Alguns anos atrás, disse num jantar entre amigas que não considerava o aborto uma grande questão. Muitas estranharam. Agora, em meio a esse debate tosco por causa das eleições, resolvi organizar algumas idéias.
De certo modo, me incomoda que a questão do aborto vire a "grande" questão feminina aqui no Brasil. Antes de discutir isso, deveria haver um projeto sério e generoso de orientação e planejamento familiar disponível a todos.
Acho que deveríamos considerar a situação concretamente:
- O aborto já é legal em alguns casos (estupro, risco de vida p/ a mãe, etc), e mesmo assim muitas mulheres têm dificuldade quando decidem optar por esse direito nos hospitais públicos.
- Para quem tem dinheiro, o aborto é legal na prática. Até onde eu saiba, não há nenhum promotor público caçando clínicas que realizam esse procedimento de maneira segura.
- Considerando que houvesse uma lei que tornasse o aborto legal. Como isso funcionaria no sistema público de saúde?
Hoje há pessoas que morrem na fila esperando por operações simples e sem dilemas morais - inclusive partos. Acho meio cretino o argumento em defesa da legalização, dizendo que morre uma mulher numa clínica clandestina a cada dois dias.
Pois bem, se o aborto fosse legalizado, e o atendimento de saúde pública continuasse como está... será que as mulheres que desejassem abortar procurariam um hospital público, ou continuariam indo a qualquer buraco, pra resolver o assunto sem filas e constrangimentos?
Acho que antes de ser "contra" ou "a favor", deveríamos nos preocupar em definir melhor o problema.
2 comentários:
é verdade, sabina. nunca tinha pensado isso e você tem razão.
Concordo que perdeu-se um pouco (se não totalmente)a noção de que é a civilização que faz as leis e não o contrário. Não adianta mudar a lei simplesmente, ela não faz as engrenagens se encaixarem por milagre.
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