Segundo minha mãe, meu pai quando jovem admirava a família dela, de italianos, que gritavam e riam e falavam tudo uns na cara dos outros. Ele achava bacana, comparando com a família dele, galegos, um gente medrosa e enrustida que engolia as raivas e ia acumulando ódios em silêncio.
São informações distantes e distorcidas... quando meu pai teria falado dessa admiração para minha mãe? Quando eu era criança, 30 anos atrás? Talvez antes, quando eram namorados e eu nem tinha nascido? E quando minha mãe contou isso pra mim? Há dez anos já? O comentário inicial, qual tenha sido, está disperso nas nuvens da memória.
De todo modo, simbólica e até literariamente, existem essas figuras do italiano aberto, que responde alto, fala tudo, e do português/galego mesquinho, econômico e enrustido.
Tenho as duas heranças culturais e entendo na pele o que as duas significam.
Mas, honestamente, acho as distinções mais simbólicas do que reais. Do mesmo modo que odeio generalizações entre homem e mulher ("os homens são assim, as mulheres são assado..."), também desconfio das generalizações nacionais. Pra mim valem tanto quanto astrologia, sem demérito desta. Algum valor têm: são referências a partir das quais tentamos nos compreender e definir, já que a noção de "indivíduo" não é espontânea nem inata, e sim construída. Mas, se olhamos no detalhe, não há nenhuma generalização possível entre um homem italiano de peixes e uma mulher galega de áries.
Dito isso, hoje, simbolicamente, ando num humor "mulher-italiana-de-gêmeos". Ou seja, estou falando tudo que me passa pela cabeça.
E digo uma coisa: falar alivia muito.
Se incomodar alguém, que me mandem calar a boca. E posso responder como criança: "cala-boca já morreu, quem manda na minha boca sou eu".
Um comentário:
Fala tudo que vem à cabeça não é nacionalidade. É estado de espírito!
Eu mesma estou nessa fase...muitas vezes já tive que me segurar. Mas senti o ardor por dentro, querendo explodir.
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