Na quinta-feira a avó cozinhava algum tipo de carne. Era o único dia em que comiam carne vermelha em casa, para manterem o nível de ferro. Inês cozinhava e Olívia lavava a louça, era esse o combinado. Olívia deu um beijo na avó e seguiu para o seu quarto, para descansar um pouco antes do almoço. No quarto de portas fechadas, ela ligou o computador e começou a escrever. Falava as frases em voz alta enquanto digitava, para encontrar o ritmo, os pontos de ênfase. Deixou o texto quase pronto, salvou em seu email e desceu para almoçar.
Ela publicou o vídeo na segunda-feira 2 de novembro, feriado de finados. Colocou o link em suas contas no facebook e twitter com uma pequena sinopse: "Conheçam a comovente história do namorado bonzinho que só quer fazer sexo anal, para preservar a virgindade de uma garota de 15 anos." Para ilustrar a abertura do vídeo, Olívia organizou uma seleção de memes sobre o tema: "Sexo anal dói menos / que ficar solteira." "Não há prova de amor maior / que sexo anal." "Aniversários: é quando você sonha com sexo anal, espera por sexo oral, se contentaria com sexo vaginal, e ganha uma punheta preguiçosa enquanto assiste a novela." Nos memes, o sexo anal quase sempre aparecia como prêmio, se o homem ia penetrar a mulher, e como castigo ou zombaria, se fosse o homem a ser penetrado.
A primeira parte da história de Bruna foi muito bem recebida. Dezenas de garotas agradeceram por ela abordar aquele assunto e pediram ansiosamente a continuação, sua opinião, o fim da história. Nos comentários as seguidoras de Caroline interagiam entre si, opinando e discutindo umas com as outras sobre virgindade, namorados sacanas, dificuldades sobre quando transar ou não. Olívia aproveitou a fase inspirada e publicou, na quinta-feira da mesma semana, a segunda parte da história. O segundo vídeo teve alcance dobrado e atingiu 4.000 visualizações em dez dias.
Esse era o primeiro vídeo em que Olívia se colocava com conselheira de suas seguidoras. Nas primeiras gravações, em agosto, ela se expressava isoladamente, como a adolescente desconhecida que era, tentando expor sua opinião minoritária e desvalorizada. Mas ela adquiriu uma nova segurança depois que seu canal ganhou centenas de assinantes, e se sentiu confortável para aconselhar as garotas que pediam sua ajuda. Era apenas por pudor que ela dizia, no primeiro vídeo, que talvez fosse muito jovem para orientar alguém. Na verdade ela se sentia capaz e cada vez mais confiante conforme aumentavam os emails e comentários de fãs com problemas íntimos e sentimentais.
Em três meses, do final de setembro a meados de dezembro, Olívia deixou de ser uma adolescente isolada que escrevia sozinha em seu quarto, e transformou-se numa formadora de opinião, numa jovem estrela nascente da web. Na virada do ano de 2010, seu canal tinha 1.632 seguidores e a soma das visualizações de todos os seus vídeos chegou a 98 mil. Ela permanecia anônima. Sua avó, sua ex-melhor amiga, seu ex-namorado e os colegas da escola ainda não tinham notícias do que acontecia."