quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Mais barata e igual

Tive pouco tempo livre nesta semana e não escrevi nada fresco. Segue mais um trecho do livro, para criar ainda maior confusão nesse mosaico mental:

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"Lílian Maia era a menina mais exibida do Colibri e tinha amigas que imitavam tudo que ela fazia. Não era exatamente chata, mas não me animava. Me irritava um pouco sua mania de mostrar as roupas e falar de maquiagem a toda hora. Diziam que sua mãe era modelo quando jovem, mas eu nunca soube direito. Agora aparentemente estava interessada em estudar: contou animada sobre sua escola nova, um colégio grande, “o melhor do Paraná”, segundo seus pais, porque era “exigente”. Minha mãe não gostava desse tipo de colégio “decoreba”. A turma de Lílian na quinta-série tinha quarenta e cinco alunos (a nossa, vinte e dois). Na semana anterior ela teve semana de provas: recebiam uma folha de questões e anotavam as respostas num cartão separado, como no vestibular. Tudo o que eles faziam já era uma preparação para o vestibular, Lílian disse: "foi meu professor de matemática quem falou."

Lílian sempre falava de suas coisas novas: as roupas, os brinquedos, o carro conversível de seu pai, e agora o colégio. Quando conversávamos, eu tentava elogiar as coisas da minha família, nem novas nem caras, mas originais (eu acreditava). “Meu pai não quer um carro novo, porque está economizando para viajarmos para o Chile”. “Minha mãe fez fantoches de pano e sabe fazer origami”. As meninas do condomínio se dividiam entre aquelas que concordavam com Lílian e outras, poucas, que concordavam comigo. Eu falava empolgada sobre os fantoches da minha mãe mas sentia, sem dizer, que seria bom ter brinquedos modernos e um carro novo e todas as coisas que Lílian Maia tinha. Quando estava em casa, pedia para minha mãe comprar certas coisas. Mas ela sempre respondia do mesmo modo: “Por que você quer a boneca da Estrela? Esta aqui é mais barata e igual.” Eu dizia “não é igual, mãe”, mas ela não se convencia. Para ela eram mesmo iguais."

2 comentários:

Denise disse...

no fim, bonecas são só bonecas, mesmo. a parte o apego emocional e as bonecas da estrela, que viram gente-estrela nas mãos das meninas.
engraçado que quando eu era criança, gostava de brincar com uma boneca americana, que minha me emprestava para brincar.
a boneca era um tipo de bebê recém-nascido muito verdadeiro, mesmo, quase real.
e no fim, era só mais uma boneca, muda e sem expressão. que ironia...

um beijo, Sabina.

Denise disse...

*minha madrinha emprestava a boneca