sexta-feira, 12 de junho de 2015

Sábado à noite, 1996

"- Janaína, o lance é que eu não gosto de U2. Aliás nem de metal.
- E daí? Vem com a gente, vai ser legal.

Eu tinha dezessete anos e o objetivo vital de conhecer gente diferente. Tudo o que envolvesse a Suzana e o Vinícius estava definitivamente encerrado como história passada. Então eu precisava de uma nova amiga ou então ia passar mais um fim de semana chato com minha avó e o namorado dela ou indo ao cinema sozinha. Janaína não era bem a companhia que eu tinha imaginado, a ideia de sair da Granja era descobrir pessoas originais ou avançadas ou alguma coisa assim, mas de tão relaxada ela ficava engraçada e o principal é que ela já tinha 20 anos. Não eram dezessete, mas vinte, e dois anos de experiência na maioridade me impressionavam muitíssimo.

Minha avó não gostou muito desse programa de sábado à noite na Cardeal Arcoverde.

- Você vai voltar como? - o tom de desagrado já indicava que ela não iria me buscar.
- Posso ver com as meninas.
- Você nem conhece essas meninas direito.

O dia seguinte teve momentos de negociação, perguntei a Janaína mais detalhes sobre o programa, e finalmente minha avó concordou que se eu voltasse pra Granja até a meia-noite, quando ainda tinha ônibus.

- Você desce no ponto da pizzaria e me liga de lá - ela disse. - Me espera na entrada e eu vou te buscar.

Janaína riu desse esquema - que Cinderella, ela disse - mas avisei que era isso ou nada. No sábado me arrumei, desci até a Raposo logo depois das sete e peguei o ônibus para Pinheiros. Encontrei Janaína e as amigas na frente do lugar que se chamava Quadrophenia (ópera rock do The Who, ela me explicou), duas garotas meio no estilo da Janaína, de jeans e sapatos de camurça de cano alto. Samara e Glaucia. O toque sábado à noite se resumia a blusas mais justas, batom e lápis no olho.

- Mas você tem mesmo que voltar à meia noite? - Janaína insistiu ainda na porta - Meia noite é foda. Liga pra tua avó, você pode dormir na minha casa. Eu juro que a gente vai de taxi, é perto.
- Nessa área não tem renegociação com minha avó. Nada feito.
- Será que vale a pena entrar? - Glaucia perguntou - A cerveja é cara e o show começa onze e meia, nem vai dar pra assistir.
- Vocês não precisam sair comigo.
- A gente não vai deixar você ir pro ponto de ônibus sozinha. Menor de idade não pode - elas riram.

Eram oito e pouco e da calçada dava pra ver que o lugar ainda estava vazio. Entrada larga de galpão, lá dentro um piso preto, sem mesas, sem nada. A moça da bilheteria em total desinteresse.

- E se a gente fosse tomar uma cerveja no Pitangueiras? Cerveja a três reais.
- Boa.
- Fechou."

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