segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Limas da Pérsia, 4

Mudei o tom do início. Escrever sem ironia é muito cansativo.

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"Eu não tinha trinta anos. Não sabia mais sobre a vida que a faculdade, muito sexo e o desprezo à pobreza me houvessem ensinado. Mas estava velha o suficiente para admirar o impulso juvenil, quando o encontrava.

Tinha sido contratada pela prefeitura de Osasco para uma oficina literária. Comecei com dedicação sincera: depois do divórcio estava surpreendentemente bem arranjada. Apartamento bacana em meu nome, dinheiro no banco para anos sem preocupação. Trabalhar aos domingos não seria grave se tinha a semana agradavelmente vazia. Podia colaborar com a simpática idéia de oferecer atividades culturais à comunidade nas escolas públicas.

Emprestei um carro simplesinho de uma amiga e preparei o material com capricho, entusiasmada em retomar o convívio com minha pobre gente. As paredes vazias, as cadeiras de plástico cinza, o desleixo burocrático do prédio não me assustaram. Eu conhecia aquilo: não deixaria a memória me atrapalhar. A zeladora gorda me ofereceu um café doce e sugeriu que eu trouxesse meu papel higiênico de casa. Achei carinhoso da parte dela."

3 comentários:

júlia disse...

tá muito bom esse último parágafo! galopante. e a ironia no fim ficou ótima. eu que tenho lido o Campos de Carvalho ri como que com ele! beijos.

sabina anzuategui disse...

oi, querida. estou organizando as idéias pra comentar teu livro... preciso talvez desvincular os poemas da imagem virtual que formei de ti.
bjs!

júlia disse...

tô curiosa.
beijo.