quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Enjoada do silêncio

Aos poucos fui me acostumando à casa de Juliana. O silêncio tão incômodo nos primeiros dias foi aos poucos se desfazendo. Talvez, enjoada do silêncio, eu tenha sido forçada a procurar os sons próprios daquela casa, em que se falava pouco, devagar, onde se pedia licença para entrar, e sempre, no meio da tarde, a mãe de Juliana perguntava se eu estava com fome, se queria bolachas ou suco. Uma vez ela bateu à porta e disse “Vou fazer um pouco de barulho. Preciso secar o cabelo”. Fechou a porta e logo em seguida ouvi o ruído de um secador. Num outro dia avisou: “preciso passar o aspirador”. Os ruídos eram sempre anunciados, e isso me parecia estranhamente inútil e bem-educado. Tudo naquele apartamento era estranho: a disposição das paredes era igual à de nossa casa, mas invertida. A cor tediosa dos móveis, os livros descorados na estante, a completa ausência de quadros e enfeites transformavam o conjunto numa versão diferente do que éramos nós; era como o nosso apartamento, e era oposto.

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Em homenagem ao início de "O medo do goleiro diante do pênalti".

Um comentário:

Anônimo disse...

Gosto muito do clima que vc cria nos textos sobre a casa da juliana. Não que seja um clima agradável, mas é que é bem criado.
Beijos.