Às vezes, como hoje, escrevo num estado de concentração quase próximo ao transe. Não um transe desvairado: um transe atento e interior. Às vezes pronuncio as frases em voz alta enquanto escrevo. Às vezes fico emocionada, e em alguns momentos já chorei.
Sei que corro o risco, nesses dias, de entrar em crise novamente. É muito difícil me afastar do texto e voltar à vida cotidiana. Mas é a vida cotidiana que me mantém estável, de um ponto de vista clínico.
Um trecho do que escrevi hoje, adaptando imagens de alguns poemas antigos:
"Eu não poderia dizer o nome dele. Eu soube que ele era frágil quando deixou a camisinha no chão. Não lavou nem ficou desconfiado que eu pudesse usar aquilo como prova de alguma coisa. Nem brincou com o líquido, porque era evidente que não estava alegre. Eu tentava me apegar à minha postura de estudante, e encarar o sexo tecnicamente. Não era exatamente possível, com ele.
Quando o vi ele estava em frente à janela. No fundo do quarto, num canto escuro. Falou alguma coisa que não escutei, depois lembrou que precisava comprar um presente para sua filha de doze anos. Tinha os olhos tristes e eu mesma fiquei triste, como nunca teria imaginado, mesmo em todas as vezes que pensei na sensação: de estar num quarto, com ele.
Eu nunca disse nada nem mesmo ao terapeuta: quanto havia pensado em sua pele, sua proximidade. Não saberia dizer com a gravidade que existia internamente.
Depois que ele saiu, tive vontade de ir ao banheiro. Ao sentar no vaso, senti o cheiro que havia ficado entre minhas pernas. Só então percebi o que era evidente e terrível: ele havia ido embora. Não senti culpa, apenas a tristeza da impossibilidade. E isso era ainda mais difícil de aceitar."
Um comentário:
Minha fia, sou escritor - e quem não é, fia - achei teu blog muito do arretado e, pelo bem pelo mal, fica cá o dito.
Tens email? Quem sabe uma troca dês-doida de ideias, preciso urgentemente conversar com uma mulher inteligente, andam tontas e escondidas ultimamente.
Beijin sabor laranja com calda de chocolate suiço e uma dose de Hemingway com soda.!
Postar um comentário