segunda-feira, 13 de julho de 2015

Diandra

"Diandra está viajando. Está no Rio de Janeiro para o curso de um software de edição de som. Ela viajou domingo à tarde, eu a levei de carro até o aeroporto de Congonhas, depois passei no supermercado e voltei pra casa. Na segunda-feira conversamos pelo telefone às nove da noite, depois assisti um documentário que me interessava e que provavelmente a ela não.

Na terça senti dor de estômago, pensei que era gastrite, mas continuei sentindo náusea ontem, deve ser uma virose ou alguma comida que me fez mal. Talvez um hamburguer mal passado que comi no almoço de segunda. Não me sinto mal a ponto de vomitar, mas meu estômago dói e sinto enjôo ao pensar em comida, e muito cansaço. Trabalhei como foi possível mas à noite senti muita falta de Diandra. É o quarto dia que ela está longe, quatro dias voltando para casa sozinha, no domingo gostei de ter a noite livre para ficar em silêncio e gastar as horas do meu jeito, mas a casa vazia hoje me pesou.

A decisão de ficar sozinha quando Diandra viaja, não fugir disso telefonando ou marcando algo com alguém, não é fácil para mim. Tomei algumas decisões sobre o uso do meu tempo, e também sobre como quero me comportar, ler e estudar mais, pensar, me concentrar, e depender menos da satisfação rápida por estímulo imediato. Desde talvez os treze ou catorze anos, nos momentos de cansaço, depois de um dia ou semana de atividades, minha reação para relaxar era telefonar para alguém. O prazer - a distração - o descanso - dependiam de outras pessoas. Agora decidi verificar se é possível ter prazer, distração e descanso apenas sozinha comigo.

Talvez eu tenha decidido isso, o que necessitou coragem (e necessita um esforço constante, conforme se apresentam as situações específicas), apenas porque agora tenho a companhia de Diandra. Porque não estou sozinha, em condição mais ampla. Tenho certa vergonha disso."

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