Ah, não é tão complicado. Se for, estou entendendo errado. Porque vejo de modo simples.
Por exemplo, no conto "Suje-se gordo!", do livro "Relíquias de casa velha". O título já tem um desvio gramatical. Não se trata de uma ordem a um gordo... (suje-se - vírgula - gordo). É um conselho para se sujar bastante, o equivalente a "suje-se de verdade!" (o conto se passa num tribunal; o jurado acusa o réu de roubar mixaria; se é para sujar-se, ele diz, suje-se gordo!)
A narrativa também tem uns desvios... antes de apresentar detalhadamente o réu e o jurado que solta a pérola acima, o narrador gasta algumas linhas para mencionar a família do advogado de defesa, que vai assistir ao julgamento porque é o primeiro trabalho do jovem. Logo depois, emocionados que estamos com "parentes, colegas e amigos" do rapaz, a sequência tem uma ruptura brusca:
"O discurso foi admirável, e teria salvo o réu, se ele pudesse ser salvo, mas o crime metia-se pelos olhos dentro. O advogado morreu dous anos depois, em 1865. Quem sabe o que se perdeu nele!"
O texto cria uma expectativa sobre o advogado para em seguida matá-lo, sendo que isso não altera em nada o núcleo do conto, que é o jurado. A narração faz um desvio para falar do advogado.
Por último, um exemplo de deslocamento na frase:
"Também ele ouvia, mas com o rosto alto, mirando o escrivão, o presidente, o teto e as pessoas que o iam julgar; entre elas eu."
Bem... estritamente, para que a narrativa funcione, é suficiente dizer que o réu olhava as pessoas que o julgavam. Ele não precisaria olhar "o teto". Esse detalhe banal quebra a frase, que fica menos cerimonial, e melhor, na minha opinião.
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Ah, acho que é isso.
2 comentários:
Vivendo e aprendendo. :)
Como diz o Alain, "Wim Wenders e aprendenders", ;)
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