sábado, 28 de fevereiro de 2009

Elizabeth, a vaquinha fantasma

Estou escrevendo um conto a convite de Rosel Soares, que organiza uma antologia de textos sobre malandragem. Fiquei timidamente vaidosa com o convite, porque sofro da síndrome da vaquinha Elizabeth.

É um livro que li quando criança. A vaquinha nasce no mesmo dia do menino, cresce como seu animal de estimação. É a vaquinha mais doce que jamais existiu, com olhos cor de mel, pelo caramelo e cauda em caracol. Um dia ela morre. Depois de muita tristeza, o menino resolve fazer uma festa de aniversário e convidar os amigos. Na hora do bolo aparece um fantasma. Todos se assustam, mas o menino logo reconhece os olhos cor de mel e diz:

- Ah, você não é um fantasma malvado. É o fantasma de Elizabeth, a vaquinha mais doce que já existiu.

O fantasma não se conforma por não conseguir assustá-lo, e logo volta com um saco na cabeça pra esconder os olhos. Todos se assustam, mas o menino percebe o pelo caramelo:

- Ah, você não é malvada. É Elizabeth, a vaquinha mais doce que jamais existiu!

Assim o fantasma tenta voltar várias vezes, sempre com um disfarce a mais, tentando assustar o menino. Até que ele percebe que Elizabeth queria realmente ser malvada, e não a vaquinha mais doce que jamais existiu. Ele se finge de assustado e o fantasma vai embora feliz da vida.

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Escrevo então o conto, me sentindo uma vaquinha fantasma.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Camiseta de assistente

Alguns dias atrás sonhei que o Jararaca Alegre escrevia reclamando, dizendo que eu deveria caprichar mais neste blog, em vez de comentar matérias de jornal.

Talvez ele e sua versão onírica tenham razão. De todo modo, como resistir à interessante matéria que saiu hoje na Folha sobre os assistentes de artistas plásticos famosos?

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Artista suíço tem 1.400 "assistentes"
DA REPORTAGEM LOCAL

Nenhum artista contemporâneo tem mais assistentes do que o suíço Gianni Motti -hoje passam de 1.400. E nenhum assistente ficou mais conhecido do que os dele.

Isso porque há 12 anos, quando um estudante de arte ganhou uma bolsa para trabalhar com Motti, o artista o despachou numa viagem pelo mundo. Sua única obrigação era vestir uma camiseta amarelo néon com a inscrição "Gianni Motti Assistant".

"Ele ficava aqui no ateliê, me acordava às sete da manhã, não queria um assistente me irritando", lembra Motti, 51. "Então mandei ele pegar o dinheiro e fazer uma viagem pelo mundo, ele foi até para a Austrália e aprendeu muito mais do que se tivesse ficado aqui comigo."

A performance logo virou fetiche entre estudantes de arte e se multiplicou. Motti envia o logotipo a artistas do mundo inteiro, que reproduzem suas camisetas. "É como ter uma voz em cada canto do mundo, como se fosse a globalização do artista, que está sempre presente, ocupando o território."

Prova disso é que, em 2008, um assistente de Motti no Second Life chegou a discursar na versão virtual do Fórum Econômico Mundial.

(Silas Martí)

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Ô, dó

Nem lembro direito como começou. O cabrito às vezes dizia "ô, dó" numa entonação entre carinhosa e piedosa, e acabei incorporando. Sem perceber eu já dizia muitos "ô, dó" por dia, até que meu amigo Julio começou a rir e me imitar, e logo estávamos todos dizendo "ô, dó".

Pois bem. Fui procurar algum vídeo no You Tube com a marchinha Mulata Bossa Nova, pensando que talvez nem todos a conheçam (o carnaval já não é tão popular).

É triste ser uma marchinha. Enquanto outras canções menos bonitas têm várias versões disponíveis, a Mulata que caiu no hully gully só tem três: um vídeo desfocado numa balada, outro tremido num bloco de rua noturno, e algo incrivelmente singelo: três jovens batucando enquanto uma menina dança com sua sombrinha. Batucam num capacete de moto e num galão de água vazio.

Ô, dó.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

E só dá ela!

Saiu hoje um artigo simpático no Estadão, do Marcos Sá Correa, sobre a volta à moda dos blocos de rua no Rio. Recuperando o que parecia esquecido no carnaval - velhas marchinhas e mulheres vestidas.

Alguns anos atrás acompanhei o cordão do Boitatá, tinha mesmo essa alegria ingênua.

Segundo M.S.C., o grande hit nostálgico é a garota bossa-nova que caiu no hully-gully. Foi estouro no carnaval de 1964, pouco antes do golpe (diz M.S.C. - eu não sabia)

Eu também não sabia o que foi o hully-gully. Então olhei na wikipedia e encontrei um vídeo cheio de bossa no You Tube. Assistam e rebolem se der vontade.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

A corrente do bem

Aiaiai. Sob ordens da Julia, pegar o livro mais próximo, abrir na página 161 e transcrever a quinta frase completa.

- Moderna Dramaturgia Brasileira, de Sábato Magaldi: na tal página há apenas uma foto e legenda com três frases.

- A telenovela, de Samira Campedelli: não tem tantas páginas

- Russian formalist criticism: idem

- O campeão de audiência - uma autobiografia, de Walter Clark e Gabriel Priolli:

Bingo!

"E a tapeçaria do Lurçat foi testemunha dessa profecia".

(em tempo: a profecia está nas frases anteriores. De W.Clark para Roberto Marinho em 1965: "Vou fazer para o senhor uma estrutura que vai resistir aos tempos, a mim e ao senhor")

- O Brasil antenado, de Esther Hamburger:

Touché!

"Em um mundo pós-industrial, que experimentou e rejeitou a estatização dos meios de produção, mas que tampouco resolveu o problema da pobreza, da desigualdade e da discriminação, o fortalecimento de espaços livres para a circulação de idéias e projetos, mas protegidos da ação exclusiva dos mercados, adquire conotação estratégica."

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Passo o abacaxi para Renata, Raquel, Denise, Paulo e Andrea.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Poema

Encontrar alguém que não conheço. Ou conheci de modo indireto e distante.

A foto na sala - alguém sentada. Rosto, ombros, coxas que imagino nos momentos de silêncio (que são muitos).

Romantismo vago como pequena nuvem vaporosa.

Auréola de vapor sentimental enquanto acordo, trabalho, almoço.

Sempre indo. Vindo. Indo.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Vida acadêmica

Um trecho do meu projeto de doutorado, que passei os últimos dias revisando:

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"Considero importante esclarecer que – ao defender novas abordagens para a compreensão da telenovela, buscando parâmetros estéticos e históricos de literatura, teatro e cinema – não proponho “julgar” a telenovela a partir desses parâmetros. Ao contrário: acredito ser necessário compreender o posicionamento teórico dessas áreas, e inserir a telenovela no mesmo processo. Compreender a telenovela como complemento a outras artes narrativas, não como contraponto.

Gostaria de citar a reflexão de Hans Robert Jauss no artigo A história da literatura como provocação à teoria literária, publicado em 1967, que contém uma orientação ainda válida:

“Compreender a obra de arte em sua história – ou seja, no interior da história da literatura definida como uma sucessão de sistemas – ainda não é o mesmo que contemplá-la na história – isto é, no horizonte histórico de seu nascimento, função social e efeito histórico. (...)

Se, dessa perspectiva, voltarmos novamente o nosso olhar para o dilema comum à teoria literária formalista e à marxista, resultará daí uma conclusão que nenhuma delas tirou. Se, por um lado, se pode compreender a evolução literária a partir da sucessão histórica de sistemas e, por outro, a história geral a partir do encadeamento dinâmico de situações sociais, não haverá de ser possível também colocar-se a ‘série literária’ e a ‘não-literária’ numa conexão que abranja a relação entre literatura e história, sem com isso obrigar-se a primeira a, abandonando seu caráter artístico, encaixar-se numa função meramente mimética ou ilustrativa?”

Acredito que a argumentação de Jauss se aplica em plenitude à telenovela. Assim como o texto para teatro faz parte da literatura de um país, o texto para televisão precisa ser inserido e compreendido nesse quadro. Nascem daí duas questões: que imagem teremos da literatura brasileira, se incluirmos nela a dramaturgia televisiva? E que idéia teremos de nossas telenovelas, se as compreendermos no contexto da literatura brasileira?"

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Meus ombros não doem mais

Até quarta-feira tenho os dias cheios. Segue o início de "Meus amigos", de Emmanuel Bove:

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"Quando acordo, minha boca está aberta. Meus dentes estão sujos: escová-los à noite seria melhor, mas nunca tenho coragem. Lágrimas secaram nos cantos de minhas pálpebras. Meus ombros não doem mais. Cabelos hirsutos cobrem minha testa. Com meus dedos abertos afasto-os para trás. É inútil: como as páginas de um livro novo, rebelam-se e voltam a cair sobre meus olhos.

Baixando a cabeça, sinto que minha barba cresceu: ela pica meu pescoço.

A nuca aquecida, fico de costas, de olhos abertos, os lençóis até o queixo para que a cama não esfrie.

O teto está manchado de umidade: fica tão próximo do telhado. Aqui e ali, venta sob o papel de parede. Meus móveis parecem os dos belchior, nas calçadas. O cano de meu pequeno aquecedor está enfaixado com um trapo, como um joelho. No alto da janela um estore já sem serventia pende de lado.

(...)

Quando chove, o quarto é frio. Parece que ninguém dormiu ali. A água, que escorre por toda a largura dos vidros, corrói a massa de vidraceiro e forma uma poça, no chão.

Quando o sol, solitário no céu, flameja, projeta sua luz dourada no meio do cômodo. Então as moscas traçam no assoalho mil linhas retas."

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

O destino solitário dos cultores do vazio

Tenho dificuldades para convencer a editora de que meu livro é o que é, não por inexperiência minha, mas porque eu quis escrevê-lo assim. Temem que o livro seja mal compreendido e passe desapercebido porque pode parecer ingênuo para quem não me conhece.

A recusa vem de uma instância superior. Quem fala comigo transmite um estranho elogio destrutivo. Como se reconhecessem meu valor e o do livro, mas nada disso valesse diante da expectativa do que deveria ser o segundo livro de um escritor sério. Depois, avaliando, percebo que somente uma pessoa acredita no elogio. O discurso contraditório precisa transmitir uma decisão talvez não compartilhada por quem conversa comigo. Mas é uma decisão.

Coloco em prática tudo que aprendi sobre meditação, persistência e calma existencial, mas quando me distraio tenho impulsos de raiva pura.

A mesma editora publicou em 1987, o livro "Meus amigos", de Emmanuel Bove. Descobri comovida a edição num sebo, algum tempo atrás. Um dos livros preferidos de Peter Handke e eu nunca tinha lido, porque desconhecia a tradução brasileira. A apresentação, da tradutora Maria Lucia Machado, diz que Bove escreveu o livro aos 23 anos: "Seu tom é seco, feito de elipses e de silêncios, como convém quando se fala de "séries de quase nada", segundo um de seus comentaristas. Muito se fala também da banalidade na obra de Bove e, de fato, ele parece ir buscar seus personagens e situações em alguma lata de lixo dos materiais literários, não fazendo qualquer tentativa de dignificá-los literariamente".

"Quando um editor pediu a Bove que escrevesse sua biografia para um prefácio, ele esquivou-se dizendo sentir-se como um ator que tivesse esquecido seu papel. Parecia achar que, de sua vida, só valia mencionar sua decisão de ser escritor. Nasceu em 1898, em Paris, morreu aos 47 anos. Permaneceu quase desconhecido enquanto viveu, mas agora vem sendo reeditado na França e é publicado pela primeira vez entre nós".

"Meus amigos" é um livro inacreditável. Um livro, entre poucas coisas produzidas pela humanidade que justificam sua existência.

Mas diz a máxima de algum autor antigo que li em algum lugar: "habent sua fata libelli". Os livros têm seu destino.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Namoradas de Oswald

Comentamos, num post abaixo, que o busto de Dasy era feio e um tanto rude. Na biografia de Oswald há uma foto; Miss Tufãozinho de fato não parecia uma jovial normalista, com rosto de ninfeta. Tem jeito de mulher adulta, embora tenha falecido antes dos 20 anos.




Ninfeta sim era Landa, a bailarina Carmen Lídia, por quem Oswald se apaixonou alguns anos antes, logo depois de voltar da primeira viagem à Europa.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Um final

Escrevi um último parágrafo para "O afeto". Embora não goste de finais com excesso de estilo e conclusão, senti que o texto se interrompia muito repentinamente.

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"Talvez seja a sombra da criança que nunca nasceu, filho da moça que nunca conheci. Aos doze anos eu às vezes imaginava, à noite, que a moça procuraria minha mãe e todos iríamos ao funeral do bebê. Chorando em volta do pequeno caixão, minha mãe perdoaria a moça, que sairia do cemitério tranquila e conheceria um rapaz e casaria e seria feliz.

Mas nunca houve o funeral. Meus pais não falaram mais do assunto. Durante muitos anos, antes de dormir, eu repeti em silêncio uma pequena oração, pedindo proteção e alegria às pessoas que amava: meu pai, minha mãe, Diego, Paula e o irmãozinho que não nasceu.

Era um menino, ou quase foi. Um rosto infantil que eu imaginava ao meu lado, sorrindo e dizendo palavras de carinho, quando estava sozinha."

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Miss Cyclone

Fabio Morais me enviou, muito gentilmente, a foto do busto de Dasy, feito por Brecheret.

O perfeito cozinheiro das almas deste mundo

Passei algum tempo ontem à noite procurando uma imagem do busto "Dasy", que Brecheret fez de Miss Cyclone. Não encontrei. Segundo as informações disponíveis, Oswald manteve a escultura em casa o quanto pode. No fim da vida, sem dinheiro, penhorou para a Caixa Econômica. Hoje faria parte do acervo do Palácio dos Bandeirantes. (informações de internet, talvez desatualizadas)

De todo modo, descobri que o Perfeito cozinheiro teve edições fac-simile e encontrei um post muito bonito no blog de Fabio Morais. Há fotos do livro e uma história curiosa de como ele conseguiu comprá-lo num sebo. Vale a pena ler.

As fotos abaixo foram colhidas no site da Unicamp, num artigo de Maria Eugenia Boaventura.



quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Deisi, Lobato e a garçonnière de Oswald

"O grupo que frequenta a garçonnière de Oswald na rua Líbero Badaró tem por companhia uma estudante da Escola Caetano de Campos, que está na casa dos 16 ou 17 anos. (...) A musa normalista que desperta o interesse de Oswald é tratada por Deisi (como Oswald grafa nas memórias), mas existem variações - Daisy, Dasy, Dasinha, Tufão, Tufãozinho, Miss Cyclone.

(...)

A vida da garçonnière serve de refúgio a Oswald de Andrade, Guilherme de Almeida, Leo Vaz e Ignácio Ferreira, sempre animada pelas conversas, pelos amores e pela música de uma grafonola. O romance de Oswald com a normalista vai do ano de 1917 ao dramático 1919 [em que ela falece por complicações de um aborto, agravadas pela tuberculose]. Deisi muda-se dos arredores da rua Augusta par o bairro do Brás. Para desespero daqueles rapazes, de vez em quando desaparece da garçonnière. Apaixonados por "Miss Ciclone", passam agora a chamá-la de "a esfinge do deserto do Brás".

(...)

Esse grupo da garçonnière escreve um diário, composto de 30 de maio de 1918 a 12 de outubro de 1919... É um caderno muito grande, espesso, contendo duzentas páginas, e ilustrado cotidianamente a muitas mãos. Batizam o diário de O perfeito cozinheiro das almas deste mundo. A página de abertura estampa um longo texto escrito com tinta roxa, anunciando os muitos temperos e artes que fabricam "no ambiente colorido e musical deste retiro, o cardápio perfeito para o banquete da vida".

(...)

Monteiro Lobato aparece bastante no local, e certa vez ali esqueceu as provas de seu livro Urupês. Anos mais tarde, quando Oswald rende sua homenagem aos 25 anos dessa obra, relembra o lugar do antigo refúgio, onde o escritor deixara as provas do livro esparramadas em um sofá de palha sem bordas, com forro de cretone, que lhes servia de cama. E resgata a anotação que Ciclone faz no diário conjunto: "O Lobato não é besta senta de atravessado na vida".

Nas páginas de O perfeito cozinheiro, registra-se:

"Lobato esteve aqui e esqueceu as provas dos seus 'Urupês' sobre o sofá. A Cyclone, muito pimpona, atribuiu à sua influência desnorteadora esse gesto do nosso homem do dia. Lobato, defenda-se ou confesse que tomou Cyclonol".

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"Oswald de Andrade - Biografia", Maria Augusta Fonseca, Editora Globo, 2007.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Adolescentes perigosos

Fui cortar os cabelos no sábado. Faz alguns anos que decidi frequentar salões melhores. Por algum motivo, quando mais nova, ia sempre a cebeleireiros de um porta, que cobram R$ 10. Saía com cortes medíocres e invejava desajeitadamente minhas colegas com cortes irregulares, desfiados e modernos. Eu realmente não percebia que o corte estava diretamente relacionado ao preço. Um cabeleireiro sabe fazer cortes bacanas se estudou - e estudou para ganhar melhor, então trabalha num salão mais caro.

Parece banal, mas eu não percebia. Sempre focalizada em economizar NO MOMENTO de pagar. Então, na hora, R$ 10 me parecia mais adequado que R$ 50. Simplesmente não parava a pensar que o custo deveria se diluir pelos meses que o corte durava. Se um corte dura quatro ou cinco meses, R$ 150 por ano é na verdade pouco para manter o cabelo bonito. Uma economia anual de R$ 120, nesse caso, não faz o menor sentido, porque é baseada na restrição do sentimento íntimo de estar bem tratada e bonita. Se os R$ 120 precisam REALMENTE ser economizados, melhor cortar cerveja em boteco, pizza, todas essas porcarias que a gente acaba engolindo pra "se divertir". Gastar o dinheiro no salão e depois, no boteco, pedir uma água mineral. Em vez de inebriada pelo álcool, passar a noite inebriada pela própria vaidade silenciosa.

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Talvez isso nada signifique para quem cresceu vaidosa e abstêmia. Para mim, é quase uma contravenção.

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Minha mãe era professora. Ela só cortava o cabelo nas férias, para evitar os comentários dos alunos. Que perigo existe em adolescentes sorrindo e perguntando "cortou o cabelo, professora?". Pra que tanto medo?