sábado, 19 de setembro de 2009

O cortiço

Talvez Aluízio Azevedo ande meio desconsiderado. O Hélio Guimarães, no curso sobre Machado, comentou que O cortiço causou muito mais impacto entre os críticos da época que Memórias póstumas, lançados no mesmo ano.

Naturalmente não há comparação entre os dois estilos. Mas gosto muito do Cortiço.

E que final.

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"A negra, imóvel, cercada de escamas e tripas de peixe, com uma das mãos espalmada no chão e com a outra segurando a faca de cozinha, olhou aterrada para eles, sem pestanejar.

Os policiais, vendo que ela se não despachava, desembainharam os sabres. Bertoleza então, erguendo-se com ímpeto de anta bravia, recuou de um salto e, antes que alguém conseguisse alcançá-la, já de um só golpe certeiro e fundo rasgara o ventre de lado a lado. E depois embarcou para a frente, rugindo e esfocinhando moribunda numa lameira de sangue.

João Romão fugira até ao canto mais escuro do armazém, tapando o rosto com as mãos. Nesse momento parava à porta da rua uma carruagem. Era uma comissão de abolicionistas que vinha, de casaca! trazer-lhe respeitosamente o diploma de sócio benemérito.

Ele mandou que os conduzissem para a sala de visitas.

FIM"

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