Hoje coloquei no Sete Linhas o pedaço de uma crônica recusada pela TPM. Na época eu participava da coluna "Casada / Solteira" e pensei que falar de um namorado, ainda que não fosse marido, era parte da idéia de casar: formar um ninho, como está no texto.
A editora não concordou, e o texto ficou na minha pasta sem leitores. Hoje dei uma olhada e me pareceu simpático, então segue na íntegra:
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"Ele foi meu primeiro namorado, eu achava que lembraria para sempre a data de nosso aniversário, tinha certeza de que não conseguiria sobreviver se ele me deixasse. Mas... um dia o namoro terminou, e hoje não consigo lembrar, por mais que tente, qual era a data em que comemorávamos nosso primeiro “beijo bêbado”. Mas era inverno. Sei disso porque não esqueço o frio da primeira noite em que dormimos juntos. Estávamos namorando fazia um mês, eu tinha um colchão novo mas meu edredom era de solteiro e não conseguia cobrir os dois. Ele dormiu na minha casa porque quis (eu não convidei). Esse era o signo de que estávamos namorando de fato. Foi só depois dessa noite que comprei uma coberta decente nas casas Pernambucanas.
Eu morava de maneira improvisada numa casa de fundos, dividindo o espaço com três amigas para que cada uma tivesse “sua privacidade” (ou seja, um lugar para transar). A casa tinha dois quartos, e como fui a última a chegar na república, sobrou a sala para mim - com chão de lajota, gelado de doer. O inverno foi chegando mas eu tinha meu método todo próprio para a aquisição de bens de cama-mesa-e-banho, que era na verdade minha maneira de construir um ninho. Quando cheguei na casa, dormia em cima de um edredom. Eu sabia que precisava comprar mais coisas, mas o dinheiro era pouco e fiz a seguinte promessa: se o Gabriel (objeto da minha paixão) ficasse comigo, eu comprava um colchão. Comecei a relacionar minhas compras com a evolução do nosso namoro. Se ficasse solteira, eu pensava, preferia usar meu dinheiro com coisas mais importantes, como roupas, cerveja e pizza no bar da esquina. Mas se ele quisesse namorar comigo, então eu podia abrir mão de algumas baladas e comprar um colchão, um travesseiro extra, uma xícara a mais.
O frio este ano me faz lembrar essa história, principalmente quando minhas amigas falam de suas pseudo-terapeutas que só repetem que tudo é sintoma de baixa auto-estima. Também faço terapia e curto o processo, mas essa história de auto-estima me enche a paciência. Ok, eu dormia no chão e só comprei um colchão por causa do Gabriel. Isso significa que eu não gostava de mim mesma? Sinceramente, acho que as coisas não são bem assim."
2 comentários:
achei legal sim.
Vc. entrou em meu blog e disse ter gostado dos texto , muito bem ~. Vão acontecer muitos outros. Tenho um projeto de escrever um,livro. Seus escritos me encantam , todos, pela sensibilidade e pelas entrelinhas que percebi. Gosto muito também do assunto dos anos 70 que correspodem ao tempo de minha juventude. Tempos de muitas mudanças. Sou uma pessoinha sem brilho e sem arte perdida nesse Brasilzão. Espero contar com seus comentários, ficarei muito grata.
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