quarta-feira, 15 de abril de 2009

Almas transparentes

Respondendo ao Paulo, este é o trecho que estranhei no artigo de Cynthia Ozick:

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"Qual é o verdadeiro significado da "loucura da arte" [referência a Henry James]? Arremedo, impostura, falsificação, faz-de-conta - mas não o verdadeiro arremedo, impostura, falsificação ou faz-de-conta do contador de histórias inventivo, que transporta seu leitor. Não: a arte, em lugar disso, enlouquece quando busca o rosto falso da distração desejosa. O escritor fraudulento é aquele que é visível, que busca a multidão, que fala para a multidão, aquele que sai para jantar com você com um objetivo em vista ou que fica parado conversando com você ou que discute hábitos mútuos de escritor com você ou que troca fofocas com você sobre outros romancistas e sua boa sorte invejável ou seu azar gratificante.

Se tudo isso é fato - e é fato -, então como poderia um jovem candidato a escritor aspirar entrar para as fileiras dos invisíveis apaixonadamente fantasmagóricos? Como conservar uma cobiçada invisibilidade clandestina e autêntica?

(...)

A loucura da arte - e, mais uma vez, contradigo Henry James de bom grado - não está na arte, mas na multidão insensata e alucinante, em que toda espécie de visibilidades se acotovelam, enquanto os fantasmas se sentam sozinhos diante de suas mesas e escrevem e escrevem e escrevem - como se disso dependesse a necessária transparência de suas almas."

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Resumindo friamente: "necessária transparência de suas almas"? "invisibilidade clandestina e autêntica"?

Ok, o mundo atual de Big Brothers é um tanto cansativo. Mas não sinto saudades do mito da torre de marfim.

Até simpatizo com esse vil escritor que "troca fofocas com você sobre outros romancistas".

Um comentário:

Paulodaluzmoreira disse...

Agora eu entendi. Sabe o que me pareceu? Esse texto parece exprimir o lado masoquista puritano da cultura americana que as vezes fica um pouco oculto fora daqui por causa do outro lado, o do hedonismo consumista. Alias a cultura americana eh mesmo esquizofrenica: de um lado uma industria pornografica gigantesca e do outro esse culto elegante e frio ao sublime da arte. A cultura americana vive sempre oscilando entre uma orgia e um linchamento. Eu tbm nao acredito nessa superioridade moral do artista que paira acima do mundo em que vive - mesmo porque no terceiro mundo [na maior parte do mundo] esse tal artista invisivel vive de que?
E alem do mais no começo de tudo tem um outro problema que eh essa definiçao capenga de loucura como perversao. Louco eh quem se entrega aos prazeres do mercado? Se quiser, chama de babaca, de vendido, de sem-vergonha, mas de louco? Acho que seria bom para ela largar o Henry James um pouquinho e ler "O Alienista" do Machado...