Sexta-feira e este blog continua abandonado.
Gasto minhas horas estudando e trabalhando, a cada dia me angustio menos por escrever pouco. Escrever dessa maneira: como pintar um quadro.
Muitos anos atrás, falava com um psicanalista. Reclamava de escrever roteiros, o que diminuía meu tempo para "escrever".
Ele: Mas escrever roteiros não é escrever?
Eu: Não.
Talvez não fosse claro, mas agora penso que escrever - desse modo - é um ato sem finalidade. Um impulso que sobrevive à ausência de resultados planejáveis: não gera dinheiro, diploma, nenhum retorno imediato.
Escrevo sempre, claro, mas raramente dessa maneira.
Estranho não sentir mais angústia. O tempo diluído, o desejo latente e conformado, a ânsia enfraquecida.
Espiritualmente talvez seja bom: querer pouco, cada vez menos, sem querer.
7 comentários:
tava pensando nisso agora mesmo, pq acabei de ver isso aqui
http://www.overstream.net/view.php?oid=lkmrs1iwill4
que escrever é diferente de escrever. e a palavra ser a mesma. mas é diferente, sim.
e pode ser só porque eu tenho até insônia, de tanta angústia, mas não acho que espiritualmente seja bom não tê-la. espiritualmente deve ser bom sair da angústia pro arrebatamento. diz que são joão da cruz ejaculava quando comungava com deus.
adorei o depoimento, concordo totalmente. mas quando assumi isso - ligar o taximetro, só trabalhar por dinheiro - diminui muito o interesse de quem poderia pagar (exatamente como ele diz).
quanto à angústia. existencialmente, acho impossível viver sem ela. mas quanto à escrita, sim. viver é mais difícil que escrever (desculpe o mau estilo) - questão de hierarquia.
hm.
eu fico pensando, saturno que é tempo-rei (ando com mania de astrologia), qual solidez a idade traz. tomara que uma angústia sólida. mas virar folhinha ao vento, também, quem sabe?
tou é começando a me conformar que não consigo escrever profissionalmente. tento e é um fracasso. parece um paradoxo, mas só se escrever for sempre escrever. então, né. ligo o taxímetro em outro carro. todo mundo é media whore the same.
mas quanto a escrever como ato sem finalidade: o impulso te pega menos? ou é que você desencana dele com mais facilidade?
Escrever com o taxímetro ligado tem seu preço para o escritor - é muito doloroso o contraste entre o amor que se tem a um trabalho e o pouco apreço que os outros têm por ele, principalmente quando há que se pagar as contas com esse pouco apreço. Mas escrever sem taxímetro significa nunca ser valorizado direito [no nosso mundo tudo que não é remunerado é visto como "brincadeira" que a gente sempre deve deixar para um "tempo livre" que às vezes só existe entre aspas]. Parece que o princípio do prazer sempre tem que se curvar ao princípio da realidade... e a gente precisa encontrar um equilíbrio mais ou menos satisfatório. Mas o equilíbrio é sempre instável... Puxa, onde foi mesmo que eu deixei aquele frasco de prozac? ;)
marcos: não é que o impulso pega menos. mas antes eu me sentia culpada por aproveitar o fim de semana, em vez de ficar escrevendo metodicamente, como sacrifício à grande arte.
agora, se não sobra tempo livre no horário comercial, foda-se.
não vou trocar meu prazer momentâneo pela esperança de uma comunhão futura e incerta.
eu não sei.
sou uma pirralha. pirralha e metida, nunca escrevi por taxímetro, embora na faculdade muitas vezes assim sentisse. e agora tenho um roteiro pra escrever, mas não vão me pagar, vou fazer por prazer.
como tendo a ver o fazer como um ofício, escrevo sempre profissionalmente, mesmo quando miudamente no diário que só eu vejo.
a angústia por não escrever vai e volta. passei umas semanas últimas sem ela, numa satisfação de ter feito e num esquecimento absoluto do ofício que me chama.
pra mim escrever é uma coisa que se obriga por si.
não é como fazer xixi, é como lavar as mãos.
então escrever metodicamente pra mim não existe. a não ser se for como o hábito de lavar, tantas vezes quantas necessárias, as mãos sempre sujas.
Estou querendo menos também, isso é fato. Só não sei ao que atribuir exatamente, se ao mestrado ou se com questões pessoais.
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