quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O que lhe restava de vida

Outra passagem estranha da autobiografia de Dias Gomes: quando Janete Clair ficou doente, ele decidiu não contar a ela nem aos filhos a gravidade do câncer. Ela seguiu o tratamento como se fosse possível a cura, embora os médicos tivessem poucas expectativas.

Ele escreve:

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"Às vezes eu me questionava, seria justo manter em cena aquela farsa absurda? Por que não lhe dizer toda a verdade, pelo menos para que pudesse planificar o que lhe restava de vida. Por que deixar que alimentasse sonhos, projetos que não iria poder realizar? (...) Mulher inteligente, bem-informada, impossível que acreditasse em mim, por mais convincente que eu fosse. Mas queria acreditar, era fundamental para ela acreditar. Sempre sobrepusera a fantasia à realidade. (...) E assim poderia viver vários anos. Se decidisse acordá-la para a realidade - estava convencido disso e estou até hoje - eu a perderia em pouco tempo."

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Quando finalmente ele conta aos filhos, eles assim reagem:

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"Alfredo apenas chorava. Guilherme, sempre introspectivo, recolhia seus sentimentos, não pronunciava uma palavra. Mas Denise não se conformava, por mais que eu explicasse as razões que me haviam levado a ocultar-lhes a verdade.

(...)

- Você deveia ter dividido conosco. Você foi egoísta, pai.
- Egoísta? Por não ter dividido meu sofrimento?
- Você quis a dor só para si e nos isolou, a mim e a meus irmãos. Não tinha o direito de fazer isso. E agora que vou fazer com esse meu sentimento de culpa?
- Que culpa, filha?
- Culpa de não ter dado mais carinho a ela nestes últimos meses."

Um comentário:

Anônimo disse...

acho autobiografia um troço muito tosco.