quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Por que dizer não?

(revisado)

Ando meio sumida, mas não é propriamente uma crise. Estou preguiçosa. Também tenho sentido saudades de desenhar, ler quadrinhos; cansada de livros só com letras.

Não comentei suficientemente o quanto achei ASSUSTADOR o filme sobre Saramago. Escritores famosos são assediados por fãs e jornalistas, já sabemos... mas impressiona ver uma hora e meia desse assédio. O velhinho quieto no canto, dá quase pena. Em certo momento, ele diz algo assim: "As pessoas pedem fotos, é lógico que às vezes incomoda, eu não quero tirar fotos... mas eu vou dizer não por quê? Não é uma questão de gentileza, mas... por que dizer não a uma pessoa?"

O filme é um remédio pra qualquer pessoa que sonhe, mesmo vagamente, com a fama literária. Eu nem gostava muito do Saramago... gosto mais depois do filme.

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Escrevi faz alguns dias sobre os prêmios literários, e o Marcos indicou um entrevista sobre crítica e poesia. O que eu teria a dizer sobre isso:

- Acho meio velha essa conversa sobre a pouca qualidade da poesia hoje. Não que discorde, ou que seja mentira. Mas o problema não é esse. O espírito do tempo é algo difícil de capturar.

- Não sou leitora assídua de Ginsberg, mas gosto do famoso verso "vi as melhores cabeças da minha geração destruídas pela loucura". Muitas vezes me pergunto: onde estão as melhores cabeças da minha geração? Não sei nem dizer quais são.

- Literatura é um prazer entre outros. Em geral, não dá dinheiro e não tem relevância social. Gosto de escrever, mas também de outras coisas: artes plásticas, teatro, música, cinema, games, TV, happenings, internet... jornalismo, história, filosofia, crítica literária... se a literatura anda chata, qual o problema?

- Intervenção no(s) outro(s), em qualquer mínimo grau, é o barato do negócio. Mas pra isso (de novo) a gente precisa entender o espírito do tempo. Difícil - -

- A gente faz o que consegue. Mas se ninguém liga, é porque estamos fazendo algo errado.

2 comentários:

Paulodaluzmoreira disse...

Eu acho é que estamos no meio de uma crise aguda de leitores, Sabina. Eu digo leitores no sentido de gente que leia "bem" e que reflita sobre o que leu - gente que transforme a leitura num ato mais ou menos coletivo. Acho que, como sempre, uma maioria do que se escreve e publica é ruim ou medíocre e uma minoria é realmente boa. Isso é normal. Como é normal que só uma minoria ainda menor seja excepcional. Agora não existe vida literária propriamente se não existe recepção de qualidade. Não existe nada no Brasil, por exemplo, como um New York Review of Books [não é coisa de deslumbrado esse meu exemplo; as más línguas chamam de "New York Review of Each Other's Books" e eu não estou sugerindo que isso seja modelo de cópia para ninguém]. Enfim, não existe um "lugar" [de papel ou virtual] em que você leia semanalmente pelo menos meia dúzia de resenhas que mereçam esse nome. Um lugar em que você tenha uma chance de ver o que você escreveu repercutir, positiva ou negativamente.

sabina disse...

foi isso que quis dizer com "não ter relevancia social". quase ninguém se interessa.