sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Uma vizinha contou

"Em março, aos dezoito anos, começaram minha aulas. Estudava de manhã e podia ficar todas as tardes na biblioteca. O pai me proibiu de ajudá-lo: "pra carregar caixa, já basta eu". A mãe concordava e reforçava: eu devia aproveitar minha chance. Na universidade a comida era barata, havia livros e computador. Ela só me pedia, por medo da violência, que voltasse antes de anoitecer.

Eles acreditavam que meu jeito quieto era complemento do amor aos estudos. Eu não brigava com ninguém. Tinha amigas que raspavam os cabelos e faziam tatuagens, mas nunca as trazia para casa. Quando uma vizinha contou à minha mãe, eu respondi com pureza: há gente que vê maldade em tudo. Letícia era a única amiga que meus pais conheciam. Usava roupas pretas e muitas correntes, mas parecia feminina..."

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(continua)

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