jean-Luc Godard. Rancillac acusa as ditaduras. Monory cria pesadelos monocromáticos.

A esses franceses associaram-se estrangeiros. Adami, italiano, decompõe e imobiliza os seres de maneira trágica; Erró, islandês, torna-se uma das estrelas do grupo. Havia ainda Fahlström [1928-76], sueco nascido em São Paulo, Klasen, alemão de Lübeck, Peter Saul, californiano, Stämpfli, suíço, muito brilhantes, todos.

Alguns ideavam uma pintura coletiva e inventaram a Cooperativa dos Mal-Sentados ("des malassis"), animada sobretudo por Henri Cueco, e a Equipo Crónica, composta pelos espanhóis Valdés e Solbes.

A posteridade lhes foi desdenhosa. O mundinho das bienais, do mercado, do jornalismo pôs no limbo esses artistas incômodos.

Em Paris, no Grand Palais [até 13 de julho], montou-se agora uma retrospectiva da figuração narrativa, que vai até o ano de 1972, como se depois seus artistas não existissem mais. Ao menos, tornou visível telas poderosas, amplas, cheias de impacto, ferozes com a história de seu tempo.

"Diálogos com meu Jardineiro", filme recente de Jean Becker, inspirou-se num romance de Cueco. Traz uma nostalgia fiel à prática figurativa e à pintura social.

A exposição de Paris está meio às moscas. Ao lado, no mesmo edifício, há outra mostra: "Maria Antonieta". Anda apinhada. Nela se vê a cadeira em que a soberana pôs, pela última vez, seu real bumbum.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Pulsos magros

Comi uma fatia de mamão às cinco da tarde, fruta que odeio, num horário em que tenho fome.

Agora vou caminhar apesar preguiça. Coloquei duas pulseiras no braço e três anéis nos dedos. Prometi a mim mesma que não tiro até emagrecer um pouco.

Não me importa a moda, nem os padrões publicitários, nem o que pensam os torcedores de futebol e as frequentadoras do Iguatemi.

Mas eu tenho uma alma de Sigourney Weaver... aristocrata, que não sou, e magra, que também não.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Uma palestra

Esse é o convite da leitura de novos textos que vamos fazer no sábado.
Quem puder, apareça!

terça-feira, 10 de junho de 2008

Finalmente

Consegui fazer o upload. O problema era alguma incompatibilidade de antivirus.


Meu cabrito

Meu marido é uma figura, gosto de usar as idéias dele. Mas estou enjoada de dizer "meu marido" porque parece dona de casa antiga, dizendo a toda hora "meu marido isso", "meu marido aquilo".

Pensei em dizer "fofinho" mas ele não gosta de diminutivos. Depois, procurando uma palavra mais neutra, pensei em "cabrito". Será que ele vai se ofender? Esse animal tem alguma conotação negativa? Alguns homens chamam assim suas mulheres, "minha cabrita". Dá uma idéia de agilidade, acho. Também lembra "cabra macho".

Bem, por hora vai, cabrito.

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Tudo isso para dizer que hoje usei no meu livro uma expressão dele que adoro: "passar recibo".

Segue o parágrafo:

"Eu pensava que era muito esperta, mas não conseguia cercar Juliana. Eram minhas últimas horas ali, eu queria descobrir o máximo possível, se o namorado era negro ou branco, se a irmã iria casar com o patrão como a mãe dela casou, se Juliana queria mudar para São Paulo para também pegar um namorado branco e mudar para um condomínio e ser a dona da casa. Não podia obviamente dizer essas coisas, então dava voltas, falava de cabelos curtos e lisos, o que fosse. Mas ela não dava nenhuma pista, era impressionate. Menina dura: não passava recibo."

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Sobre "O afeto"

Às vezes me espanto com a redundância na primeira versão desse texto. Também um excesso de detalhes, que confundem em vez de esclarecer. Provavelmente é reflexo de meu esforço de memória (foi muito difícil relembrar claramente meu colégio de infância). De todo modo, me espanta. Porque eu já revisei esse texto uma vez e não percebi.

Por exemplo:

Versão 1:
"A aula de natação era separada entre os alunos que sabiam nadar, na parte funda da piscina, e aqueles que não sabiam na parte rasa. As meninas vinham com o maiô vestido debaixo do uniforme, o decote aparecia por debaixo da camiseta. As duas quintas-séries desciam juntas para a piscina. Havia dois vestiários, para meninos e meninas. O chão era coberto de tiras de madeira, que já estavam molhadas quando chegávamos. Entrávamos todas com a calça vermelha do uniforme, e camiseta branca. As meninas se espalhavam pelos bancos de madeira conforme seu grupo de amigas. Algumas demoravam muito tempo para desamarrar o cadarço. Dobravam as meias, tomavam muito cuidado para passar a gola pelas presilhas e rabos de cavalo. Não olhavam para ninguém enquanto se despiam.

Paula tirava a roupa sentada, enquanto Cíntia, em pé, soltava os vários elásticos que tinha no cabelo, falando e gesticulando muito. Cíntia tinha a pele bronzeada, os cabelos longos e lisos com reflexos claros do excesso de sol. Tinha lábios grossos e usava brilho incolor - sua boca estava sempre úmida, dava enormes gargalhadas e chamava com grandes gestos as amigas à sua volta, para repetir uma coisa engraçada que tinha pensado."

Versão de hoje:
"As duas quintas-séries desciam juntas para a piscina. As meninas vinham com o maiô debaixo do uniforme, era um maiô azul-escuro que aparecia pela camiseta branca. Havia dois vestiários, para meninos e meninas. O chão era coberto de tiras de madeira, que já estavam molhadas quando chegávamos. Entrávamos todas com nosso uniformes vermelhos, as meninas se espalhavam pelos bancos de madeira e começavam a desamarrar o cadarço, dobrar as meias, tirar presilhas e elásticos dos cabelos.

Algumas meninas ficavam envergonhadas no vestiário, outras, pelo contrário, se exibiam com orgulho. Paula era discreta, nem muito tímida nem à vontade demais. Cíntia era sempre a mais animada: se arrumava em pé, falando e gesticulando muito. Sua pele bronzeada, cabelos longos com reflexos claros do excesso de sol. Lábios grossos com brilho de "efeito úmido", dava enormes gargalhadas e chamava as amigas à sua volta, com grandes gestos, para repetir uma coisa engraçada que tivesse dito."

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Ao meio-dia

Tentei postar um desenho do meu pai, mas meu computador não está fazendo upload de arquivos.

Mistério completo.

Bem, segue o link do blog dele:

http://www.lapiseirapaint.com/

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Na fronteira

Acho que nunca expliquei o nome desse blog.

A imagem vem de uma cena que nem escrevi, que seria o título de um livro que apenas comecei.

Um casal viaja pelo interior de Minas Gerais. A moça está de regime e leva um pacote de Limas da Pérsia, a fruta mais leve e menos calórica segundo uma lista de alimentos que ela copiou de uma amiga.

Ela descasca a fruta amarela e joga as cascas pela janela. É uma estrada estreita entre pequenos sítios, faz sol.

O regime e os detalhes banais são apenas um disfarce de realismo.

A segredo está na vastidão: viajar de carro, num lugar sem importância, com alguém querido e a luz do sol e uma fruta de cheiro leve e nome oriental.


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Tom Zé tem uma música mais ou menos assim (sobre a mulher):

"Quero ali na fronteira / do tato e do tempo / estar nua no vazio"

terça-feira, 3 de junho de 2008

Ela era boazinha

Mudei umas frases no primeiro capítulo, senão o discurso da narradora perderia o nexo. Um pouco de ironia sobre a psicóloga que a atende no início do livro. Resolvi que o homem no começo é um caso extraconjugal. Antes apenes ele era casado. Agora ela também. Tem um marido razoavelmente rico, dirige carros automáticos, é uma intelectual de respeito. A psicóloga acha tudo isso lindo... nada específico contra essa classe profissional, mas, enfim.

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"Não consegui voltar a dormir, e com alguns pensamentos soltos lembrei de minha última conversa com a psicóloga, quase um ano atrás. Imaginei seu espanto diante desse sonho. Ainda guardava sua imagem quando falei que não iria mais voltar. Seus olhos tristes e talvez quase chorosos. Sim, chorosos, e a sensação incômoda de que me admirava mais do que devia. Escolhi uma psicóloga boazinha e agora não a podia suportar."


"Talvez eu estivesse errada quando decidi interromper o tratamento com a psicóloga. Ela era boazinha mas parecia inteligente. Poderia talvez interpretar alguma coisa."


"Não era psicanalista, eu não teria paciência para isso. Seguia a linha americana e às vezes ela improvisava brincadeiras."


"Pensei em responder mas não falei nada. Parecia óbvio e não quis ser agressiva. Havia realmente o muro, havia a grade. Se era simbólico, se a grade significava qualquer coisa que eu não percebia, o que eu poderia fazer? Uma grade tem sentido evidente e não sei se os psicólogos se interessam por isso. Desenhei o que estava lá. Era o que eu via."

segunda-feira, 2 de junho de 2008

De um jeito ou de outro

Mais um pouco de crueldade na narradora:

"Observava sua mão conforme ela desenhava. Sua pele era escura por fora e clara na palma. Suas unhas longas e finas, diferentes das minhas, arredondadas. Eram unhas de mulher adulta, eu pensava. Ela ficava sentada com as pernas cruzadas e o caderno apoiado na coxa direita. Eu observava seu joelho magro, os tornozelos encaixados. Sua mãe batia na porta e entrava no quarto para oferecer bolachas. Rosquinhas cobertas de açúcar que eu não comia em casa de jeito nenhum. A mãe às vezes tentava comprar essa marca mais barata - "bolacha é tudo igual", ela dizia. Mas eu desprezava aquele pacote grande e transparente, bolachas soltas como na feira. Na casa da avó, ela me obrigava a comer: “Tua avó não tem dinheiro", dizia - "Não seja nojenta”. A mãe de Juliana estendia o prato. Era quase fim da tarde e estava com fome. Mastigava a bolacha conformada.

Juliana não comia. Sua mãe deixava o quarto. Passávamos a tarde num silêncio totalmente estranho para mim. Mas eu insistia, porque não queria voltar para casa e ficar sozinha. Além do mais, de um jeito ou de outro, eu estava sendo sua amiga.


A mãe ficava satisfeita quando eu ia à casa de Juliana. “Esta menina faz bem a você”, dizia. “Você está mais calma, mais madura”. Eu estava calma, segundo acreditava minha mãe, porque não falava tanto como antes. O que eu iria falar? Que Paula não me olhava mais na cara, que minha nova amiga era praticamente muda, que eu era obrigada a comer rosquinhas de feira? Ela não percebia nada e insistia nesses elogios descabidos. “Você fica mais bonita quando está calma”. “Não gosto quando você faz caretas como uma histérica.”