O passado recente. A construção de uma história para uso próprio.
Estudar o passado é como escolher um terreno para nossas raízes pessoais.
No estudo há uma escolha. Uma busca por modelos – balizas. Em relação a esses modelos nos posicionamos e oscilamos, aceitamos e rejeitamos as lições que criamos, interpretando experiências anteriores a nós.
Nessa escolha, revelam-se os modelos que provavelmente absorvemos inconscientemente no início de nossas vidas, nos anos de formação. Modelos que estavam pairando à nossa volta – em nossos pais, em nossa escola, em nosso país, mundo e tempo.
Os modelos aglutinam nossas preocupações numa composição que parece oferecer um caminho. E nos angustiamos diante deles. A angústia de não querer seguir um modelo insistentemente sugerido por outros. A angústia de não encontrar um modelo próprio. A angústia de encontrá-lo e ser incapaz de segui-lo.
A década do nascimento é talvez o passado mais próximo que se possa estudar com distanciamento.
O passado próximo é a catarata, a queda d’água. O abismo em que se precipitou o rio dos que viveram antes de nós. A catarata que gerou as águas atormentadas de nossa existência.
O rio prossegue e nos esforçamos para não afundar. Agarramos os destroços, os pedaços de madeira do barco que se espatifou. Tentando sobreviver, nos agarramos aos tocos e nos alimentamos dos cadáveres. Catamos entre os mortos os restos menos podres. Arrancamos suas correntes e amuletos, que enrolamos em torno do pulso ou agarramos a punho fechado. Nossos santos, agora, nossas bóias.
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