Guardadas as proporções:
sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
Meus quinze minutos
Ok, é bizarro. Dei uma entrevista alguns anos atrás, e agora vi um trecho no You Tube!
Que medo de mim mesma.
Que medo de mim mesma.
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
O enterramento da menor
Estou lendo Labirinto, romance de Jorge Andrade. Livro estranho: ele reuniu reportagens que fez para a revista Realidade e costurou a memórias pessoais.
Mas sua memória é obsessiva com certos temas e personagens, que analisou repetidamente em suas peças. Assim, no romance, além de relatar memórias inéditas (ou relatos inéditos de referências anteriores, ficcionalizadas), ele as misturou com trechos de peças antigas. É um emaranhado em várias camadas confusas de suas obsessões.
Cansativo. O texto sobrevive apesar dele mesmo (malgré lui). Sinto uma rejeição permanente (por que não se liberta? por que não esquece?). Mas a força das cenas e do texto me forçam, num encantamento desagradável.
- - -
"Chego correndo diante do portão do Cemitério dos Aflitos, em Águas Belas, acompanhando o coveiro Manoel. Os olhos miúdos de Manoel, acavalados no nariz, fecham-se ligeiramente quando empurra o portão e percebe que fora aberto. É neste instante que vê o caixãozinho azul abandonado em cima de um túmulo. Preso à tampa, o bilhete: 'Sr. encarregado do cemitério. Pode efetuar o enterramento da menor Maria Pastora da Conceição, falecida hoje...'
Estou confuso, pois acompanhara o enterro antes de ir chamar Manoel na feira. Eu deixara, esperando à sombra de uma árvore, o pai e quatro crianças segurando o caixãozinho. Com naturalidade, Manoel abre a capela e pega a enxada. O Caixão da Caridade, guardado para os que não podem comprar um, chama a minha atenção. Sei que nunca é enterrado: apenas joga o morto dentro da cova e volta para a capela, onde fica esperando o próximo."
Mas sua memória é obsessiva com certos temas e personagens, que analisou repetidamente em suas peças. Assim, no romance, além de relatar memórias inéditas (ou relatos inéditos de referências anteriores, ficcionalizadas), ele as misturou com trechos de peças antigas. É um emaranhado em várias camadas confusas de suas obsessões.
Cansativo. O texto sobrevive apesar dele mesmo (malgré lui). Sinto uma rejeição permanente (por que não se liberta? por que não esquece?). Mas a força das cenas e do texto me forçam, num encantamento desagradável.
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"Chego correndo diante do portão do Cemitério dos Aflitos, em Águas Belas, acompanhando o coveiro Manoel. Os olhos miúdos de Manoel, acavalados no nariz, fecham-se ligeiramente quando empurra o portão e percebe que fora aberto. É neste instante que vê o caixãozinho azul abandonado em cima de um túmulo. Preso à tampa, o bilhete: 'Sr. encarregado do cemitério. Pode efetuar o enterramento da menor Maria Pastora da Conceição, falecida hoje...'
Estou confuso, pois acompanhara o enterro antes de ir chamar Manoel na feira. Eu deixara, esperando à sombra de uma árvore, o pai e quatro crianças segurando o caixãozinho. Com naturalidade, Manoel abre a capela e pega a enxada. O Caixão da Caridade, guardado para os que não podem comprar um, chama a minha atenção. Sei que nunca é enterrado: apenas joga o morto dentro da cova e volta para a capela, onde fica esperando o próximo."
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
Um ser curioso
"Minha mãe se espanta com minha calma e certezas, como ela diz. Quando eu era adolescente, vivia comparando minha vida à dela. Aos quinze anos decidi ser professora. Comentou sonhadora: "Com quinze anos conheci seu pai. Com dezesseis casei."
As comparações eram mais importantes para ela que para mim, então, pois da infância até recentemente eu identificava meus gostos aos do pai. A mãe era um ser curioso, engraçado, quase alienígena. Suas histórias sobre cobras e lavouras na Paraíba, a cena de seu nascimento, que gostava de contar. Minha avó índia, jovem e grávida - descendo o morro, tentando alcançar a estrada, o bebê lhe escorrendo entre as pernas, debaixo do sol, entre a saia e as pedrinhas no chão."
As comparações eram mais importantes para ela que para mim, então, pois da infância até recentemente eu identificava meus gostos aos do pai. A mãe era um ser curioso, engraçado, quase alienígena. Suas histórias sobre cobras e lavouras na Paraíba, a cena de seu nascimento, que gostava de contar. Minha avó índia, jovem e grávida - descendo o morro, tentando alcançar a estrada, o bebê lhe escorrendo entre as pernas, debaixo do sol, entre a saia e as pedrinhas no chão."
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
É bom demais estar no meio
Adoro "O meio", de Luiz Tatit (concordo que tem uns versos cafonas).
Mas vem ao caso: "Por isso que sempre no início, a gente não sabe como começar. Começa porque sem começo, sem esse pedaço não dá pra avançar".
Mas vem ao caso: "Por isso que sempre no início, a gente não sabe como começar. Começa porque sem começo, sem esse pedaço não dá pra avançar".
Crentes e felizes
Frase batida mas tem sua verdade: começar é difícil. Já escrevi três inícios diferentes, mas não engrenava.
Agora encontrei o tom (acho).
- - -
"1.
Palavras feias me incomodam, por isso evito falar de religião. Não poderia dizer "sou atéia" ou "agnóstica". Quem for algo que se explique, prefiro ficar quieta. Herdei a desconfiança de meu pai: "Não vai estragar a menina", ele dizia, quando a mãe me levava à congregação. Aos doze anos já ficava com ele nos fins de semana, ajudando a carregar e descarregar a Kombi. A mãe passava sábado e domingo na igreja, entre círculos de oração, grupos de louvor, escola dominical.
O pai não emitia opinião articulada. Limitava-se a bufar ou estapear o vazio, quando ela mencionava os versículos. Às vezes dizia "amém", encerrando o assunto. Na minha escola no Jardim das Flores, em Osasco, era raro ser discreta e descrente. Eu prestava atenção às aulas, não usava bijuterias nem maquiagem, muitos alunos achavam que era evangélica. Ficavam surpresos quando eu negava, como se perguntassem: "Então por que estuda tanto?"
Na faculdade de história, depois, encontrei muitos ateus. Filhos de professores universitários com longos discursos sobre religião, às vezes bêbados, às vezes sérios. Eu ouvia mas não participava. A princípio concordava, mas não via interesse em brigar. Se havia crentes e felizes, qual o problema?"
Agora encontrei o tom (acho).
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"1.
Palavras feias me incomodam, por isso evito falar de religião. Não poderia dizer "sou atéia" ou "agnóstica". Quem for algo que se explique, prefiro ficar quieta. Herdei a desconfiança de meu pai: "Não vai estragar a menina", ele dizia, quando a mãe me levava à congregação. Aos doze anos já ficava com ele nos fins de semana, ajudando a carregar e descarregar a Kombi. A mãe passava sábado e domingo na igreja, entre círculos de oração, grupos de louvor, escola dominical.
O pai não emitia opinião articulada. Limitava-se a bufar ou estapear o vazio, quando ela mencionava os versículos. Às vezes dizia "amém", encerrando o assunto. Na minha escola no Jardim das Flores, em Osasco, era raro ser discreta e descrente. Eu prestava atenção às aulas, não usava bijuterias nem maquiagem, muitos alunos achavam que era evangélica. Ficavam surpresos quando eu negava, como se perguntassem: "Então por que estuda tanto?"
Na faculdade de história, depois, encontrei muitos ateus. Filhos de professores universitários com longos discursos sobre religião, às vezes bêbados, às vezes sérios. Eu ouvia mas não participava. A princípio concordava, mas não via interesse em brigar. Se havia crentes e felizes, qual o problema?"
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
sábado, 16 de janeiro de 2010
Cialis para todos
De volta à casa, depois de um fast tour por Minas. Talvez me recriminem por passar só duas horas em Ouro Preto... paciência. Melhor poucas que nenhuma.
Este blog está sendo atacado por um spam franco-coreano. Duas vezes por semana algum "anônimo" posta um comentário com anúncio de Cialis.
Por enquanto, apago manualmente. Tenho dúvidas sobre a moderação de comentários... estraga o gosto infantil de ver suas palavras publicadas imediatamente.
Vou pensar mais sobre isso.
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Por enquanto, apago manualmente. Tenho dúvidas sobre a moderação de comentários... estraga o gosto infantil de ver suas palavras publicadas imediatamente.
Vou pensar mais sobre isso.
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
Intervalo
Em férias até a próxima segunda.
Sempre que venho a Minas, tenho medo de encontrar um abismo no meio da estrada.
"Quer ir pra Minas / Minas não há mais".
Sempre que venho a Minas, tenho medo de encontrar um abismo no meio da estrada.
"Quer ir pra Minas / Minas não há mais".
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
Livre dos clichés ideológicos
domingo, 3 de janeiro de 2010
Os romances são inventados
Antigas idéias do século XVIII: os romances são inventados, então inúteis; os romances são inventados, assim mentirosos, e perigosos.
NaNoWriMo
A fé na produtividade gera monstros.
National Novel Writing Month is a fun, seat-of-your-pants approach to novel writing. Participants begin writing November 1. The goal is to write a 175-page (50,000-word) novel by midnight, November 30.
Valuing enthusiasm and perseverance over painstaking craft, NaNoWriMo is a novel-writing program for everyone who has thought fleetingly about writing a novel but has been scared away by the time and effort involved.
Because of the limited writing window, the ONLY thing that matters in NaNoWriMo is output. It's all about quantity, not quality. The kamikaze approach forces you to lower your expectations, take risks, and write on the fly.
Make no mistake: You will be writing a lot of crap. And that's a good thing. By forcing yourself to write so intensely, you are giving yourself permission to make mistakes. To forgo the endless tweaking and editing and just create. To build without tearing down.
As you spend November writing, you can draw comfort from the fact that, all around the world, other National Novel Writing Month participants are going through the same joys and sorrows of producing the Great Frantic Novel. Wrimos meet throughout the month to offer encouragement, commiseration, and—when the thing is done—the kind of raucous celebrations that tend to frighten animals and small children.
In 2008, we had over 120,000 participants. More than 20,000 of them crossed the 50k finish line by the midnight deadline, entering into the annals of NaNoWriMo superstardom forever. They started the month as auto mechanics, out-of-work actors, and middle school English teachers. They walked away novelists.
National Novel Writing Month is a fun, seat-of-your-pants approach to novel writing. Participants begin writing November 1. The goal is to write a 175-page (50,000-word) novel by midnight, November 30.
Valuing enthusiasm and perseverance over painstaking craft, NaNoWriMo is a novel-writing program for everyone who has thought fleetingly about writing a novel but has been scared away by the time and effort involved.
Because of the limited writing window, the ONLY thing that matters in NaNoWriMo is output. It's all about quantity, not quality. The kamikaze approach forces you to lower your expectations, take risks, and write on the fly.
Make no mistake: You will be writing a lot of crap. And that's a good thing. By forcing yourself to write so intensely, you are giving yourself permission to make mistakes. To forgo the endless tweaking and editing and just create. To build without tearing down.
As you spend November writing, you can draw comfort from the fact that, all around the world, other National Novel Writing Month participants are going through the same joys and sorrows of producing the Great Frantic Novel. Wrimos meet throughout the month to offer encouragement, commiseration, and—when the thing is done—the kind of raucous celebrations that tend to frighten animals and small children.
In 2008, we had over 120,000 participants. More than 20,000 of them crossed the 50k finish line by the midnight deadline, entering into the annals of NaNoWriMo superstardom forever. They started the month as auto mechanics, out-of-work actors, and middle school English teachers. They walked away novelists.
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