terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Nem amena nem ausente

Comecei a ler Tradiciones del hogar, de Teresa Lamas.

O nome completo da autora era Teresa Lamas Carísimo de Rodrigues Alcalá. Tantos sobrenomes vêm do costume da família, orgulhosa de sua origem genealógica. Conforme me explicaram, Assunção foi fundada pelos primeiros espanhóis que chegaram no território argentino no século XVI (ou XVII?). Foram quatro navios, atacados e destruídos pelos índios. Os sobreviventes fugiram e alguns, subindo o rio da Prata, acabaram onde hoje está Assunção. Os guaranis ali não eram agressivos. Deixaram os espanhóis fundarem seu povoado.

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Parece que houve uma guerra civil, em 1922-23, contra a capital (os asuncenos). Teresa Lamas foi escolhida entre as mulheres para ser mediadora do conflito. Fez um longo discurso para os rebeldes, pedindo que deixassem as armas: "Compatriotas: nos dirigimos a vosotros en nombre de las damas asuncenas, haciendo una suprema apelación a vuestros sentimientos paraguayos".

Na guerra do Chaco, disputa de território com a Bolívia entre 1932-1935, ela mandou quatro filhos para o combate, costurou para os soldados e trabalhou na Cruz Vermelha, atendendo feridos.

Depois, mais tarde, foi designada presidenta da Ação Católica do Paraguay, "cargo que desempeñará durante largos años, recorrerá regularmente las parroquias de la Arquidiócesis, para fundar nuevos centros y dictar conferencias".

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Em algum momento D. Manuel Gálvez, escritor argentino, escreveu um livro sobre a guerra do Paraguai, Humaitá, dizendo que "por causa del concubinato de Solano López con la Lynch [irlandesa, sua companheira], era casi una ofensa en Paraguay casarse y el gobierno miraba con simpatía los amantes".

Teresa Lamas publica um longo artigo para resgatar "la dignidad ultrajada de la sociedad paraguaya": acusa Gálvez de denegrir propositadamente a honra dos paraguaios, por inveja da bravura de seus soldados, mostrando maldosamente "un estado social despreciable, hasta en su clase representativa más selecta". Afirma que, a despeito do que diz o argentino, "aquella sociedad... no desmerecía un ápice de ninguna otra del Río de la Plata, por la limpieza de sus linajes y el noble decoro de sus costumbres".

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Bem, essa foi a primeira mulher a publicar um livro no Paraguai, "la primera narradora digna de este título, aparecida en el país, desde los tiempos de la problemática Marcelina Almeida y la amena pero ausente Ercilia López de Blomberg".

Orgulho da genealogia, defesa do território, militância católica. Que medo.

Um comentário:

Paulodaluzmoreira disse...

Cruz credo, parece coisa tirada da TFP!