Na plataforma de concreto que levava à estação de metrô, as luzes já estavam apagadas, mas não havia amanhecido completamente. As pessoas caminhavam no escuro, sobre o piso emborrachado e negro, pelo longo corredor iluminado apenas no fundo, onde havia estandes de jornal e cigarros.
Desci até o ponto de ônibus sentindo o ombro dolorido com o peso da mochila. Havia muita gente espalhada pela calçada irregular e estreita, os ônibus passavam rápido e eu lia com dificuldade as placas de itinerário. Vi o 6224 destino Ceasa se aproximar quase vazio, mas ninguém fez sinal e ele passou direto. Fiquei em dúvida e só acenei quando era tarde demais.
O ônibus entrou no viaduto, definitivamente longe do meu alcance, e então tive certeza que era ele mesmo. Me senti incompentente e ainda mais cansada. Era muito triste a sensação de perder um ônibus onde eu poderia sentar.
(últimos parágrafos de "Limas da Pérsia", que interrompi provisoriamente no mês passado. Pobre Lia. Ainda está esperando o mesmo ônibus, na mesma calçada escura, na mesma madrugada em São Paulo.)
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