Todas as anotações sobre a história dos negros paulistanos, que estudei no mestrado, as lembranças de meu pai, meu avô, minha bisavó.
Meus interesses banais por filmes ruins, livros esquisitos, quadrinhos alternativos e videogames de aventura que eu gostava desde criança.
Eu colecionava anotações descombinadas há tantos anos. Eu não me orgulhava da capacidade de ser rápida e variada como uma revista de fofocas. Talento que me ajudou como roteirista – escrever sobre qualquer assunto, para qualquer formato, por qualquer preço, sob encomenda de qualquer um.
O garçom trouxe meu filé com molho de pimenta verde, arroz e batatas assadas. Minha taça estava vazia. Eu pedi outra cerveja long-neck. Duas garrafinhas custavam mais que uma garrafa grande, no boteco em frente ao meu prédio. Mas eu não era um negro velho do bairro, que tomava cerveja numa mesinha de calçada desde o meio-dia, como meu avô fazia. Eu usava ativadores de cachos importados no cabelo. Cada frasco custava 8 vezes um prato feito nos botecos do meu bairro. Uma diária de faxina. Três horas de trabalho como professora.
Na rua começou uma aglomeração em torno de um grupo de homens e mulheres com camisetas do Brasil, megafones e cartazes escritos em cartolinas. Era um grupo pequeno e improvisado. Gritavam frases de efeito contra o Partido dos Trabalhadores e acusações com pouca lógica histórica: “Dilma, Maduro, Hugo e Fidel – Lixo do mundo”, “O povo é soberano – Intervenção militar não é crime, “Brasileiros tenham coragem – Intervenção militar já”, “País sem corrupção é país onde rico manda – Pois quem é rico não precisa roubar”.
Um comentário:
O mundo tá tão absurdo, né. rsrs Gostei da polaroid do tempo presente. (Tata)
Postar um comentário