sábado, 21 de agosto de 2010

Talvez a coragem

Os parágrafos abaixo continuam daqui:

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"Pensei que conseguiria me organizar em dois ou três anos. Formada, arranjaria um emprego melhor e poderia assumir o aluguel sozinha. Mas o tempo passou e descobri que uma escola infantil em tempo integral custava mais que a faculdade. O salário de uma babá era mais alto que a escola, a equação não fechava. Quando Olívia tinha quatro anos, tentei trazê-la para casa, esperando que talvez a coragem superasse a matemática. Arranjei um esquema coletivo: Frederico cuidava dela de manhã, às teças e quintas, a babá nos outros dias, o ônibus da escola a pegava em casa, à tarde eu ia buscá-la. Mas o sistema furava muito. A babá se atrasava, Frederico desmarcava em cima da hora, eu corria desesperada pra preencher os buracos. Olívia ficava doente, chorava, eu já não sabia se fazia bem ou mal a ela.

Um dia a pobrezinha se machucou, tropeçou no pátio da escola e ralou a mão toda. A diretora ligou pedindo pra eu chegar mais cedo. Encontrei-a quieta, com a mão enfaixada. Não queria sair da escola nem me abraçar. Em casa, não aceitou colo nem beijo. Quando tentei tirar o curativo pra ela tomar banho, puxou a mão. Gritava: "Não! Não!". Eu disse baixinho:

- Olívia, deixa a mamãe cuidar do seu dodói.
- Não! - ela repetiu - Você não é minha mãe. Minha mãe é minha vó!"

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(continua aqui)

2 comentários:

sabina anzuategui disse...

Tenho muitas dúvidas sobre esse estilo seco, mas por hora só consigo escrever assim. Mais tarde preciso esquentar um pouco a história.

Anônimo disse...

Vc sumiu, fia! :))