O cabrito não costuma me acompanhar quando vou a Curitiba visitar minha mãe. Não insisto muito... eu mesma tenho preguiça da distância. Mas é minha família, minha cidade, então enfrento corajosamente horas de taxi, sala de espera, avião - ou metro, rodoviária, ônibus, dependendo da verba disponível.
Quando ele se anima, por insuspeitável motivo, vamos de carro e podemos admirar o progresso de nosso querido país, nas suaves oscilações de manutenção da rodovia Regis Bittencourt (engenheiro civil, de prenome Edmundo, segundo a Wikipedia).
O cabrito demora... mas quando se anima, anima tanto que dois anos atrás pegou uma foto da parede - eu penteadinha aos oito anos de idade - colocou na mala e trouxe pra São Paulo, sem pedir pra minha mãe.
Quando em casa mostrou sua proeza, tentei expressar alguma revolta, mas ele só ria.
Dois meses atrás, sua sutileza de gatuno atingiu maior sofisticação.
Minha mãe havia reformado o quarto de hóspedes - trocou colchão, mudou os quadros da parede - e, entre os novos porta-retratos, havia um pequeno, redondo, com minha foto de família preferida.
Uma foto com meus pais, eu e e meus irmãos, posando no quintal da casa do meu avô, pouco antes do divórcio. Todos sorrindo bestamente, de maneira leve e engraçada, como lembro que éramos, antes dos dramas todos de incompreensão e auto-realização que a modernidade ocidental impingiu às pacatas famílias suburbanas.
Comentei com o cabrito que era minha foto favorita, e ficou nisso. Passamos o dia em família, voltamos pra casa, fui trabalhar no dia seguinte, o habitual.
Dias depois, saindo do quarto, vejo o porta-retratos pendurado num cantinho do corredor - discreto, elegante, sustentado por um pequeno prego de aço.
As pessoas, francamente... elas gostam de se divertir.
2 comentários:
Este seu marido deve ser uma figura. rs
ele é, =)
minha mãe ficou uma fera.
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