segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Mas não era metalinguagem...

No meu site antigo, estão os primeiros capítulos da primeira versão de "O afeto", que comecei a escrever em 2002.

Lendo, hoje, sinto que algo ali era melhor que o resultado final. Mais reflexivo, menos limpo, menos ágil. E realmente não era metalinguagem, apenas um relato direto sem forjar um "narrador" literário.

Enfim... o começo era assim:

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"Será talvez uma maneira simplória de apresentar as coisas, sem moldá-las num conjunto que torne enigmática a relação entre os fatos, mas depois de várias tentativas de organização, sem nenhum resultado que continuasse estimulante depois de alguns dias, me ocorreu que seria melhor assumir, em minha própria voz, este ponto de partida. Há uma história que desejo escrever, a partir de lembranças de quando tinha doze anos. Esta história tem algumas cenas que me parecem tão importantes; os pés de minha amiga Paula no vestiário da aula de natação; as mãos viradas dela, num gesto vaidoso de melodrama que me irritou quando ensaiávamos a peça na escola; o apoio de Aramis quando meu cachorro morreu; sua agressividade quando entramos na sétima série. São cenas que eu tinha perdido na memória, ofuscadas por alguns fatos que aconteceram mais tarde e deixaram minha lembrança turva, presa num mecanismo viciado de obsessões afetivas e carências crônicas. Quando me vi libertada desta angústia, depois de sofrimentos autoinfligidos e períodos de isolamento profundo, aos poucos foram voltando à minha mente imagens curiosas, relações insuspeitas que mantive em minha infância, e desenhariam uma visão de mim mesma que eu nem imaginava, pois andava iludida por esta outra figura entristecida, que finalmente consegui desmembrar."

2 comentários:

Anônimo disse...

Nem por um instante vc pensou em não alterar nada?

sabina anzuategui disse...

Pensei mais do que um instante, talvez alguns meses.

Como disse abaixo, é uma escolha entre buscar um público mais amplo ou mais restrito.

Por escolhas pessoais, não gosto dessa figura de "escritor na torre de marfim". Talvez meu modelo seja algo próximo de Erico Verissimo, do ponto de vista profissional. E até narrativo, em alguns livros.