domingo, 17 de julho de 2011

Curitiba

Eu saí de Curitiba correndo, aos dezessete anos. Havia uma caretice na cidade que eu não suportava.

Talvez fosse apenas o ambiente dos colégios secundários, mas eu não poderia saber.

Mas, curiosamente e por acaso, encontrei recentemente blogs muito interessantes vindos de lá.

Há talvez na cidade uma característica que favorece o pensamento verdadeiro: por sermos reservados, modestos, conscientes de nossa pouca importância no cenário nacional, podemos observar as coisas de modo mais sereno.

Não temos um "caráter regional" a seguir, pois tal caráter não existe a não ser negativamente: a vergonha de aparecer, o hábito de nos escondermos, a segurança dentro de casa, quando ninguém nos nota.

Só compreendi o espírito curitibano quando conheci uma estudante polonesa, ao participar um curso rápido de alemão em Berlim.

Uma garota de vinte e cinco anos que - tendo a chance, por bolsa de estudos, de passar um mês numa das cidades mais interessantes do mundo - foi procurar uma igreja católica com padre polonês, para não deixar de assistir à missa no domingo.

Ao observar seu medo de enfrentar sozinha os caminhos, de ônibus, trem ou metrô, eu subitamente compreendi minha cidade. O temor profundo que a fé católica joga sobre os indivíduos. Ou, então, o medo individual de quem se abriga sob a igreja católica.

Graças ao destino, minha família tem origens italianas e espanholas. Se minha avó galega tinha os mesmos modos poloneses (o interior da Espanha se adaptaria bem ao leste europeu), deve ter sobrado em mim uma parcela mínima de sangue basco de meu bisavô perdido no espaço e no tempo.

E a Itália - bem - não haveria modo de listar em poucas palavras as virtudes relacionadas a esta península.

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Nós eramos migrantes em Curitiba, minha família materna e paterna.

Curitiba é um lugar agradável para viver. E só recentemente tenho notado que há no espírito da cidade algo tão bom quanto as calçadas limpas.

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