segunda-feira, 10 de março de 2008

Mel e feijão

No sábado assistimos a "Memória do subdesenvolvimento" em DVD.

Pensei que o filme seria mais político. Mas o personagem tem apenas uma leve crise sobre sua origem burguesa. Boa parte das cenas trata de seu problema com as mulheres e nenhuma me interessou muito. Ele é bastante machista, e não encontrei muita ironia do filme em relação a isso.

Me interessou mais a posição do filme em relação ao feijão.

Várias vezes aparecem personagens falando que tal moça é uma cubaninha vulgar, "alimentada a feijão preto".

Aparentemente, a coisa mais pobre e desprezada por ali era comer feijão. Mas eu adoro feijão: todos os tipos preparados de todas as maneiras. Imagino que uma moça alimentada a feijão seria bastante magra e saudável.

Me disseram uma vez que os nobres europeus na Idade Média preferiam açúcar ao mel - o açúcar indicava riqueza porque era caro. O mel era deixado para os pobres.

Sobre tudo isso, admirando a pureza do mel e do feijão, só consigo pensar com tristeza nos pobres de São Paulo: alimentados com os piores tipos de salgadinhos e biscoitos, comprados nas barracas de camelô ao lado do ponto de ônibus.

4 comentários:

Paulodaluzmoreira disse...

Desculpa [tem gente q nao gosta] mas nao resisto enviar esse paragrafo de Guimaraes Rosa sobre amizade, classe social e culinaria.
"Começou por falar-me de um irmão seu, que tinha uma galinha-d'angola domesticada e ensinada, que dormia debaixo do jirau. Não acreditei. Mas pessoas respeitáveis afiançaram o fato, ajuntando que, além da cocar mansinha, o rapaz conservava um rato enjaulado, pretendendo obter que ele e um gato de rajas se fizessem amigos de infância. Tive de pedir desculpas ao Manuel. E, aí, ficamos ótimos amigos. Mais o admirei, contudo, ao saber que ele era o único no
arraial a comer cogumelos, com carne, à moda de quiabos. Não um urupê qualquer do mato, nem esses fungos de formato obsceno, nem as orelhas-de-pau, nem os chapéus-desol-de-sapo, nem os micetos que crescem na espuma seca dos regos de enxurrada, não senhor! Só o tortulho amarelo do chão das queimadas, "champignon" gostoso, o simpático carapicum. Provei. Exultei. E a nossa amizade cresceu."

Anônimo disse...

"Dez dentre dez brasileiros preferem feijão". Imagino essa música sendo lançada nos dias de hoje, o rebuliço que causaria.

Anônimo disse...

Ah, e acho que está no Policarpo Quaresma, um pequeno comentário irônico. SE não me engano era sobre o funcionário público. Que ao morar num bairro pobre, e compartilhar dos efeitos do mesmo descaso público que os demais moradores,já se sentia no direito de olhar por cima seus vizinhos. Afinal tinha em casa uma panela de feijão para a semana.
Era algo assim.

sabina anzuategui disse...

Bonito o trecho do G.Rosa.