A casa nova tem um pé de manjericão.
Me embaralho para determinar a ordem das coisas, mas a planta me comove há muito tempo. Provavelmente desde os dezessete anos, quando me apaixonei por um italiano que queria me ensinar a cozinhar. Um misto de generosidade e machismo. Quanto ao último, talvez eu seja injusta, porque ele cozinhava bem e prezava isso. Mas desconfio que me considerasse uma adolescente irresponsável, não sei.
Tentei descrever essa cena em 1997, depois de quatro anos na faculdade, no computador de tela preta e letras verdes, em frente à janela do apartamento na Frei Caneca onde eu dividia um quarto com três estudantes de enfermagem.
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Isso não é sinal de nada, claro. Entendo que as intuições são construídas retrospectivamente por nossa insistência em dar forma narrativa a acontecimentos aleatórios.
Fico fora do mundo mágico, mas por outro lado gosto de seu efeito literário, quando é usado com graça como Paul Auster. Mas digamos que prefiro ser materialista. Também porque minha estrutura psíquica tende aos aceleramentos míticos e patológicos, então controlo essas associações como posso.
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Mas havia um vaso de manjericão na janela do apartamento da mãe dele.
E um arbusto de chão, agora, na nova casa.
O sentido mágico é uma reconstrução, eu sei. Mas... é bonito.
Um comentário:
é lindo!! o início do teu texto fez lembrar o início de um que escrevi há um tempo. começava com essa informação, a do pé de manjericão.. eu tinha um pé de manjericão roxo lindo, crescente e tenho certeza que sua vida seria longa se o vaso não tivesse caído no chão a ponto de não ter mais como replantar...
Bjo e até logo mais!
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