domingo, 15 de novembro de 2009

Fantasmas do passado

Cinema e Vídeo Contemporâneos II
prof: Teixeira Coelho
aluna: Sabina Anzuategui
setembro/96


"(...) Syberberg and Cultural Revolution"


Eu sempre achei que era inteligente, professor. Na verdade acreditar na minha inteligência é o que me mantém viva, por dramático que possa parecer. Mas eu nunca acreditei em Deus, nunca fui rica e nem muito bonita. Se eu não acreditasse que tenho uma sensibilidade especial pra entender o mundo e a capacidade de filtrar essas percepções em histórias, resumindo, se eu não acreditasse no meu talento pra escrever, eu não sei o que eu faria da vida.

Tudo isso estou dizendo porque foi difícil, pra mim, entrar na ECA. Passei fácil no vestibular, levando-se em conta que quase não estudei; a dificuldade esteve no curso do Ismail Xavier. Eu adorava as aulas; as coisas que ele dizia sobre teoria do cinema, o cinema experimental, eram quase mágicas pra mim, porque era todo um mundo complexo de idéias, profundas e organizadas, que eu nunca imaginei que existisse. Enfim: o tanto que eu admirava aquilo, era natural que quisesse produzir trabalhos a altura, algum texto que o professor lesse e elogiasse, achasse inteligente.

Deu-se que esses textos de teoria, eu nunca consegui escrever um que prestasse. Passei pelo curso do Ismail como uma aluna medíocre, e demorou um tempo até eu me reabilitar. As coisas que eu lia antes de entrar na ECA - ficção científica, quadrinhos, filmes de terror - eu deixei de lado; fiquei um tempão só vendo Antonioni e Bressane. Tudo somado, eu achei que estava mais madura, agora no final do curso.

Mas esse texto do Jameson me pegou com as calças na mão. Do que este homem está falando, meu Deus? Alguma coisa, claro, eu entendo. É que nem pegar um livro de veterinária: não entendo do assunto mas sei mais ou menos como se organiza um discurso, e assim dá pra sacar o que está sendo discutido.

Mas e nesse caso? Eu sei mais ou menos quem foi Hegel, conheço mais ou menos a Segunda Guerra, sei mais ou menos do Godard. Mas eu tinha tirado tudo o que eu sabia mais-ou-menos da minha cabeça pra sobreviver intelectualmente aqui na ECA, e me fechado num mundinho de dois ou três personagens - que eu ficava rearranjando, e davam histórias que as pessoas gostavam, garantindo meu lugar entre os inteligentes ou talentosos. Essa história toda da Alemanha e da "revolução cultural", agora, parece que não cabe mais na minha cabeça.

3 comentários:

Rachel Souza disse...

"se eu não acreditasse no meu talento pra escrever, eu não sei o que eu faria da vida."
Idem!
Beijo.

Anônimo disse...

Eu tenho medo de escrever para professores.

Unknown disse...

então, assiste ao filme 'a lenda do pianista do mar', do giuseppe tornatore.