quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Príncipe dos eletrodomésticos

Eu gosto de narrar as histórias em tempo linear, porque é um estilo mais discreto. Idas e vindas no tempo narrativo me parecem um exagero de efeito, como misturar rendas e lantejoula na mesma roupa.

Mas às vezes a ordem linear não funciona, porque uma cena pode ser previsível em relação à anterior.

Por exemplo: Raquel recebeu a visita de um técnico que iria consertar seu fogão. Mas o rapaz não era exatamente competente, e foi embora sem consertar nada. Na sequência, eu ia descrever a reação de Raquel, reclamando com seu pai que chamou o técnico a partir de um anúncio no poste da esquina.

Mas essa ordem ficou muito óbvia: 1) o técnico chega - 2) o técnico é ruim - 3) Raquel reclama do técnico.

Então, antes da reclamação, resolvi incluir uma explicação de Raquel sobre o trabalho do pai. Depois de explicar como o pai é incompetente em seus negócios, ela conclui que essa mesma incompetência se aplica a tarefas mais simples, como contratar um técnico de fogões.

Espero que essa pequena explicação deixe a ação em suspenso, e assim a conclusão de Raquel, quando chegar, pareça inesperada.

Também escrevi uma frase que me pareceu engraçada, mas talvez seja simplesmente brega:

"O moço então se empolgou, e ajoelhou diante do fogão como um príncipe da manutenção dos eletrodomésticos."

Pode ser brega... mas que garota nunca sonhou com um príncipe de eletrodomésticos?

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