Na casa de minha amiga Eliany, encontro uma cópia de Meu jantar com André, de Louis Malle. Foi digitalizada a partir de um VHS gravado da televisão. Tem o logo do Eurochannel - deve ter sido exibido há uns dez anos, quando esse canal ainda tinha uma programação decente.
Assisti aos primeiros vinte minutos. Depois de uma introdução sobre André, os dois amigos se encontram num restaurante e começam a conversar. O filme inteiro se passa ali, segundo me disseram.
Logo na primeira pergunta - "O que você andou fazendo nos últimos anos?" - André conta sua experiência com Grotowski. Este o tinha convidado para um curso de teatro na Polônia. André recusa. Está em crise, não acredita mais no teatro, não tem o que dizer.
Grotowski pergunta: - O que eu poderia oferecer para você aceitar o convite?
André - Bem, se você conseguir 40 mulheres judias, que não falem inglês nem francês, toquem gaita ou trompete, estejam em crise com o teatro, e uma floresta para nos instalarmos, então eu vou.
Grotowski consegue praticamente tudo: as mulheres não são judias, nem todas tocam trompete, mas sabem sim tocar algum instrumento. Além disso, ele conseguiu também 40 homens que preenchem aproximadamente os mesmos critérios. E conseguiu a floresta.
André - Como eu poderia recusar?
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
terça-feira, 24 de novembro de 2009
A amante Bettina
Estou aqui na faculdade, sem tempo de escrever algo decente. Então segue uma sinopse que não o é. Às vezes a uso em aula.
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DE CORPO E ALMA
Telenovela de Glória Perez, exibida entre agosto de 1992 e março de 1993.
RESUMO DO ENREDO:
Diogo, um juiz casado, decide fugir para Roma com a amante Bettina, mas desiste na última hora e deixa a moça esperando no aeroporto. Descontrolada com o abandono, ela sofre um grave acidente de carro. A morte cerebral é diagnosticada, e o coração da moça é transplantado em Paloma, que esperava uma doação.
Ao saber da notícia, Diogo fica obcecado pela idéia de que o coração da mulher que amou ainda bate no peito de outra pessoa. Ele se aproxima de Paloma e se apaixona. Casada com Juca, ela não sabe que o marido é striper da boate Clube das Mulheres. Encantada com o gentil Diogo, Paloma também se apaixona por ele.
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DE CORPO E ALMA
Telenovela de Glória Perez, exibida entre agosto de 1992 e março de 1993.
RESUMO DO ENREDO:
Diogo, um juiz casado, decide fugir para Roma com a amante Bettina, mas desiste na última hora e deixa a moça esperando no aeroporto. Descontrolada com o abandono, ela sofre um grave acidente de carro. A morte cerebral é diagnosticada, e o coração da moça é transplantado em Paloma, que esperava uma doação.
Ao saber da notícia, Diogo fica obcecado pela idéia de que o coração da mulher que amou ainda bate no peito de outra pessoa. Ele se aproxima de Paloma e se apaixona. Casada com Juca, ela não sabe que o marido é striper da boate Clube das Mulheres. Encantada com o gentil Diogo, Paloma também se apaixona por ele.
sábado, 21 de novembro de 2009
Recontado em português
Estou talvez enganada, no google não encontrei resposta rápida.
De todo modo, desde que li No caminho de Swann sinto curiosidade pelos livros infantis que ele menciona. Gravei o nome da Condessa de Ségur, mas pode ser um erro.
Num sebo em Curitiba, encontrei uma edição de 1972 da Ediouro (talvez reimpressão, mas não está indicado): O general Durakine, "recontado em português por Herberto Sales".
Gosto de livros adaptados. Às vezes, sem tempo de ler certos clássicos, compro a versão infanto-juvenil.
Agora, cansada, esse livro me acalma muito.
De todo modo, desde que li No caminho de Swann sinto curiosidade pelos livros infantis que ele menciona. Gravei o nome da Condessa de Ségur, mas pode ser um erro.
Num sebo em Curitiba, encontrei uma edição de 1972 da Ediouro (talvez reimpressão, mas não está indicado): O general Durakine, "recontado em português por Herberto Sales".
Gosto de livros adaptados. Às vezes, sem tempo de ler certos clássicos, compro a versão infanto-juvenil.
Agora, cansada, esse livro me acalma muito.
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
Todos os canhões
Trecho da Felicidade conjugal de Tolstoi, edição de bolso da L&PM, tradução de Maria Aparecida Botelho Pereira Soares (muitos nomes!).
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"Lembrei-me vivamente de uma conversa que nós três tivéramos alguns dias antes. Kátia havia dito que é mais fácil para o homem amar e expressar o seu amor do que para a mulher.
- O homem pode dizer que está apaixonado, mas a mulher, não - disse ela.
- Pois eu penso que o homem também não deve e não pode dizer que está apaixonado - disse ele.
- Por quê? - perguntei.
- Porque será sempre uma mentira. Que tipo de descoberta é essa, de que uma pessoa está amando? Como se, dizendo isso, alguma coisa desse um estalo: clique! - e algo fora do comum deveria acontecer, algum sinal, como todos os canhões atirando ao mesmo tempo, por exemplo. Penso - continuou - que quem pronuncia as palavras "eu te amo" ou está se enganando, ou está enganando os outros, o que é pior."
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Agradeço à sugestão de Luciana Araújo.
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"Lembrei-me vivamente de uma conversa que nós três tivéramos alguns dias antes. Kátia havia dito que é mais fácil para o homem amar e expressar o seu amor do que para a mulher.
- O homem pode dizer que está apaixonado, mas a mulher, não - disse ela.
- Pois eu penso que o homem também não deve e não pode dizer que está apaixonado - disse ele.
- Por quê? - perguntei.
- Porque será sempre uma mentira. Que tipo de descoberta é essa, de que uma pessoa está amando? Como se, dizendo isso, alguma coisa desse um estalo: clique! - e algo fora do comum deveria acontecer, algum sinal, como todos os canhões atirando ao mesmo tempo, por exemplo. Penso - continuou - que quem pronuncia as palavras "eu te amo" ou está se enganando, ou está enganando os outros, o que é pior."
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Agradeço à sugestão de Luciana Araújo.
domingo, 15 de novembro de 2009
Fantasmas do passado
Cinema e Vídeo Contemporâneos II
prof: Teixeira Coelho
aluna: Sabina Anzuategui
setembro/96
"(...) Syberberg and Cultural Revolution"
Eu sempre achei que era inteligente, professor. Na verdade acreditar na minha inteligência é o que me mantém viva, por dramático que possa parecer. Mas eu nunca acreditei em Deus, nunca fui rica e nem muito bonita. Se eu não acreditasse que tenho uma sensibilidade especial pra entender o mundo e a capacidade de filtrar essas percepções em histórias, resumindo, se eu não acreditasse no meu talento pra escrever, eu não sei o que eu faria da vida.
Tudo isso estou dizendo porque foi difícil, pra mim, entrar na ECA. Passei fácil no vestibular, levando-se em conta que quase não estudei; a dificuldade esteve no curso do Ismail Xavier. Eu adorava as aulas; as coisas que ele dizia sobre teoria do cinema, o cinema experimental, eram quase mágicas pra mim, porque era todo um mundo complexo de idéias, profundas e organizadas, que eu nunca imaginei que existisse. Enfim: o tanto que eu admirava aquilo, era natural que quisesse produzir trabalhos a altura, algum texto que o professor lesse e elogiasse, achasse inteligente.
Deu-se que esses textos de teoria, eu nunca consegui escrever um que prestasse. Passei pelo curso do Ismail como uma aluna medíocre, e demorou um tempo até eu me reabilitar. As coisas que eu lia antes de entrar na ECA - ficção científica, quadrinhos, filmes de terror - eu deixei de lado; fiquei um tempão só vendo Antonioni e Bressane. Tudo somado, eu achei que estava mais madura, agora no final do curso.
Mas esse texto do Jameson me pegou com as calças na mão. Do que este homem está falando, meu Deus? Alguma coisa, claro, eu entendo. É que nem pegar um livro de veterinária: não entendo do assunto mas sei mais ou menos como se organiza um discurso, e assim dá pra sacar o que está sendo discutido.
Mas e nesse caso? Eu sei mais ou menos quem foi Hegel, conheço mais ou menos a Segunda Guerra, sei mais ou menos do Godard. Mas eu tinha tirado tudo o que eu sabia mais-ou-menos da minha cabeça pra sobreviver intelectualmente aqui na ECA, e me fechado num mundinho de dois ou três personagens - que eu ficava rearranjando, e davam histórias que as pessoas gostavam, garantindo meu lugar entre os inteligentes ou talentosos. Essa história toda da Alemanha e da "revolução cultural", agora, parece que não cabe mais na minha cabeça.
prof: Teixeira Coelho
aluna: Sabina Anzuategui
setembro/96
"(...) Syberberg and Cultural Revolution"
Eu sempre achei que era inteligente, professor. Na verdade acreditar na minha inteligência é o que me mantém viva, por dramático que possa parecer. Mas eu nunca acreditei em Deus, nunca fui rica e nem muito bonita. Se eu não acreditasse que tenho uma sensibilidade especial pra entender o mundo e a capacidade de filtrar essas percepções em histórias, resumindo, se eu não acreditasse no meu talento pra escrever, eu não sei o que eu faria da vida.
Tudo isso estou dizendo porque foi difícil, pra mim, entrar na ECA. Passei fácil no vestibular, levando-se em conta que quase não estudei; a dificuldade esteve no curso do Ismail Xavier. Eu adorava as aulas; as coisas que ele dizia sobre teoria do cinema, o cinema experimental, eram quase mágicas pra mim, porque era todo um mundo complexo de idéias, profundas e organizadas, que eu nunca imaginei que existisse. Enfim: o tanto que eu admirava aquilo, era natural que quisesse produzir trabalhos a altura, algum texto que o professor lesse e elogiasse, achasse inteligente.
Deu-se que esses textos de teoria, eu nunca consegui escrever um que prestasse. Passei pelo curso do Ismail como uma aluna medíocre, e demorou um tempo até eu me reabilitar. As coisas que eu lia antes de entrar na ECA - ficção científica, quadrinhos, filmes de terror - eu deixei de lado; fiquei um tempão só vendo Antonioni e Bressane. Tudo somado, eu achei que estava mais madura, agora no final do curso.
Mas esse texto do Jameson me pegou com as calças na mão. Do que este homem está falando, meu Deus? Alguma coisa, claro, eu entendo. É que nem pegar um livro de veterinária: não entendo do assunto mas sei mais ou menos como se organiza um discurso, e assim dá pra sacar o que está sendo discutido.
Mas e nesse caso? Eu sei mais ou menos quem foi Hegel, conheço mais ou menos a Segunda Guerra, sei mais ou menos do Godard. Mas eu tinha tirado tudo o que eu sabia mais-ou-menos da minha cabeça pra sobreviver intelectualmente aqui na ECA, e me fechado num mundinho de dois ou três personagens - que eu ficava rearranjando, e davam histórias que as pessoas gostavam, garantindo meu lugar entre os inteligentes ou talentosos. Essa história toda da Alemanha e da "revolução cultural", agora, parece que não cabe mais na minha cabeça.
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
Chewbacca a postos
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
Rogério Skylab
Parece que esse cara apareceu no Jô e foi um espanto.
Mistura de rock deprê dos anos 80, besteirol e espírito geek. A história se repete como farsa?
Mistura de rock deprê dos anos 80, besteirol e espírito geek. A história se repete como farsa?
sábado, 7 de novembro de 2009
Zeitgeist
Passei os últimos dias escrevendo um projeto de pesquisa, para a faculdade onde trabalho. Resolvi fazer uma introdução mais pessoal, não sei se vai funcionar.
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"Desde 2008, em minha pesquisa de doutorado sobre a telenovela O grito (Jorge Andrade, Globo, 1975) tento recuperar uma questão discutida pelo prof. Carlos Augusto Calil em meu curso de graduação. Em suas aulas sobre o cinema brasileiro, ele analisava um hiato de geração – uma ruptura no modo de pensar, produzir e criar, entre a produção dos anos 1970 (o cinema marginal) e dos anos 80 (o neon-realismo).
Esse hiato, compreendido de maneira mais ampla, de algum modo explicava meu desconforto ao apresentar, em seminários de pesquisa, o trabalho desenvolvido sobre a década de 1970 - época em que nasci, e não testemunhei de forma consciente.
Mesmo pesquisando com dedicação, eu me sentia constrangida ao expor minhas considerações a outros pesquisadores mais velhos, que tinham vivido os anos 70 jovens ou adultos.
Por que essa vergonha? A inquietação me conduziu a outras dúvidas: por que a vontade de pesquisar um passado tão recente? Por que os estudos já publicados, em maioria escritos por gente que vivenciou o período, não respondiam completamente às minhas perguntas?
(...)
Retomando o hiato de geração já mencionado: vários fatores históricos contribuíram para que a memória cultural dos anos 1960 e 1970 fosse parcialmente esquecida – ou melhor, retomada de modo seletivo, valorizando alguns aspectos e obliterando outros. De modo resumido, poderíamos mencionar: a mudança curricular efetuada pelo governo militar no ensino médio e fundamental; a ausência de certas vozes públicas – por censura, mudança de posição, exílio ou morte; a penetração massiva da mídia televisiva no país, interferindo em hábitos culturais e reforçando a importância social de consumo; um novo zeitgeist valorizando a alegria e o deboche, denunciando cansaço em relação à esquerda militante."
- - -
OBS: Paulo, no texto incluí os livros que você indicou e citei seu nome... questão de justiça - obrigada.
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"Desde 2008, em minha pesquisa de doutorado sobre a telenovela O grito (Jorge Andrade, Globo, 1975) tento recuperar uma questão discutida pelo prof. Carlos Augusto Calil em meu curso de graduação. Em suas aulas sobre o cinema brasileiro, ele analisava um hiato de geração – uma ruptura no modo de pensar, produzir e criar, entre a produção dos anos 1970 (o cinema marginal) e dos anos 80 (o neon-realismo).
Esse hiato, compreendido de maneira mais ampla, de algum modo explicava meu desconforto ao apresentar, em seminários de pesquisa, o trabalho desenvolvido sobre a década de 1970 - época em que nasci, e não testemunhei de forma consciente.
Mesmo pesquisando com dedicação, eu me sentia constrangida ao expor minhas considerações a outros pesquisadores mais velhos, que tinham vivido os anos 70 jovens ou adultos.
Por que essa vergonha? A inquietação me conduziu a outras dúvidas: por que a vontade de pesquisar um passado tão recente? Por que os estudos já publicados, em maioria escritos por gente que vivenciou o período, não respondiam completamente às minhas perguntas?
(...)
Retomando o hiato de geração já mencionado: vários fatores históricos contribuíram para que a memória cultural dos anos 1960 e 1970 fosse parcialmente esquecida – ou melhor, retomada de modo seletivo, valorizando alguns aspectos e obliterando outros. De modo resumido, poderíamos mencionar: a mudança curricular efetuada pelo governo militar no ensino médio e fundamental; a ausência de certas vozes públicas – por censura, mudança de posição, exílio ou morte; a penetração massiva da mídia televisiva no país, interferindo em hábitos culturais e reforçando a importância social de consumo; um novo zeitgeist valorizando a alegria e o deboche, denunciando cansaço em relação à esquerda militante."
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OBS: Paulo, no texto incluí os livros que você indicou e citei seu nome... questão de justiça - obrigada.
quarta-feira, 4 de novembro de 2009
terça-feira, 3 de novembro de 2009
Wally Sailormoon
Comprei Impressões de viagem - CPC, vanguarda e desbunde, por sugestão do Paulo.
O livro foi recentemente reeditado, e o encontrei no site do supermercado Extra!
Segue um poema de Wally Salomão - na época denominado Sailormoon - citado na página 86:
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Materialismo dialético e psicanálise
As duas filhas família comentam as suas sessões de análise. Uma delas vai pra Inglaterra prosseguir análise com o analista ídolo do seu pai.
A outra fala dos rapazes que frequentam as sessões drogados e que portanto não podem ter seus problemas resolvidos.
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Comentário meu:
Deus santo: passaram trinta anos e a cena poderia muito bem acontecer na porta do colégio Santa Cruz.
O livro foi recentemente reeditado, e o encontrei no site do supermercado Extra!
Segue um poema de Wally Salomão - na época denominado Sailormoon - citado na página 86:
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Materialismo dialético e psicanálise
As duas filhas família comentam as suas sessões de análise. Uma delas vai pra Inglaterra prosseguir análise com o analista ídolo do seu pai.
A outra fala dos rapazes que frequentam as sessões drogados e que portanto não podem ter seus problemas resolvidos.
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Comentário meu:
Deus santo: passaram trinta anos e a cena poderia muito bem acontecer na porta do colégio Santa Cruz.
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