Depois dos conflitos da primeira noite, estou simpatizando com as galinhas.
São mais pacíficas que cachorros: ficam ciscando pelo quintal, os pintinhos correndo atrás, o galo pescoçando. Meu pai precisa matar os machos regularmente, quando crescem, porque o equilíbrio natural só funciona com um galo por quintal.
Fiquei no sofá, de manhã, assistindo Wandi Doradiotto num daqueles shows diurnos do Sesc, um samba simpático sobre um operário feliz da vida porque namora a mulher do patrão. Então tentei me imaginar criando galinhas e tendo que matá-las para evitar a superpopulação. Se o ato violento é um complemento indispensável daquela paisagem pacífica no quintal, como matá-las e evitar para si mesmo a imagem de violência? Tendo uma pia especial para isso? Lavando direitinho, tratando a galinha com carinho na hora do abate?
Então entendi o sentido da comida kasher. Deve ter sido estranho, para essas pessoas que queriam acreditar em ética, justiça e bondade, reconhecer que precisamos matar os outros para sobreviver.
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Relendo o texto, me pareceu uma metáfora da situação em Israel. Realmente, não foi minha intenção.
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