terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Desistir da fluência

Digitei a versão mais longa do fragmento de Ana Cristina César que comentei no dia 10 de dezembro.

Troquei algumas palavras... tomei essa liberdade porque não é um poema acabado.

O texto não é tão bom quanto seus poemas publicados em vida, mas eu realmente admiro o modo como ela escreve.


Fragmento (1)

vasculho uma bolsa velha como quem revira um túmulo.
e na curta efusão de palavras (no medo que
disseste, na aventura tímida de registrar a indevida fenda)
tanto posso achar o ardil
como a essência, como o botão de plástico. Persigo
então a descoberta
desistir da fluência
de todos os truques
da bruta castidade que me aflige

escrevo a covardia com saudade
(me reconheciam em versos naquele tempo)
porque talvez qualquer coisa tua me lembre
a mãe que era difícil percorrer
naquele tempo

compreendo também por que acredito, preservo, imito
as mesmas formas da pureza recusada:
nela reside a dúvida
a pele que faço

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