sexta-feira, 20 de junho de 2008

A pedidos

Sobre "obras prontas".

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Bem, a princípio, todas as obras publicadas estão prontas. O que me incomoda é um estilo lapidado demais, em que não sobra espaço para o erro e o "caco", como dizem os atores.

Se toda a trama se fecha, se toda característica e ação dos personagens são funcionais quanto ao tema e o enredo, se não há nenhuma frase solta que indique uma idéia alheia ao que está sendo narrado em primeiro plano... bem, isso às vezes me coloca a certa distância.

Quando permanecem algumas imprecisões, minha atenção desperta. O olhar vai diretamente para o desvio.

O professor disse o seguinte: a linguagem do M.A. tem muitos deslocamentos, na narrativa e no detalhe das frases. Esses deslocamentos causam vazios, ou seja, o texto cria lapsos que ficam sem explicação no próprio texto. São os vazios que pedem interpretação. Ou o contrário: nós não podemos tolerar o vazio. Somos impelidos a interpretar.

Gosto disso.

4 comentários:

John disse...

Mas é justamente aí que temos o grande difencial de um escritor... e de alguem que segue formulas.... a exemplo de Dan Brown.. que saba fazer uma formulinha para contar a historia dele.. porem com profundidade 0.

Nosso amigo russo Fidor.. é outro grande exemplo de escritor que é cheio de deslocamentos.

poeta sórdido disse...

hmmm entendi, acho. mas qual o limite entr o "caco" e o excesso puro e simples? deve ser difícil "deixar passar" alguma coisa, ou não, e essa intenção deva surgir desde o início.
cê já leu graciliano [o outro G. R.] ?

Anônimo disse...

Mas esse deslocamento vem de onde? da vontade, do meio ou do subconsciente? Tenho muito medo disso tudo, rs.
Uma vez, li um artigo - mais de neurologia que de literatura - sobre as epilepsias do M.A. e do Fiodor Dostoiévski. Supostamente esses deslocamentos estariam explicados por lá.

sabina anzuategui disse...

Adoro Graciliano. É um dos meus escritores preferidos.
Quanto aos deslocamentos, vou tentar responder em outro post.