Alguns livros sobre cinema e teatro sugerem recursos para compor diálogos mais ágeis. Não concordo com todos eles. Me incomoda, por exemplo, a sugestão de que os personagem tenham um vocabulário adequado à sua origem geográfica e social. Acho naturalista demais. Para mim os diálogos são arbitrários, não gosto de fingir realismo.
Mas gosto de colecionar frases. Encaixo expressões que já ouvi em algum personagem, com as palavras entre aspas. É quase uma documentação. O livro "Léxico Familiar", de Natalia Ginzburg, é assim organizado a partir de frases que sua família usou durante décadas. Ela registra a variação dos assuntos, das preocupações, as tensões de seus pais e irmãos através de palavras colecionadas. É lindo.
Voltando aos livros e suas dicas. Algumas me agradam. Por exemplo, evitar que as perguntas sejam respondidas diretamente. Sempre tento responder uma pergunta com outra pergunta, ou com um assunto diferente do anterior.
Também gosto das repetições, mas odeio interjeições. Evito sujar o texto. Uso apenas algum "ah" de vez em quando, com ponto final. Reticências me incomodam.
E abomino pontos de exclamação. Me preocupo bastante com a sujeira gráfica. Às vezes reescrevo uma frase somente para que tenha menos palavras e a linha fique mais limpa. Tenho cortado até vírgulas. Em vários momentos decido que a frase está boa apenas por sua aparência na tela.
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Este é um diálogo que escrevi na semana passada:
"- Você está com pressa?
- Estou. Na verdade, não.
- Vamos tomar um refrigerante?
- Não tenho dinheiro.
- Você não estuda no Colégio Marista?
- O que tem isso a ver?
- Achei que você era rica.
- Rico não anda a pé.
- Pobre não estuda em colégio particular.
- Quem disse?"
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Muitas vezes escrevo bastante tecnicamente. Não considero a trama nem os personagens como ponto de partida. Penso primeiro no ritmo, depois encontro uma idéia para causar esse efeito.
2 comentários:
A internet é o reino da pontuação excessiva!!! rs...
Hehe.
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