Voltando à minha tese de doutorado. Gosto de frases curtas, gostaria ainda mais de escrever por aforismos. Mas não quero forçar demais o estilo acadêmico.
Começo anotando as idéias principais, e deixo para depois o trabalho de engordar os parágrafos. O que não gosto, mas entendo a necessidade, parcialmente convencida.
Parágrafos gordos são para quem lê com preguiça. As idéias se apresentam aos poucos, em variações redundantes. A cada frase se repete o que foi dito antes, com novas palavras. Às vezes se abandona um detalhe, e acrescenta-se outro. O texto escorre. É como sagu: jogam-se as bolinhas de fécula seca e comprimida na água. Cozinha-se. Uma xícara vira uma panela.
Não vejo graça em ler para descansar. Descansar dá sono.
A frase bonita é um enigma: não é preciso explicar. Ler é deduzir.
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O que escrevi hoje:
"Esse é um trabalho sobre escritores. Os fatos e idéias estão organizados a partir desse ponto de vista.
Um escritor tem quatro problemas a resolver:
- escrever bem
- saber o que escrever
- ganhar dinheiro escrevendo
- encontrar pessoas interessadas no que ele escreve
O escritor ideal seria aquele com talento, visão de mundo, que vive do que ganha escrevendo para algum público.
Escritores reais lidam com esses problemas com diferentes graus de dedicação e sucesso. Quem deseja falar sobre um escritor precisa esclarecer sua opinião sobre cada um desses critérios.
Dizer “Paulo Coelho escreve mal”, sem explicar os critérios, é entrar num jogo em que concordará ou discordará quem já concordava ou discordava antes da frase ser emitida. A frase não diz nada, apenas acrescenta um novo degrau à repetição.
Uma frase mais honesta seria: “Paulo Coelho dá conselhos espirituais e isso não me interessa como visão de mundo.”
Outra frase possível: “Paulo Coelho escreve bem porque milhões de pessoas entendem, gostam e se interessam pelo que ele escreve.”
“Sabe o que escrever”. Novamente, é preciso explicar o critério. A originalidade é um critério interessante, pois tem sutilezas. Exemplo: um escritor de seriados policiais sabe que sua margem para originalidade é restrita. Um seriado policial não pode ser original a ponto de deixar de ser um seriado policial. Saber isso também é saber o que escrever.
“Ganha dinheiro escrevendo”. Valores de nosso mundo. Um escritor é “verdadeiro” se é público ou se vale dinheiro. Talvez ser público valha mais que dinheiro. Entre uma blogueira com 167 seguidores e uma jornalista que escreve biografia encomendadas para famílias ricas. A blogueira não ganha dinheiro mas tem admiradores fiéis. A jornalista ganha dinheiro com um livro que será distribuído entre familiares, que talvez nem o leiam. Quem é “mais” escritor?"
Um comentário:
Você está certa. Escrever bem não é escrever bonito ou com uma linguagem apelativamente transbordada de termos acadêmicos(na tentativa de não se parecer simplista) Escrever bem é escrever com clareza de ideias, com fundamentos, mas não com fundamentalismo _ é escrever com lógica, com polidez e com maturidade.
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