sábado, 30 de outubro de 2010

Senhor aposentado ou pensionista

Para nossa imprensa brasileira atual, falar em regulamentação publicitária é louvar a memória do camarada Stalin.

Mas minha esperança na humanidade não aumenta muito ao ver esse cartaz da Crefisa sexta à noite no metrô:





O texto dizia:

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Servidor público, aposentado e pensionista:

Precisa de dinheiro?

Seu nome está negativado?

Já usou todo limite do consignado?

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Ao que deveríamos responder:

ENTÃO, PARE DE GASTAR!

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Um trator

Faz quase um mês que meu sobrinho está morando conosco. Expliquei que não costumo colocar fotos de outras pessoas no blog - precaução habitual contra sequestros, pedofilia, essas coisas. Mas ele insiste em aparecer.

Escolhi uma foto antiga, em que ele mostra seus superpoderes:

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Gênesis, por Robert Crumb

Faz tempo que não falo sobre literatura. Doutorado, mudanças familiares, pressa.

Em março compramos a edição do Gênesis, do Crumb. Ficou sobre a mesinha da sala, eu lia alguns pedaços e deixava. Há algumas semanas decidi ler organizadamente, do início ao fim.

É lindo.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Aborto

Alguns anos atrás, disse num jantar entre amigas que não considerava o aborto uma grande questão. Muitas estranharam. Agora, em meio a esse debate tosco por causa das eleições, resolvi organizar algumas idéias.

De certo modo, me incomoda que a questão do aborto vire a "grande" questão feminina aqui no Brasil. Antes de discutir isso, deveria haver um projeto sério e generoso de orientação e planejamento familiar disponível a todos.

Acho que deveríamos considerar a situação concretamente:

- O aborto já é legal em alguns casos (estupro, risco de vida p/ a mãe, etc), e mesmo assim muitas mulheres têm dificuldade quando decidem optar por esse direito nos hospitais públicos.

- Para quem tem dinheiro, o aborto é legal na prática. Até onde eu saiba, não há nenhum promotor público caçando clínicas que realizam esse procedimento de maneira segura.

- Considerando que houvesse uma lei que tornasse o aborto legal. Como isso funcionaria no sistema público de saúde?

Hoje há pessoas que morrem na fila esperando por operações simples e sem dilemas morais - inclusive partos. Acho meio cretino o argumento em defesa da legalização, dizendo que morre uma mulher numa clínica clandestina a cada dois dias.

Pois bem, se o aborto fosse legalizado, e o atendimento de saúde pública continuasse como está... será que as mulheres que desejassem abortar procurariam um hospital público, ou continuariam indo a qualquer buraco, pra resolver o assunto sem filas e constrangimentos?

Acho que antes de ser "contra" ou "a favor", deveríamos nos preocupar em definir melhor o problema.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A criatividade da W/Brasil

A Folha exibiu este comercial de 1987 ontem, no intervalo do debate na Rede TV!.

Seria inacreditável, se não fosse preocupante.

Sobre as eleições (somente uma vez)

Muitas conversas sobre as eleições são baseadas em oposições primárias - gosto desse, odeio aquele, etc. Não acredito na utilidade disso. Nenhum candidato ou partido está blindado contra falhas.

Votar num candidato significa escolher entre as opções que se apresentam, compreendendo que ele/a não fará nada sozinho/a. Junto trabalharão seus aliados, que preencherão os vários ministérios e cargos estratégicos do país.

Quem vota deve também reconhecer suas próprias falhas. Ante de votar deveríamos pesquisar, o mínimo que fosse, sobre o histórico de atuação de cada candidato/partido nas várias áreas de interesse do país - educação, cultura, saúde, economia, ambiente, etc.

Falar mal de um ou outro sem essa pesquisa prévia é tratar questões essenciais de nossa vida como mesa redonda de futebol. Ou ainda pior, afinal muitos comentaristas sabem o nome do jogador que perdeu um gol no segundo tempo de uma partida entre Santos e Atlético Mineiro em 79, mas não sabem dizer quem foi ministro da Educação em 1998, e o que ele fez em sua gestão.

Eu não concordo com todas as palavras do vídeo abaixo. É um texto de campanha, e talvez polarizado demais. Mas não vivemos num mundo ideal: vivemos no lugar e no tempo que encontramos ao nascer, e do qual participamos. Ninguém pode jogar a culpa nos outros se não faz sua parte. O mínimo que fazemos é escolher, e votar.

O PT tem seus problemas, e os partidos aliados também. Mas comparando a atuação do Ministério da Educação nos governos de FHC e Lula, a diferença é clara. Cada um vota conforme seus critérios. Esses são os meus.

sábado, 16 de outubro de 2010

A lenda de Billie Jean

Mencionei para meus alunos um filme dos anos 1980, A lenda de Billie Jean, em que havia uma cena de congregação da energia juvenil num ferro-velho. Sem fazer grandes pesquisas a respeito, lembro desse exemplo, vagamente inspirado em Joana D'Arc, entre vários filmes americanos que vendiam rebeldia pasteurizada para a juventude da época.

Procurando algumas cenas no You Tube, encontrei esse texto bastante detalhado, de uma americana da minha "faixa etária":

"Stacia Yeapanis is a Chicago-based interdisciplinary artist and a media fan. She received her MFA from The School of the Art Institute of Chicago in May 2006 and is a member of the Chicago-based artist collective Henbane."

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My Feminism is 80s Teen Movie Flavored

Stacia Yeapanis

Not many people remember the teen movie The Legend of Billie Jean. Expected to be a box office hit in the summer of 1985, it disappointed producers, earning a measly $3.5 million, and has yet to be released on DVD. This movie is why I still own a VCR.

The plot is simple: Billie Jean Davy is a teenage girl from a trailer park, who becomes an outlaw after being involved in an accidental shooting. She goes on the run with her friends and cuts her hair and becomes a celebrity hero seeking justice. The tagline, according to IMDB, is “When you’re seventeen, people think they can do anything to you. Billie Jean is about to prove them wrong.”

I was 7, not 17, when it was first released. I can’t remember exactly when or where I watched it for the first time. I remember that I believed the main conflict was between kids and adults. There’s no doubt the movie was marketed to the MTV generation. The theme song, Invincible by Pat Benatar, had already made it to #10 before the movie was released. I probably related to the movie because I was a kid and because life constantly feels unfair when you’re a kid.

But when I re-watched The Legend of Billie Jean at age 31, it was obvious to me that this overlooked teen movie is about more than a rebellious teen’s sense that her parents aren’t fair because they make her clean her room or get off the phone and do her homework. For me, it’s one of my earliest feminist texts (and a scathing critique of capitalism, but that’s another post). Watching it was like having myself and my experience of the world mirrored back to me. I don’t mean that I’ve ever cut my hair short or been an outlaw or slept at an abandoned mini golf course. I just mean that I must have learned something watching this movie over and over again. And it’s something I value.

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(o texto completo está aqui)

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Tipo One Way

Entre tantas maravilhas da música popular brasileira que ouvi na adolescência, guardei simpatia por essa canção do grupo Ciclone. Para quem não conhece, foi um fruto da febre Menudo.

O refrão ainda me parece simpático e tropicalista:

"Mas o que ela gosta é de namorados descartáveis, do tipo One Way.
Se liga sempre quando encontra alguém com a embalagem... do tipo One Way."

domingo, 3 de outubro de 2010

Três de outubro

Três de outubro era aniversário de minha avó Carmen. Eu ia para Curitiba votar, e passava em sua casa. Ela morreu faz alguns anos, que pena.

Hoje percebi que os tomates no quintal ficaram maduros. Meu sobrinho veio morar conosco, está aqui há uma semana. Peguei a câmera para fotografar os tomatinhos, e ele quis aparecer no blog também. Fez sua expressão favorita.

O cabrito, na esteira, também quis. Suando por causa do exercício, uma gotinha na ponta do nariz.





sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Enquanto explodia

Uma moça, amiga de ex-alunos, me escreveu comentando uma postagem antiga, chamada "Datas". Blog é uma coisa curiosa... menos passageiro do que parece.

Nessa postagem, há um relatório de minhas tentativas de escrever, entre 1997 e 2005. Pensei em completar a lista até hoje.

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Setembro e outubro de 2002 (aproximadamente)
Comecei os primeiros parágrafos de Infância, escrevendo às vezes no trem, indo para a aula na UMC, Universidade de Mogi das Cruzes.
Estava lendo A fugitiva. Os primeiros parágrafos seguiam o estilo de Proust, e não evoluíram.

Em algum momento no segundo semestre de 2002
Organizei um resumo dos capítulos de Infância, com uma linha de ação e esboço dos personagens principais.

Janeiro de 2003
Recomecei os primeiros capítulos de Infância, com base no novo resumo, enquanto fazia um curso de alemão em Berlim. Me forçava a escrever um pouco todo dia, num caderno.

Primeiro semestre de 2003
Continuei os primeiros capítulos, já em São Paulo. Escrevi cerca de 40 páginas. Em agosto desse ano comecei a trabalhar como coordenadora de curso na Faculdade, e deixei o livro de lado.

Primeiro semestre de 2004
Em viagem de três meses à França, com o cabrito, e licença na faculdade. Percebi que as 40 páginas estavam cansativas, não tinha ritmo. Revisei o texto, cortei partes, consegui organizar quatro capítulos razoáveis.

Julho, Agosto de 2005
Depois de um período tumultuado - Calcinha foi lançado em março, casei em abril, em junho pedi afastamento da função de coordenadora, em julho tive uma crise de mania - voltei a escrever Infância, e cheguei até o último capítulo. Nessa época o livro tinha uma introdução confessional, e alguns jogos de metalinguagem. Mudei o título para Enquanto explodia. O final era essencialmente metalinguístico. Mandei para srta. Y, que me telefonou logo, dizendo que achava interessante.

Final de 2005 (provavelmente)
Srta. Y me devolve o manuscrito de Enquanto explodia comentado pelo sr. X. Ele odiou o recurso de metalinguagem, que considerou "velho e batido".
A crise de mania tinha passado, e tive uma depressão muito forte.

Primeiro semestre de 2006
Passei praticamente um ano sem fazer nada além do básico. Dava 4 aulas por semana, e passava o resto do dia lendo e dormindo no sofá. Escrevi nesse período, com muita dificuldade, textos mensais para a revista TPM, na coluna Casada / Solteira. Era muito difícil escrever. Eu fazia um esforço enorme, não tinha energia nem idéias.

Segundo semestre de 2006 (provavelmente)
Passou o período mais grave da depressão, mas eu ainda não tinha muita energia. Voltei a revisar Enquanto explodia, tirando as passagens de metaliguagem. Mudei o título para O afeto. Precisei criar novas cenas, porque a história ficava muito frágil sem as digressões.

Fevereiro de 2007
Considerei que essa versão limpa do livro estava pronta, e enviei a srta. Y. Mudei o título para O afeto, adaptando uma sugestão do cabrito.

Outubro de 2007
Conversei com sr. W. Comentei que o livro havia sido recusado uma vez, e a segunda avaliação estava demorando (ou já havia segunda recusa?). Ele recomendou que eu publicasse em qualquer editora pequena, e escrevesse outro. Comentou com pena que certos escritores escreveram pouco em suas vidas por excesso de revisão.

Algum momento no segundo semestre de 2007 (provavelmente)
Como praxe, esperei passar 4 meses para perguntar à editora qual a avaliação da nova versão do livro. Srta. Y marcou uma conversa comigo, e explicou que os novos leitores consideraram o conjunto sem graça, como se faltasse alguma coisa.
Saí dessa conversa com certa raiva, desejando fazer uma revisão forte no enredo, para mostrar que a história era boa e tinha graça.

Fevereiro de 2008
O cabrito sugeriu que eu reescrevesse o livro usando verbos no presente, como um diário. Ele achava que o tom de memórias enfraquecia o texto. Fiz uma tentativa mas tive dúvidas. Enviei a srta. Y, e marcamos um café. Ela sugeriu que eu recuperasse as páginas cortadas da primeira versão metalinguística. Disse que havia um estranhamento ali, que era interessante.

Meados de 2008 (aproximadamente)
Revisei O afeto, criando novas cenas, com conflitos, suspense e climax. Revisei o comportamento dos personagens. Usei técnicas de dramaturgia, que conheço bem por causa do trabalho em roteiro. Também recuperei as passagens antigas, como sugeriu srta. Y.

Novembro de 2008
Enviei o manuscrito revisado para srta. Y.

Fevereiro de 2009
O livro foi recusado novamente, e definitivamente. Srta. Y sugeriu que eu o deixasse na gaveta, para eventualmente ser lançado como terceiro livro. Ela considerava arriscado lançar um segundo livro que "passasse despercebido". Respondi que não poderia deixar este livro na gaveta em favor de um terceiro que ainda não existia. Ela temia que isso significasse um rompimento com a editora. Respondi que eu não poderia romper uma ligação que não existia. A conversa foi tensa.

Julho a Setembro de 2009
Escrevi a alguns outros editores, dois ou três. Mandei o livro para o sr. K, por sugestão de um amigo. Sr. K trabalha numa boa editora e é também um bom escritor.
Ele leu rápido e gostou. Deu sugestões sensíveis e inteligentes sobre o primeiro capítulo. Fiz a revisão e enviei novamente o original à editora, para seguir o processo de avaliação.

Novembro de 2009
Enviei o original para um concurso de apoio à publicação do Governo do Estado. Foi classificado como vigésimo segundo suplente.

Audiência das novelas às 22h

A Faculdade Cásper Líbero, onde trabalho, tem um centro de pesquisas para professores e alunos. É com apoio desta bolsa que estou estudando três novelas dos anos 1970 - O espigão, do Dias Gomes, Nina, do Walter Durst, e Os gigantes, do Lauro César Muniz.

Segue um trecho do meu último relatório de pesquisa. São informações sobre as novelas exibidas às 22h. Não há quase nada publicado em livros sobre esse tema:

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"O espigão foi exibida entre abril e novembro de 1974. Foi a quinta telenovela que Dias Gomes assinou na Globo. Nesse momento, o horário das 22h, iniciado em 1970, já estava estabilizado. Bráulio Pedroso e Jorge Andrade haviam sido contratados pela emissora, e Dias Gomes já havia escrito duas obras que se destacaram na imprensa: Bandeira 2 e O bem amado.

Críticas e reportagens da época trazem o registro mais palpável da repercussão dessas obras, pois as novelas das 22h estavam num horário mal verificado pelas medições de audiência do Ibope. Nessa época, a pesquisa era feita pelo método “flagrante” (o pesquisador ia aos domicílios selecionados, perguntava aos moradores se a televisão estava ligada, e, em caso positivo, o que estavam assistindo) (SILVA JR, 2001, p. 105). Em São Paulo e no Rio, começaram a ser instalados os aparelhos chamados “tevêmetros”, que registravam as informações automaticamente, em amostragens de 220 domicílios em São Paulo (1970) e Rio de Janeiro (1974). No resto do país, a medição continuou pelo método flagrante, com pesquisadores contratados só até as 22h. Assim, é preciso compreender que as referências encontradas na imprensa sobre audiência das 22h em meados da década de 1970 vêm de boletins colhidos de pequena amostragem, num sistema ainda em implantação. Essas informações têm alcance ainda mais restrito que aquelas referentes ao horário nobre – que, mesmo elas, precisam ser compreendidas em suas limitações de metodologia.

Na década de 1970, a grade de programação da Globo apresentava das 20h às 22h (o horário nobre): (a) o Jornal Nacional, (b) uma telenovela, e (c) um show musical ou humorístico. A telenovela das 22h vinha depois dos shows. Seguem dois exemplos de 1974, quando era exibida O espigão, conforme o jornal Folha de São Paulo:

9 set. 1974
19h45 – Jornal Nacional
20h25 – Fogo sobre terra (novela de Janete Clair)
21h – Satiricon (humorístico, sátira dos meios de comunicação)
21h55 – Plantão Globo
22h - O espigão (cor)

21 out. 1974
19h40 – Jornal Nacional
20h00 – Fogo sobre terra
20h50 – Globo Repórter Aventura (cor)
21h45 – O espigão (cor)

Quanto à audiência, podem ser encontradas algumas referências em reportagens de época. O horário das 22h costumava ter público estável, mas menor que a faixa das 19h às 20h (TÁVOLA, 25 nov. 1974). Seria um público habitual das classes A e B, e menor nas classes C e D (ISABEL MARIA, 23 jul. 1975)."