sábado, 28 de maio de 2011

Hábitos de televisão

Tenho assistido ao canal japonês para descansar depois do almoço. Nos canais estrangeiros, noto a diferença de edição, fotografia, trilha sonora.

O canal japonês lembra o canal francês, com pouca e discreta trilha musical. Não se destacam vinhetas e efeitos eletrônicos. Há muitas reportagens editadas em ritmo lento, como antigos documentários de vida selvagem. Muitas cenas ao ar livre, às margens do mar e dos lagos.

Não entendo japonês. As pessoas falam baixo, em ritmo constante. Fecho os olhos e me concentro no som, fico assim uns vinte minutos. Sem o som baixo e monótono, é difícil escapar dos pensamentos cotidianos.

Tenho assistido a shows musicais, o que raramente fazia. Por causa do meu sobrinho, passo mais noites em casa. Se quero sair e não saio, um programa narrativo é fraca substituição. Não alegra, não descontrai. Humor e música criam a leve ilusão de falar bobagem e aproveitar a noite.

Desde a mudança, tenho apenas uma antiga TV de 24 polegadas, de tubo. Durante anos assisti a uma enorme TV de LCD. Para assistir a filmes em DVD, o aparelho digital era melhor. Mas para a televisão pura e simples, a televisão que chega em fluxo contínuo à moda antiga, prefiro o aparelho de tubo.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Fundíssimo do baú

Este blog anda abandonado. Ando sem tempo ou cabeça pra escrever. Então, procurei meus arquivos antigos.

Quando troco de computador, gravo as pastas da memória numa nova pasta, que chamo "antigos". Desde meu primeiro computador, em 1997, foram poucas trocas. São cinco degraus. O primeiro é um disquete chamado "1996", em que estão meus trabalhos no último ano da faculdade. Antes disso eu escrevia em máquina de escrever. Em 1996, comprei um disquete de 1,44 MB e digitava no computador da faculdade.

Este é o trabalho de uma disciplina optativa no curso de Editoração, chamada "Edição de livros populares". O professor convidado era o editor Jiro Takahashi.

Mantive o texto original, não alterei nada. E me pergunto de onde tirei as mulheres que cito como exemplo.

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EDIÇÃO DE LIVROS POPULARES

prof: Jiro Takahashi

aluna: Sabina Anzuategui

novembro/96



Trabalho Final:

"Proposta para uma versão moderna da Biblioteca das Moças"



1. Introdução

Eu gosto muito de escrever, e as coisas que eu escrevo às vezes eu chamo de neo-feministas, meio ironicamente, na falta de um termo melhor. É talvez duvidoso tomar uma opinião minha como válida para todas as mulheres, mas se eu quero ser escritora é justamente pra filtrar os sentimentos e idéias que pairam no mundo - e, desses, os que mais me interessam são justamente os que dizem respeito às mulheres.

Esse "neo-feminismo" seria o que restou das idéias objetivas do feminismo (independência financeira, investimento na profissão, direitos iguais) misturado com algo que ele não conseguiu apagar, que é o lado "sentimental" da mulher. Isso tudo é muito delicado pra ser escrito, porque corre sempre o risco de parecer preconceituoso: mas não há dúvida que, do ponto de vista de consumo de bens culturais, as mulheres formam um público definido, diferente do público masculino, e com características recorrentes. Tem uma aluna de pós-graduação da ECA que está estudando os mangás femininos do Japão. E ela tem um quadro mostrando as principais diferenças entre os quadrinhos japoneses masculinos e femininos, desde o século XIII. Basicamente, os maculinos têm mais ação e menos texto, enquanto que nos femininos as ações entram em função dos sentimentos das protagonistas, e há muito mais texto, pra comentar tais emoções.

Não me parece exagero ampliar esse quadro para o ocidente. Essas diferenças são basicamente as mesmas, se falarmos do cinema hollywoodiano feito pra homens e pra mulheres. Por outro lado, a questão do quadrinho feminino ter "mais texto", bate com uma intuição que eu tenho, de que as mulheres lêem mais.

Enfim: neste trabalho, vou levantar idéias mais do que concluí-las, sobre o que seria uma coleção atual, feita pras mulheres de hoje, que trabalham fora e são um grande público consumidor, de "Livros para Mulheres".


2. A Coleção

A Coleção seria vendida em bancas, com um lançamento por mês, todos com a mesma capa, no estilo dos clássicos da literatura da Abril, pra atingir o público da revistas femininas tipo Claudia, Nova, Marie Claire. A capa seria algo do tipo cor-de-rosa revisitado, como são os gilettes pra mulher (cores e estampas que remetessem a embalagem de cosméticos, sem parecer muito óbvio ou irônico, mas pra funcionar quase como mensagem subliminar).

O volumes teriam: ficção escrita por mulheres, auto-biografias de mulheres, livros de correspondência de mulheres muito famosas. Tanto coisas já editadas no Brasil, mas esgotadas, quanto inéditos. As autoras teriam um certo perfil: respeitadas por sua inteligência/sensibilidade/história mais que por beleza/fama/maridos.

Além disso, cada livro seria prefaciado por uma mulher conhecida, que apareceria na contracapa, com foto e trecho do prefácio. (ou talvez uma contracapa que tivesse maior, no canto superior esquerdo, a foto da autora, e menor, no canto inferior direito, a foto da prefaciadora). A idéia desses prefácios seria dizer "esse livro marcou minha vida ou carreira", "essa autora sempre foi minha ídola/um exemplo pra mim".


3. As Autoras

Algumas autoras poderiam ser reeditadas, com livros menos conhecidos ou mais "intimistas": Collete, Agatha Christie, Simone de Beauvoir, Katherine Mansfield (parece que há uma tradução muito boa da Cecília Meireles, que é rara de encontrar), Nieh Hua-Ling. Há também autoras muito queridas em outros países, mas desconhecidas por aqui, como Carmen Martín Gaite, espanhola. Para descobrir outras, seria preciso fazer uma pesquisa entre os livros nesse perfil publicados no exterior.

Eu conheço um livro americano, por exemplo, que é uma coletânea de escritoras índias dos EUA - que tem um prefácio também muito bom, sobre a função da narrativa nas tribos indígenas, de ensinar e ajudar as pessoas a viver. (uma espécie de auto-ajuda, só que mais cultural e artístico; menos óbvio ou oportunista)

Já sobre os livros de correspondência era necessário pesquisar sobre os estrangeiros, e editar os nacionais que não existem. Mas, por exemplo, a Clarice Lispector tem uma correspondência muito interessante, que talvez não fosse difícil recolher (já que ela tem uma biografia escrita). Talvez o mesmo se possa fazer com Cecília Meireles, e outras escritoras brasileiras.

Enfim, qualquer escritora poderia ser incluída, se estivesse no "espírito geral" da coleção: mulheres refletindo sobre a vida, o amor, o sofrimento. Como aulas de vida, justamente, resgatando o poder didático da arte (parece que há um texto muito bom do Antônio Cândido sobre isso).


4. As Prefaciadoras

Seriam mulheres queridas pelo público feminino, tidas como exemplo - maduras, determinadas, sensíveis etc.

Por exemplo:

- Zélia Gattai

- Fernanda Montenegro

- Zíbia Gasparetto

- Ruth Cardoso

- Luísa Erundina

- Sílvia Poppovic

- Célia Pardi



5. Conclusão

Seria uma coleção de livros que além do valor cultural, teria uma publicidade voltada à discussão da condição da mulher - que ainda não saiu de moda pois, diferente dos homens que discutem sobre assuntos externos, as mulheres adoram falar de si mesmas, suas vidas, seu papel na sociedade.

Os livros dariam assunto para tal discussão, o que estimularia suas vendas.

sábado, 14 de maio de 2011

Urban dictionary

Big in Japan: To say/pretend you are someone of stature somewhere else, meaningless and not verifiable where you currently are. "Yeah, I am big in Japan".

terça-feira, 10 de maio de 2011

O álcool

"Falta-nos um deus. Esse vazio que descobrimos certo dia na adolescência, coisa alguma é capaz de fazê-lo não ter ocorrido. O álcool foi feito para suportar o vazio do universo, o equilíbrio dos planetas, sua rotação imperturbável no espaço, sua silenciosa indiferença em relação a nossa dor. O home que bebe é um homem interplanetário. É num espaço interplanetário que ele se move. É ali que espreita. O álcool não consola em coisa alguma, não mobilia os espaços psicológicos do indivíduo, a única coisa que ele substitui é a falta de Deus. Não consola o homem. Pelo contrário, o álcool conforta o homem em sua loucura, transporta-o para as regiões soberanas onde ele é senhor de seu destino. Nenhum ser humano, nenhuma mulher, nenhum poema, nenhuma música, nenhuma literatura, nenhuma pintura pode substituir o álcool nessa sua função junto ao homem, a ilusão da criação capital. Ele está ali para substituí-la. E é o que faz com toda uma parte do mundo que teria devido acreditar em Deus e que já não acredita. O álcool é estéril. As palavras do homem que são ditas na noite da embriaguez desvanecem-se com ela, uma vez chegado o dia. A embriaguez nada cria, não vai além das palavras, obscurece a inteligência, repousa-a. Falei alcoolizada. A ilusão é total: o que dizemos, ninguém jamais disse. Mas o álcool não cria coisa alguma que permaneça. É o vento. Como as palavras. Escrevi alcoolizada, eu tinha uma capacidade de controlar a embriaguez que me vinha, sem dúvida, do horror à ebriografia. Eu jamais bebia para ficar bêbada. Jamais bebia depressa. Bebia o tempo inteiro e nunca ficava bêbada. Estava retirada do mundo, intangível, nas não bêbada.

Uma mulher que bebe é como se fosse um animal, uma criança que bebesse. O alcoolismo atinge o escândalo com a mulher que bebe: é raro, é grave uma mulher alcoólatra. A atingida é a natureza divina. Reconheci esse escândalo ao meu redor. No meu tempo, para ter forças de enfrentá-lo em público, entrar sozinha num bar à noite, por exemplo, era preciso já ter bebido.

Sempre se diz tarde demais às pessoas que elas estão bebendo demais. 'Você bebe demais.' É escandaloso dizê-lo, em todo caso. Jamais sabemos por nós mesmos que somos alcoólatras."

(A vida material, de Marguerite Duras, trad. Heloísa Jahn.)

segunda-feira, 2 de maio de 2011