quinta-feira, 21 de maio de 2009

Propor novos fazeres

Algumas semanas atrás, ao comentar o artigo sobre as Van Dykes na New Yorker, falei um pouco de passagem a uma amiga:

- O movimento gay nos EUA é muito diferente daqui.

Que respondeu:

- Pra começar ele existe.

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Pesquisando um pouco, tenho a sensação de que a nova geração anda muito melhor do que se esperava.

Não tive paciência para ler todo o texto, de todo modo achei interessante este manifesto no site Parada Lésbica:

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  1. criticar a pornografia hegemônica como lugar de reprodução de violências, especialmente contra mulheres;
  2. criticar a pornografia hegemônica pela separação que faz entre protagonistas do desejo (”homens”) y objetos do desejo (”mulheres”), ao mesmo tempo em que define um tipo muito estreito de desejo;
  3. propor novos fazeres pornográficos, em que a violência contra mulheres não esteja misturada às esferas de produção y execução pornográfica;
  4. pensar pornografias que dêem conta dos desejos das mulheres: quem somos? que corpos temos? como gozamos? com quem gozamos? o que nos dá tesão? que tipo de representação podemos fazer a partir dessas descobertas etc
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Ok, panfletos são panfletos. Quem checar os links eróticos do site vai entender com mais clareza.

4 comentários:

Paulodaluzmoreira disse...

Sabina,
Saiu numa New Yorker recente um outro artigo que da o que pensar - nao eh sobre lesbicas mas sobre sexualidade feminina. Eh uma resenha detalhada do livro "Bad Girls Go Everywhere" que eh sobre Helen Gurley Brown, a editora que transformou a Cosmopolitan [precursora, digamos assim, das revistas tipo Nova] com um discurso [daqui pra frente quem fala sou eu - tanto a autora como a resenhadora acham o discurso da Cosmopolitan "empowering", termo que ja me causa profunda desconfiança] feminista neo-liberal.

sabina anzuategui disse...

vou tentar ler o artigo, o assunto me interessa.

de todo modo, se você desconfia de "empowerment", o que dizer da versão brasileira "empoderamento"?

minha tia trabalha na área médica. eles usam essa expressão, por exemplo - "empoderamento de gênero" - como orientação p/ o/a ginecologista, ao tentar convencer a mulher (paciente) que ela tem direito de exigir que o parceiro use camisinha.

algo que parece evidente, mas não é.

Paulodaluzmoreira disse...

Eu acho que esses termos sao muito falseadores, acabam representando uma promessa impossivel, falsa ate, principalmente porque sao termos geralmente aplicados a atos simbolicos as vezes meio frivolos. Exagerando: em que medida eu nao estou sendo hipocrita quando digo a uma mulher negra da classe operaria americana num pais em processo avancado de "desindustrializacao" que estou dando poder a ela colocando a Oprah Winfrey na capa da minha revista de moda?
Qdo dei aula aqui sobre um conto super-duro do Graciliano Ramos ["Um Cinturao"] chamei a atencao dos alunos para isso: "isso eh que eh um regime familiar patriarcal, em que o homem nao eh o genitor, mas o proprietario da familia". Qdo as pessoas aqui começam a dizer que o sujeito que deixa a tampa da privada levantada eh um opressor patriarcal, eles tiram todo o peso da palavra, entende? O problema de opressao de genero eh serissimo no mundo inteiro mas nao da para convencer ninguem da seriedade do problema falando de tampas de privadas como gestos de empoderamento. Nesse pto eu sou bem marxista: oportunidade de emprego igual, salarios iguais, combate ativo a discriminaçao. Saiu, por exemplo, uma pesquisa aqui nos EUA sobre professores universitarios jovens e as disparidades entre homens e mulheres continuam gritantes - agora as universidades tem que fazer alguma coisa sobre o assunto.

sabina anzuategui disse...

sim, concordo totalmente que diante de certos horrores materiais, o discurso sobre a tampa da privada se torna frivolo.

aliás, quando a discussão envolve o penis como simbolo opressor, tudo me parece uma grande bobagem...

mas há algo na questão da imagem que não é banal: de fato, as pessoas se moldam por imagens de tv, cinema e imprensa privada, e nem sempre é fácil se manter confiante na comparação.