Troquei uns emails com o sr. Pondé e ele foi muito atencioso na discussão. Então me senti um pouco culpada pela agressividade aqui no blog e queria me explicar mais um pouco.
Pelo que entendi, ele se preocupa com o excesso de ciência e lógica na vida cotidiana e sua interferência na vida familiar e privada. Ele defende o direito ao mistério, por exemplo. Acho isso compreensível, embora suspeite que o "mistério" dele seja diferente do meu. Gosto de coisas misteriosas porque são turvas e infinitas, e não considero nada impenetrável. Acredito que o mistério sobrevive mesmo depois da investigação lógica e científica, e a poesia da ciência é justamente essa. Aparentemente, o sr. Pondé gosta do mistério ANTES da investigação. Estou supondo, a partir de seus textos na Ilustrada.
Mas isso não quer dizer que ele seja "mal intencionado". Às vezes escrevemos coisas a partir de nossas preocupações pessoais, e não percebemos que nossas palavras ofendem outros, com outras preocupações, simplesmente porque nunca pensamos neles.
Explicando melhor: por causas pessoais e familiares, me precupo muito com o que minha tia chama de "empoderamento de gênero". É uma tradução tosca de "gender empowerment", acho. Signfica, na área médica, dar poder às mulheres de decidir sobre o próprio corpo. Um poder tanto legal quanto emotivo, pois hoje mulheres têm direito reconhecido a reclamar de agressões, estupro, violência moral em casa e no trabalho, e mesmo assim não o fazem, porque essa agressão já está embutida em nossos sentimentos.
Provavelmente o sr. Pondé, preocupado com sua privacidade pessoal, escreveu o que bem quis SEM PERCEBER que estava sendo muito cruel em relação à questão feminina.
Sem perceber em termos, porque várias vezes ele se declarou CONTRA o feminismo. Novemente, apenas irritado com a superfície do feminismo que atinge a ele, sem perceber que essas arestas são apenas detalhes de uma proposta legítima. Agressões sociais à mulher são fato, não ideologia.
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Por aqui, acho melhor encerrar esse assunto. Está ficando pesado e não quero gastar minha paz espiritual com isso.
5 comentários:
Sabina,
Vc não acha que há uma confusão na cabeça desse cara entre "mistério" e ignorância? Eu acredito no valor do mistério, mas um analfabeto que não consegue entender os documentos que recebeu pelo correio não é um bom exemplo, não acha?
Em segundo lugar, talvez ele esteja superestimando a "inocência" dos jovens e mesmo das crianças de hoje em dia, não? Eu acho que o mistério no sexo pode sobreviver a qualquer aula de educação sexual. O grande inimigo do mistério nos nossos tempos são os caras que inventam coisas como "a mulher melancia" ou o programa do Gugu. Porque não há mistério que sobreviva à imbecilidade...
Concordo, principalmente sobre a inocência das crianças. Nem acho que ele superestime; talvez simplesmente não queira ver.
Assunto delicado, que fica chatinho quando muita gente mete o bico =P
Sou de uma família super-ultra-religiosa, e lembro de ter aulas de educação sexual no colégio - ok, minha professora era uma senhora de idade que nem de longe aparenta ser maníaca sexual.
Enfim, essas aulas eram "reforçadas" em casa com a idéia de que os ensinamentos sobre planejamento familiar não estavam de acordo com a lei de Deus, que camisinha era pecado, que sexo antes do casamento era pecado, que blog era pecado, rssss, por ai vai.
Não estudei em colégio religioso por opção dos meus pais, que não queriam que eu criasse raiva das freiras. Mas há pais que colocam seus filhos nessas escolas (que andam ensinando até criacionismo, vê se pode), e o Sr.Pondé considera que elas são "perigosas" para a sociedade como um todo.
A meu ver, é como achar "perigoso" o fato de a Igreja católica proibir o uso de preservativos. Cá pra nós, as pessoas não os usam, mas não porque a Igreja manda. A Igreja condena o sexo antes do casamento. Cá pra nós, as pessoas não são mais virgens, e NÃO É PORQUE A IGREJA DIZ PRA SER ASSIM.
Concordo que o Estado é laico, as escolas não precisam ensinar religião misturada com ciência, mas para aquelas que ensinam ... se os pais dessas crianças não têm noção nem preocupação com a possivel alienação de seus filhos, porque devemos ter?
Cansei...
Quando perguntei ao meu pai [ateu] porque ele tinha posto os filhos para estudar num colégio de jesuítas ele disse: "não há lugar melhor para se formar um ateu convicto!"
Pois é, só pra encerrar esse assunto e respondendo à Mari, acho que a situação é bem simples: o governo deveria incluir um básico de educação sexual nas escolas porque, para o governo, que também é responsável pelo sistema de saúde, ensinar prevenção é mais simples que lidar com as consequencias médicas e sociais de filhos indesejados. Tudo isso em teoria, claro, no caso do governo brasileiro.
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Quanto ao mais, vou virar a página e fazer um novo blog que tenho planejado há algum tempo. Tcham-tcham-tcham-tcham. Aguardem.
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