Uma moça, amiga de ex-alunos, me escreveu comentando uma postagem antiga, chamada "Datas". Blog é uma coisa curiosa... menos passageiro do que parece.
Nessa postagem, há um relatório de minhas tentativas de escrever, entre 1997 e 2005. Pensei em completar a lista até hoje.
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Setembro e outubro de 2002 (aproximadamente)
Comecei os primeiros parágrafos de Infância, escrevendo às vezes no trem, indo para a aula na UMC, Universidade de Mogi das Cruzes.
Estava lendo A fugitiva. Os primeiros parágrafos seguiam o estilo de Proust, e não evoluíram.
Em algum momento no segundo semestre de 2002
Organizei um resumo dos capítulos de Infância, com uma linha de ação e esboço dos personagens principais.
Janeiro de 2003
Recomecei os primeiros capítulos de Infância, com base no novo resumo, enquanto fazia um curso de alemão em Berlim. Me forçava a escrever um pouco todo dia, num caderno.
Primeiro semestre de 2003
Continuei os primeiros capítulos, já em São Paulo. Escrevi cerca de 40 páginas. Em agosto desse ano comecei a trabalhar como coordenadora de curso na Faculdade, e deixei o livro de lado.
Primeiro semestre de 2004
Em viagem de três meses à França, com o cabrito, e licença na faculdade. Percebi que as 40 páginas estavam cansativas, não tinha ritmo. Revisei o texto, cortei partes, consegui organizar quatro capítulos razoáveis.
Julho, Agosto de 2005
Depois de um período tumultuado - Calcinha foi lançado em março, casei em abril, em junho pedi afastamento da função de coordenadora, em julho tive uma crise de mania - voltei a escrever Infância, e cheguei até o último capítulo. Nessa época o livro tinha uma introdução confessional, e alguns jogos de metalinguagem. Mudei o título para Enquanto explodia. O final era essencialmente metalinguístico. Mandei para srta. Y, que me telefonou logo, dizendo que achava interessante.
Final de 2005 (provavelmente)
Srta. Y me devolve o manuscrito de Enquanto explodia comentado pelo sr. X. Ele odiou o recurso de metalinguagem, que considerou "velho e batido".
A crise de mania tinha passado, e tive uma depressão muito forte.
Primeiro semestre de 2006
Passei praticamente um ano sem fazer nada além do básico. Dava 4 aulas por semana, e passava o resto do dia lendo e dormindo no sofá. Escrevi nesse período, com muita dificuldade, textos mensais para a revista TPM, na coluna Casada / Solteira. Era muito difícil escrever. Eu fazia um esforço enorme, não tinha energia nem idéias.
Segundo semestre de 2006 (provavelmente)
Passou o período mais grave da depressão, mas eu ainda não tinha muita energia. Voltei a revisar Enquanto explodia, tirando as passagens de metaliguagem. Mudei o título para O afeto. Precisei criar novas cenas, porque a história ficava muito frágil sem as digressões.
Fevereiro de 2007
Considerei que essa versão limpa do livro estava pronta, e enviei a srta. Y. Mudei o título para O afeto, adaptando uma sugestão do cabrito.
Outubro de 2007
Conversei com sr. W. Comentei que o livro havia sido recusado uma vez, e a segunda avaliação estava demorando (ou já havia segunda recusa?). Ele recomendou que eu publicasse em qualquer editora pequena, e escrevesse outro. Comentou com pena que certos escritores escreveram pouco em suas vidas por excesso de revisão.
Algum momento no segundo semestre de 2007 (provavelmente)
Como praxe, esperei passar 4 meses para perguntar à editora qual a avaliação da nova versão do livro. Srta. Y marcou uma conversa comigo, e explicou que os novos leitores consideraram o conjunto sem graça, como se faltasse alguma coisa.
Saí dessa conversa com certa raiva, desejando fazer uma revisão forte no enredo, para mostrar que a história era boa e tinha graça.
Fevereiro de 2008
O cabrito sugeriu que eu reescrevesse o livro usando verbos no presente, como um diário. Ele achava que o tom de memórias enfraquecia o texto. Fiz uma tentativa mas tive dúvidas. Enviei a srta. Y, e marcamos um café. Ela sugeriu que eu recuperasse as páginas cortadas da primeira versão metalinguística. Disse que havia um estranhamento ali, que era interessante.
Meados de 2008 (aproximadamente)
Revisei O afeto, criando novas cenas, com conflitos, suspense e climax. Revisei o comportamento dos personagens. Usei técnicas de dramaturgia, que conheço bem por causa do trabalho em roteiro. Também recuperei as passagens antigas, como sugeriu srta. Y.
Novembro de 2008
Enviei o manuscrito revisado para srta. Y.
Fevereiro de 2009
O livro foi recusado novamente, e definitivamente. Srta. Y sugeriu que eu o deixasse na gaveta, para eventualmente ser lançado como terceiro livro. Ela considerava arriscado lançar um segundo livro que "passasse despercebido". Respondi que não poderia deixar este livro na gaveta em favor de um terceiro que ainda não existia. Ela temia que isso significasse um rompimento com a editora. Respondi que eu não poderia romper uma ligação que não existia. A conversa foi tensa.
Julho a Setembro de 2009
Escrevi a alguns outros editores, dois ou três. Mandei o livro para o sr. K, por sugestão de um amigo. Sr. K trabalha numa boa editora e é também um bom escritor.
Ele leu rápido e gostou. Deu sugestões sensíveis e inteligentes sobre o primeiro capítulo. Fiz a revisão e enviei novamente o original à editora, para seguir o processo de avaliação.
Novembro de 2009
Enviei o original para um concurso de apoio à publicação do Governo do Estado. Foi classificado como vigésimo segundo suplente.
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