Conversando uso muito as palavras "flash" e "flashback". A lembrança involuntária me interessa, nos livros de Philip Dick, na "Psicopatologia da vida cotidiana", nas substâncias alucinógenas.
Mas como escrever "flash" num livro escrito em português? Não vejo sentido, hoje, na mistura de palavras estrangeiras em estilo modernista. O uso de palavras americanas é comum no cotidiano, e seria preciso inventar algum filtro que justificasse essas palavras em estilo literário. Esses filtros não combinam comigo. Gosto de escrever de modo purista, com linguagem precisa e gramatical. Não é o purismo pelo português; é simplesmente um purismo.
Existem traduções em português para "flash": lampejo, faísca. Mas "lampejo" é antigo e lusitano demais. E "faísca" me remete a fogueiras e festas juninas.
Escrevi assim:
"Isso durou muito tempo, e no outro dia, com dor de cabeça, alguns fragmentos da noite surgiam repentinamente em minha memória, misturados a sensações antigas do início de nossa relação."
3 comentários:
Que tal "clarão"?
É bonito para a luz. Mas e flashes de memória?
Gosto muito de "fragmentos da noite". Essa imagem abriu mais gavetas na minha cabeça: pensei em estilhaços, pedaços cortantes desta memória que se disse mais precisa, assim, do que se você usasse "flash".
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