"A versão feminista do escândalo do chip, por ter no título os termos de pesquisa do original viralizado, teve quase duas mil visualizações em uma semana, e centenas de comentários. Os comentários se dividiam em deboches, manifestações de ódio e declarações de apoio. A cabeça de Olívia disparou, ela queria rebater as acusações, agradecer os elogios, responder todas as perguntas, dizer mais coisas que agora lhe ocorriam. Durante duas semanas ela teve dificuldade para pegar no sono, mesmo depois que Inês vinha ao seu quarto exigir que ela desligasse o computador e deitasse. Ficava na cama alerta, com o pensamento disparado, articulando como e o quê devia escrever e responder. Finalmente apagava por exaustão, mas acordava de repente no meio da madrugada e a agitação recomeçava. Duas vezes levantou e ligou o computador às três da manhã para escrever e mandar alguma resposta que lhe parecia urgente. Mas na terceira noite a avó ouviu a vibração baixa do computador, quando levantou para ir ao banheiro, e bateu na porta para saber o que estava acontecendo. Inês deu uma bronca, no dia seguinte fez muitas perguntas, por que ela estava tão agitada, por que tanto tempo na internet, o que fazia no computador de madrugada, e para evitar mais suspeitas Olívia decidiu se controlar.
Desse momento em diante ela tentou criar uma ordem para suas publicações, apesar da dificuldade enorme para domar seus impulsos. Decidiu criar uma regularidade e se manter fiel a ela, para que sua cabeça não pirasse e, principalmente, sua avó não descobrisse. Era importante que ela se acalmasse e reservasse um horário para escrever, sem atrapalhar a escola e as notas, porque Inês não deveria perceber nada. Os textos e vídeos eram seus, ela queria fazer aquilo livremente sem explicar nada a ninguém.
A partir dessa primeira repercussão, o número de espectadores frequentes dos vídeos de Caroline Cólera passou de algumas dezenas para várias centenas. Antes o número de inscrições no seu canal estava em 54. Depois subiu para 903. As novas inscrições, na maioria jovens e adolescentes, formaram um público fiel e simpático aos relatos de Olivia.
Olivia tinha um conjunto coerente de perfis em várias redes sociais para divulgar seus textos e vídeos e interagir como Caroline. Tinha email, facebook, twitter, blog e canal do youtube, todos conectados com as mesmas informações. Era nesses perfis que ela gastava suas horas livres, e não em seu perfil familiar com seu nome verdadeiro. Para os colegas da escola que reclamavam que ela nunca estava conectada, Olívia dizia que "não gostava de internet". No computador em seu quarto ela não deixava nenhuma senha gravada. Sempre apagava o histórico de navegação antes de desligar o computador. Não salvava nenhum texto ou imagem no HD, ficavam todos no email e no arquivo do blog. Sua avó nunca ameaçara vasculhar seu computador, mas ela imaginava que era eventualmente possível e preferia se precaver.
Havia muitas fotos no perfil de Caroline no facebook, mas sempre recortes e detalhes, nunca seu rosto inteiro. Ela percebera que fotos sensuais atraíam curtidas e seguidores, por isso produzia imagens de seu corpo - o encontro dos seios, o pescoço, pernas estendidas e dobradas em várias posições, os pés nus."
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