segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Depositários de tolerância

Então esse livro tem um problema. Eu o chamei "O afeto" porque afeto é tudo o que não funciona ali, nenhuma relação se cumpre totalmente. Desde o início pensei que a narradora, depois de adulta, devia estar em alguma posição estável (um bom trabalho, mais dinheiro do que teve na infância) para criar melancolia. Seus sentimentos ficaram no passado. Ela sobrevive, segue sua vida, mas as origens ficam para trás e a única coisa que ela consegue é dinheiro.

Porque dinheiro e propriedades, em teoria, respondem a uma lógica concreta. É possível planejar, somar e acumular. Uma inteligência lógica consegue compreender e realizar isso, mas a mesma inteligência não funciona quando aplicada aos afetos.

Está sendo difícil terminar o livro, porque isso não pode ser dito. Pensei que era compreensível por sugestão, mas algumas pessoas não entenderam. Agora tento deixar mais claro, mas não sei exatamente o limite.

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Porque transformar o monólogo final numa enumeração monetária diminui a personagem. Desmente o que houve antes. Ao mesmo tempo eu não queria colocar uma declaração de amor ao marido porque não me convencia: ela tem um caso, se arrepende, então lembra que ama o marido? Simples demais.

Voltam as histórias dos cachorros. Os cachorros podem receber afeto sem moralidade. São depositários de tolerância miraculosa aos problemas humanos.

8 comentários:

Anônimo disse...

Tentei te mandar um e-mail, mas o msn não colaborou. Sobre os cachorros, era mais ou menos isso que eu estava enchergando no poema do Maiakóvski. Só que num caminho inverso.
Bjo.

Hannah disse...
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Hannah disse...

Sobre finais - Leio o capítulo final de um livro sempre que chego na metade. Se eu compreender plenamente a conclusão, sigo lendo com a sobrancelha franzida. Se não entender direito, significa que o livro é bom. Este é um julgamento e um procedimento meu - e ninguém pode impedir, por mais que critique. Quem mandou publicar os filhos?

Minha amiga Didi falou bastante sobre seu livro "Calcinha no varal". Me deu vontade de ler. Daí quis visitar este blog.
Só tem um problema: eu adoro gatos. haha

Abraço

sabina anzuategui disse...

Ah, eu costumo ler as últimas frases antes mesmo de comprar o livro. Leio algumas linhas no começo, no meio e no fim, para decidir.

Acho que o poema da P.H. dizia que as pessoas que adoram gatos "um dia vão te fazer mal". Acho que isso vale p/ todas as pessoas que ADORAM qualquer coisa.

Hannah disse...

Deve ser muito difícil não adorar nada, nem fazer mal a ninguém. Acho que não existe.

sabina anzuategui disse...

Realmente, não existe.

Flávio. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Flávio. disse...

Nunca leio o final de um livro,por mais que às vezes sinta até uma tentação em saber como a história vai terminar sempre procuro fugir disso. Gosto da idéia de dar uma chance ao livro, deixar que sua história me deixe sem apoio, viajando em possíveis conclusões... na verdade sem isso eu sequer teria motivação pra continuar lendo; acho logo enfadonho... A única exceção é nos livros excepcionalmente instigantes que lemos uma, duas três... vezes e ainda nos surpreendemos com ele apesar de saber sua história inteira.