Ontem à noite conversamos sobre travessões, ponto e vírgula, O vermelho e o negro e O tempo redescoberto.
Segue um trecho, para minha amiga Simone:
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"Para ter sido aplaudida, a atriz deve sem dúvida ter feito alguma paráfrase de La Fontaine", pensava a pobre senhora. Ora, Gilberte, até então impassível, reforçou-lhe sem querer essa idéia, pois, não gostando de Rachel e querendo significar que a tal interpretação pouco restava da fábula, exprimiu-se com a sutileza do pai, que deixava em suspenso as pessoas ingênuas. Habitualmente, mais tocada pelo modernismo, embora filha de Swann - como pato chocado por galinha -, adotava a maneira dos poetas lakistas e se limitava a dizer: "Foi tocante, de encantadora sensibilidade". Mas à sra. de Morenval respondeu com a fantasia de Swann, desorientadora para quem toma tudo ao pé da letra: "Um quarto é invenção da intérprete, um quarto loucura, um quarto sem sentido, e o resto de La Fontaine", o que induziu a outra a afirmar que não se ouvira Lex deux pigeons, de La Fontaine, e sim uma adaptação, da qual quando muito uma quarta parta seria de La Fontaine, o que, dada a extraordinária ignorância do público, a ninguém espantou."
(O tempo redescoberto, tradução Lúcia Miguel Pereira, editora Globo, p. 255)
5 comentários:
e, muito bom.
Beijos
Eu invejo a habilidade de Proust de construir um labirinto e conseguir sair dele sem tropeções. É quase um balé verbal. E por falar nisso: "Vc prefere aspas or travessão?"
Prefiro travessão. Uso aspas somente para frases mencionadas no meio do parágrafo. Muitas vezes, então, aparecem aspas e travessões.
Uma revisora na editora implicou com isso. Mas já vi outros livros assim.
Pois é, essas implicâncias de revisor são de amargar. Eu já vi os dois juntos e mais itálicos em combinações diferentes várias vezes. E descobri recentemente versões originais dos contos de Guimarães Rosa com negrito nos diálogos.
Em geral não sou muito entusiasta de experimentos gráficos em romances. Prefiro usar um padrão, gosto de um estilo em que a técnica quase não aparece.
Uma espécie de classismo ou minimalismo, sei lá.
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