Nos últimos meses li algumas escritoras brasileiras mais antigas, seguindo uma ordem cronológica: “A viúva Simões” (1897), de Julia Lopes de Almeida; "Parque industrial" (1933), de Patrícia Galvão (Pagu); "Éramos seis" (1943), de Maria José Dupré. De Pagu também li os textos selecionados em “Pagu: Vida-obra” (org. Augusto de Campos).
Enquanto seguia as leituras, li uma entrevista com a crítica literária Leyla Perrone-Moisés publicada pela FSP (Maurício Meireles, 12/02/17). Explicando sua opinião sobre estudos dedicados ao “lugar da fala”, ela respondeu: “Certa vez, encontrei uma pesquisadora que estudava mulheres escritoras do século 19 no Brasil. Perguntei se havia muitas e se eram boas. Ela disse: "Se são poucas e não são boas, é porque os homens não as deixaram desenvolver seus talentos". (…) Não temos grandes escritoras brasileiras nesse período, precisamos reconhecer".
Complemento com minha opinião:
- “A viúva Simões” não é pior que “Lucíola” (1862), de José de Alencar. Pensando na década de 1890, é certamente pior que “Quincas Borba” e “O cortiço”. Mas, dadas as circunstâncias (segundo a cronologia do google, é seu primeiro romance), não me pareceu tão ruim. Tem bons detalhes no início. Numa cena, a mãe abre a carteira numa loja, para tirar algumas notas de dinheiro e pagar uma compra. Fico pensando no aspecto descritivo desta cena. Em “Memórias Póstumas” o dinheiro aparece com várias funções temáticas, mas pouco como registro.
- Sobre Pagu: Minha admiração precisaria de muitas outras linhas.
- “Éramos seis”, para mim, é um livro muito difícil de suportar. Admiro muitíssimo a narração, mas toda aquela desgraça realista me assusta, e preciso de coragem para abrir o volume e ler algumas páginas (suporto poucas de cada vez).
- Sobre as personagens: eu odeio a viúva Simões e Dona Lola (a mãe de “Éramos seis”). Odeio que tenham existido. Dona Lola, aquela mamãe “com o avental todo sujo de ovo”. A viúva Simões, uma projeção fantasiosa de toda culpa da sexualidade, conformada ao final do romance porque a filha ficou “idiota”, mas felizmente não morreu, depois de uma febre cerebral.
Odeio essas duas personagens, mas tento encarnar o sofisma que impressiona as pessoas do futuro (que rejeitam a escória de uma outra época) no filme “La Jetée”, de Chris Marker: “Já que a humanidade sobreviveu, ela não pode negar a seu próprio passado os meios de sobreviver.”
Ou então o conhecido poema de Brecht, “Aos que vão nascer”: “Vocês, que emergirão do dilúvio em que nos afundamos, pensem – quando falarem de nossas fraquezas – também nos tempos negros de que escaparam”.
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