domingo, 29 de março de 2009

Política em 1 lição

Aprendi basicamente tudo o que é necessário saber sobre mídia no colegial. Meu pai queria que eu gostasse do rock e me fez uma assinatura da revista Bizz. Na época era dirigida pelo André Forastieri, que virou meu ídolo de adolescência. Meu pai tadinho permaneceu frustrado, porque eu lia a revista mas o rock propriamente nunca me entusiasmou. Até gostava de ler sobre o movimento punk e etc, mas não tenho angústia suficiente para incorporar certas músicas aos meus hábitos.

De todo modo, aprendi muito com a revista - foi o primeiro lugar onde percebi, por exemplo, que o homossexualismo existia de fato, e não era apenas um tema cuja sugestão tinha o poder infalível de fazer a classe média rir.

Lá também saiu uma reportagem sobre a áurea fase da MPB em que alguém pensou: por que não pegar um carinha qualquer, inventar um nome artístico que pareça estrangeiro, escrever umas músicas em inglês e lançar no Brasil como se fosse música americana? Se o fenômeno envolveu todas as gravadoras, isso não lembro. Mas a grande sacada deve ter vindo da Som Livre, porque o negócio de trilhas de novela era uma mina de ouro nessa época.

Enfim: quem já viu o clip de Feelings, com Morris Albert em calça boca-de-sino caminhando entre os eucaliptos do parque Ibirapuera tentando sugerir um bosque no hemisfério norte, sabe que o mundo não é sério.

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Digo isso somente pra situar um eventual desavisado e enfim dizer que a Nina Simone é tão inacreditável que prefiro não me limitar a um adjetivo.

Assistam o que ela faz com Feelings nesse vídeo. Meu-deus-do-céu.

Tudo o que é preciso saber sobre política e arte está aí.

Ifigênia em Aulis

Ontem fui à Sta. Ifigênia e comprei uma caixa de som com meu próprio microfone!

Ok, o motivo não é muito heróico: minha voz é ridiculamente fina e preciso de auxílio eletrônico para enfrentar o entusiasmo juvenil de meus alunos na sala de aula.

Mas a caixa tem entrada pra guitarra e mesmo que eu não toque e não tenha um mínimo talento que me traga a ilusão de que um dia eu possa aprender - ah, fiquei tão orgulhosa!





sábado, 28 de março de 2009

Tia Eulália na Xiba

Tia Eulália Na Xiba
Composição: Cláudio Jorge/Nei Lopes

Já meio cambaia de tanta batalha
Já meio grisalha de tanto sereno
No colo moreno, escondendo a navalha
Chegou tia Eulália sondando o terreno

Veio, no calcanha, de além paraíba
Dançando uma xiba, arrastando a sandália
Enrolando o xale e a saia pra riba
Separando briga de nego canalha...

Lêlê abre a roda, olalá
Que eu quero ver tia eElália dançar

A voz clementina já bastante rouca
É uma coisa louca a sinhá tia Eulália
Cigarro de palha no canto da boca
Não dorme de touca e nunca se atrapalha

Ela é veterana da guerra da Itália
Mas inda estraçalha no bolimbolacho
Quando bole em baixo tá com tudo em riba
Quando cai na xiba, a casa vem abaixo...

Lêlê abre a roda, olalá
Que eu quero ver tia Eulália dançar

sexta-feira, 27 de março de 2009

Zéquinha nostálgico

Se alguém me perguntasse aos dezoito anos o que, dentre todas as coisas e fatos do mundo, eu considerava MAIS IMPROVÁVEL de acontecer comigo - além naturalmente de casar numa cerimônia judaica e ter uma certidão onde consta "casamento religioso com validade civil" - eu diria: sentir saudades de Curitiba.

Mas, como diz a sabedoria popular, o impossível acontece.

E aconteceu ontem, diante da TV, no sofá desta mesma casa onde moro, quando inesperadamente o controle remoto me conduziu pelos mistérios da tecnologia até um documentário sobre as balas Zequinha.

Pena que agora é sexta à noite e não vou ficar aqui escrevendo sobre isso.

Seguem apenas algumas imagens, e o texto de um blog, para quem - entre tantas pessoas perdidas nesse mundo - puder se interessar.





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VOCÊ CONHECE O ZEQUINHA?, por Anthony Leahy

A fábrica de doces "A Brandinha" foi fundada na década de 1920, por quatro irmãos poloneses - Francisco, João, Antônio e Eduardo Sobania - que idealizaram e lançaram, em 1929, as Balas Zequinha, onde as balas eram embrulhadas em um papel com o desenho de um palhaço exercendo as mais diversas profissões e situações.

Inicialmente foi desenhada uma série de 30 figurinhas e posteriormente expandido até 50, pelo desenhista Alberto Thiele da Impressora Paranaense, na forma de palhaço careca, de boca aumentada pela maquiagem, gravata borboleta e sapatos tipo lancha. Virou figurinha-papel de bala, sob inspiração da balas Piolim, que eram embrulhadas em caricaturas do palhaço paulista Piolim. Somente quando Paulo Carlos Rohrbach assume a responsabilidade do desenho é que a coleção passa a ter 200 figurinhas.

Em 1948 foi vendida aos irmãos Francheschi (Franceschi & Cia Ltda, de Romar e Radi Franceschi) e, posteriormente, em 1955, assume a fábrica Elisio Gabardo e Plácido Massochetto.

Em 1967 Zigmundo Zavatski compra o direito da marca e a relança. Em 1986, a J. J. Promoções, de Jeferson Zavatski e João Iensen, recomeça a explorar a marca "Balas Zequinha", oferecendo pacotes de figurinhas com as figurinhas do Zequinha junto com doces, já para preencher álbum próprio.

Apesar dos diversos proprietários, o personagem Zequinha - o mais curitibano de todos os piás - resistiu ao tempo tornando-se um dos grandes ícones paranaense do Século XX.

Em 1979 , o Governo do Paraná lança a campanha do clube do Zequinha , para melhorar a arrecadação de ICM, com algumas figuras já adaptadas aos novos tempos (ecologia, trânsito, etc). Foi feita uma releitura do visual do personagem, mordernizando-o, mas sem ofender o conceito original.

Mais informações aqui e aqui.

segunda-feira, 23 de março de 2009

De encantadora sensibilidade

Ontem à noite conversamos sobre travessões, ponto e vírgula, O vermelho e o negro e O tempo redescoberto.

Segue um trecho, para minha amiga Simone:

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"Para ter sido aplaudida, a atriz deve sem dúvida ter feito alguma paráfrase de La Fontaine", pensava a pobre senhora. Ora, Gilberte, até então impassível, reforçou-lhe sem querer essa idéia, pois, não gostando de Rachel e querendo significar que a tal interpretação pouco restava da fábula, exprimiu-se com a sutileza do pai, que deixava em suspenso as pessoas ingênuas. Habitualmente, mais tocada pelo modernismo, embora filha de Swann - como pato chocado por galinha -, adotava a maneira dos poetas lakistas e se limitava a dizer: "Foi tocante, de encantadora sensibilidade". Mas à sra. de Morenval respondeu com a fantasia de Swann, desorientadora para quem toma tudo ao pé da letra: "Um quarto é invenção da intérprete, um quarto loucura, um quarto sem sentido, e o resto de La Fontaine", o que induziu a outra a afirmar que não se ouvira Lex deux pigeons, de La Fontaine, e sim uma adaptação, da qual quando muito uma quarta parta seria de La Fontaine, o que, dada a extraordinária ignorância do público, a ninguém espantou."

(O tempo redescoberto, tradução Lúcia Miguel Pereira, editora Globo, p. 255)

sexta-feira, 20 de março de 2009

Fantasma no poço

Nada erudito da minha parte, mas não consegui resistir a esse blog com supostas fotos de fantasmas. Não esqueço um episódio de TV que assisti pequena, talvez já tenha comentado aqui.

Um garoto se mudava para uma casa de fazenda. Num galpão ele encontrava o fantasma de uma criança, a alma triste de uma menina que morreu caindo num poço e durante a queda e perdeu a boneca. O menino descia no poço e recuperava a boneca, para que o fantasma pudesse descansar.

Mais que o final feliz, me marcou a imagem sobreposta do poço com o corpo da menina, desaparecendo no fundo em espiral.

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Uma notícia no site Terra explica a pesquisa de um psicólogo.

Aqui aparecem as fotos para quem se interessar.

quarta-feira, 18 de março de 2009

terça-feira, 17 de março de 2009

Minhocultura

Ontem, no ônibus da Azul Linhas Aéreas que traz passageiros do aeroporto de Viracopos para o shopping Villa-Lobos em São Paulo, tive idéias ambiciosas sobre literatura.

Ao chegar em casa, as idéias se acomodaram numa forma mais discreta.

Hoje amanheci com gripe a me dediquei a assuntos pendendes: uma encomenda de produtos de limpeza biodegradáveis, que paguei mas não chegou.

E a compra de uma composteira para o quintal. Produzida por uma ONG de Brasília, que não respondeu ao meu primeiro e-mail.

Liguei pelo Skype para a moça cujo telefone aparece no site. Ela atendeu e fiquei confiante que tal ONG realmente exista.

Espero então a minha composteira.

domingo, 15 de março de 2009

Eu gosto muito da Françoise Melun

Assisti hoje a uma peça muito bonita, no teatro Zé Maria Santos, em Curitiba.

A montagem está há alguns anos em cartaz, em curtas temporadas pelo Brasil. O texto se chama Suíte 1, do dramaturgo francês Philippe Minyana.

Foi montado pela Companhia Brasileira de Teatro, de Curitiba. Direção de Marcio Abreu, com Ranieri Gonzalez, Christiane de Macedo, Chris Gomes, Giovana Soar, Nadja Naira e Thais Tedesco.

O texto é lindo. Vou transcrever uns trechos nos próximos dias.




quarta-feira, 11 de março de 2009

Cuidado com suas converças

Aiai. Vejam o título desse spam, recebido de josegeovanildes@uol.com.br:

"Toma cuidado com sua converças no MSN."

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Não uso o MSN. Mas realmente tomarei muito cuidado.

Mão na luva

Fui assistir à montagem de Mão na luva pelo grupo de estudos do Grupo Tapa. Meu impulso era quase burocrático, já que o Vianinha foi um autor importante no período que estou estudando. Gosto dele, mas esse texto especificamente não me atraía.

E fui tomada, de surpresa, pela sedução corporal dos dois atores.

É estranho acreditar nos atores, mesmo desconfiando do texto.

Procurei alguma foto que transmitisse a sensação. Não encontrei totalmente. Esse homem deitado. As roupas pretas. Uma existência anterior à ironia.



domingo, 8 de março de 2009

Sem réplica nem discussão

Os livros que trouxe do Paraguai me causam medo. Depois do catolicismo militante de Teresa Lamas, agora encontro frases assustadoras na correspondência de Gabriel Casaccia, que, segundo a orelha, seria o fundador da narrativa paraguaia contemporânea.

Logo na primeira carta escrita ao irmão, em janeiro de 1937, ele diz:

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"Te decía, pues, que había leído tres libros interesantes e importantes. Hay tan pocos libros importantes hoy en día... El tercero, y que hace poco lo terminé, es El cristianismo y el problema del comunismo, de Bardiaeff... Un libro profundo y penetrante, en que se exponen con amplitud, valor, serenidad y hondo conocimiento el hecho social de hoy y los problemas espirituales que él acarrea...

Por un lado una crítica, rica de información y hallazgos, del comunismo, demostrando su falta de espiritualidad, su desprecio de la personalidad humana... Y, por otro, el ensalzamiento del cristianismo, el reconocimento de que en su doctrina sólo se halla el respeto al hombre y a su conciencia, de que sólo en sus principios y práctica el hombre se diviniza y encuentra el ambiente propicio para cultivar y perfeccionar su vida.

Es un libro valiente, en el cual se dejan oír verdades que no admiten la réplica nin la discusión, sino la acción. 'Contra el comunismo materialista integral - dice - no cabe más que suscitar el cristianismo integral... Todo el porvenir de las sociedades cristianas depende de saber si el cristianismo, o, más exactamente, si los cristianos rechazarán el apoyo del capitalismo y de una sociedad injusta: si la humanidad cristiana ensayará en nombre de Dios y de Cristo el aplicar la verdad, que los comunistas realizam en nombre de una colectividad atea, en nombre del paraíso terrenal."

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Lembro da tenda onde comprei o livro, no canto de uma praça arborizada em Assunción. Na lateral dizia "literatura paraguaia". Pensei que era um ponto de venda de livros universitários.

Minha dúvida agora é: era uma tenda de livros católicos, embora nenhuma placa indicasse, ou essa é mesmo a literatura paraguaia?

sexta-feira, 6 de março de 2009

Votem em mim!

Está aberta na internet a votação para o Prêmio Fiesp do Cinema Paulista.

Estou concorrendo com o roteiro do desenho-animado "Garoto Cósmico", do querido Alê Abreu.

Quem estiver animado, por favor, vote em nosso lindo filme!

É fácil, não precisa fazer inscrição nem nada.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Apenas uma desculpa

É curioso escrever um conto ao modo tradicional, linear e narrativo. Durante muito tempo resisti a isso. Achava que a narrativa era uma "obrigação" e uma "amarra". Uma colega minha de mestrado, muito criativa e inteligente, sorria com meus comentários. "A narrativa é apenas uma desculpa", ela dizia.

Acreditei nela, mais foi difícil incluir a crença em meus hábitos. Difícil explicar a cadeia de sentimentos revoltosos: "por que fazer uma historia clara e bem amarrada? para agradar os outros? pra me conformar ao que os outros querem ler? mas por que eu deveria fazer isso?".

As melhores lições acontecem por tentativa e erro. Com o passar do tempo, foi brotando um espírito classicista em mim. A convenção me parece às vezes o único caminho de liberdade - variações sobre o mesmo tema, como música, pintura. Sem a convenção, como variar?

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Adoro o título de Harold Brodkey, também usado na coletânea brasileira: "Uma historia ao modo quase clássico".


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"Uma opção óbvia seria contar para Letícia, a mãe da Rafa. Afinal tínhamos dezenove anos e o direito teórico de namorar no quarto. Essa era minha opinião, não exatamente compartilhada.

- Quando você contar pra sua mãe, eu conto pra minha - era o que Rafa dizia.
- Você quer transar na casa dela? São oito horas de ônibus.

Rafa se irritava, discutíamos e ela passava dias sem me ligar. Eu também não ligava a cada briga, só alternadamente. Não queria ser sempre a primeira a pedir desculpas. Me concentrava nessa contabilidade para manter um mínimo de orgulho, mas minha dignidade não era sólida o suficiente para resistir às promesssas de bebida e elogios gratuitos que às vezes apareciam. Eu desconfiava que os senhores elegantes ofereciam seus mimos pela minha aparência geral de juventude, não por meu conteúdo específico. Queria ser uma lésbica militante e resistir ao conforto fácil, mas era pobre e carente demais pra isso."