terça-feira, 22 de junho de 2010

Quanto mais quente melhor

Hoje, em aula, lembrei de umas sugestões de Billy Wilder que apareceram na Folha de São Paulo há alguns anos. Graças à internet e minha memória vaga, encontrei a matéria original, de 19 de novembro de 1999:

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Billy Wilder, cínico, entrega Billy Wilder
AMIR LABAKI
da equipe de articulistas



"Conversations with Wilder", recém-lançado nos EUA, ilumina pontos obscuros da vida do cineasta Billy Wilder, por meio de sua própria narração. (...)

Wilder nos conduz também a um delicioso "tour" pelos bastidores de sua estupenda obra. Ele mesmo começa por renunciar a qualquer importância. "Minha única ambição era entreter. Entreter, não me repetir e fazer o menor número de erros", anuncia logo nas primeiras páginas.

Para ele, "wilderiano" é um adjetivo sem sentido. "Não desenvolvi um estilo próprio, com uma exceção, talvez: fazia tudo a sério, fosse uma comédia ou não."

Wilder considera exagerada sua classificação como o mais cínico dos cineastas hollywoodianos. "Irônico, talvez", diz. Apenas um de seus títulos mereceria a etiqueta do cinismo: "A Montanha dos Sete Abutres", sobre um repórter que fatura com o desnecessário adiamento do salvamento de um acidentado. "Era como o filme deveria ser", explica. (...)

No livro, Wilder reafirma que seu maior mestre foi Ernst Lubitsch (1892-1947), para quem co-roteirizou "A Oitava Esposa de Barba-Azul" (1938) e "Ninotchka" (1939). "O segredo de suas comédias era deixar o público somar dois mais dois", explica. Mas não é de Lubitsch seu filme predileto: "O Encouraçado Potemkin" (1927), de Sergei Eisenstein.

(...)

O prazer maior é o de ouvir (aqui, ler) Wilder. É o grande triunfo do livro frente aos demais volumes recentes dedicados ao cineasta, da biografia autorizada já editada por aqui ("Billy Wilder e o Resto É Loucura", de Hellmuth Karasek, DBA, 1998) às duas últimas narrativas de sua vida publicadas nos EUA ("On Sunset Boulevard - The Life and Times of Billy Wilder", de Ed Sikov, Hyperion, 1998, e "Wilder Times", de Kevin Lally, Henry Holt, 1996).

Mesmo nonagenário, o diretor de "Quanto Mais Quente Melhor" nada perdeu do humor ácido que originou algumas das frases e situações mais divertidas da história do cinema. Wilder confirma-se no livro como seu maior personagem: dionisíaco, erudito, ranzinza, culturalmente conservador, curioso de tudo e de todos.

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